Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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GRUPO DE MOVIMENTO TERAPÊUTICO, O EXERCÍCIO FÍSICO COMO ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO NA SAÚDE MENTAL
Raquel Cristina Braun da Silva, Tatiane Motta Costa e Silva, Franciele Machado Santos, Stephanie Jesien, Rodrigo Souza Balk

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Ao longo da história da Saúde Mental há diversas mudanças na forma de compreender, diagnosticar e tratar indivíduos com transtornos psíquicos e/ou dependentes químicos, passando de uma visão de loucura com um aspecto demoníaco até a compreensão dos transtornos. Estes indivíduos possuem o direito de serem assistidos em um sistema comunitário de saúde mental que tenha como foco desinstitucionalização, reabilitação psicossocial e reinserção social (BARBOSA; SILVA, 2013). O cuidado deve ser realizado Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que oferecem acolhimento diurno e/ou noturno, dependendo de sua especificidade. Um CAPS II deve atender pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, podendo também atender pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, conforme a organização da rede de saúde local (PORTARIA 336). Transtornos mentais causam alterações de comportamento e relacionamento interpessoal, porém também podem causar incapacidade física. Dentre as alterações físicas pode-se citar redução de equilíbrio e motricidade ampla e fina, fraqueza muscular, alterações de postura e marcha resultando em redução da capacidade funcional, também apresentam devido ao sedentarismo debilitada capacidade aeróbica e alta propensão para a síndrome metabólica que por sua vez, aumenta a morbidade destes transtornos (FOGARTY; HAPPELL, 2005). A fisioterapia tem como propósito o estudo do movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, tanto nas suas alterações patológicas, quanto nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgão, sistema ou função (ROEDER, 1999). Dessa forma, segundo o COFFITO os exercícios físicos devem ser uma abordagem terapêutica praticada pelo fisioterapeuta dentro de objetivos específicos para melhorar o quadro funcional do usuário de Saúde Mental, embora o fisioterapeuta ainda não seja um profissional comumente visto nesses serviços. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de um fisioterapeuta residente em saúde mental através de um grupo terapêutico baseado em exercícios físicos e também os efeitos destes exercícios na saúde e bem-estar dos usuários. METODOLOGIA: Trata-se de um relato de experiência de um grupo terapêutico aberto, denominado Grupo de Movimento Terapêutico, realizado entre maio e agosto de 2015, com usuários de um CAPS II. Participam deste grupo uma fisioterapeuta residente, uma professora de educação física residente e um profissional do serviço. Os critérios utilizados para a escolha dos usuários foram: a) apresentar alguma queixa relacionada á alteração física; b) ter interesse em praticar exercício físico; c) apresentar compreensão e capacidade de realizar os exercícios propostos; d) não apresentar nenhuma contra indicação. Inicialmente os usuários foram avaliados individualmente, através de uma ficha de avaliação elaborada pelas residentes, onde constava: a principal queixa, história da doença atual e pregressa, medicamentos utilizados, nível de atividade física, amplitude de movimento ativo e passiva, força muscular (grupos musculares), testes de coordenação motora (index-naso, calcâneo-joelho e pinças), equilíbrio (sinal de Romberg), ausculta pulmonar, pressão arterial e avaliações específicas de acordo com a queixa do usuário. A partir daí foi traçado um protocolo de exercícios benéficos a todos os usuários do grupo, levando em consideração as limitações e potencialidades individuais. Contando com alongamentos musculares, exercícios respiratórios, exercícios ativos livres, resistidos e isométricos para membros superiores e inferiores, exercícios para musculatura abdominal, para vertebrais e períneo, treinamento de equilíbrio e coordenação motora e relaxamento. Ao final de cada dia, os usuários foram questionados sobre como a participação neste grupo impactou nas suas atividades de vida diária e condição física, além das sensações percebidas durante e após a realização do mesmo. Após seis meses de participação ativa no grupo, os usuários serão reavaliados com o intuito de verificar se houve melhora física e quantificá-la. RESULTADOS: Participaram do grupo em média 10 usuários, a maioria mulheres com mais de 45 anos. Ao analisar os prontuários dos participantes, a maioria é diagnosticada com depressão, embora transtorno obsessivo compulsivo, transtornos de ansiedade e esquizofrenia também estivessem presentes. De acordo com Pelisoli e Moreira (2005) verificou-se que nos sujeitos do sexo masculino acompanhados em um CAPS os diagnósticos predominantes são de esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante; retardo mental; transtornos do desenvolvimento psicológico; e transtornos emocionais e de comportamento, enquanto que nos sujeitos do sexo feminino, apresenta maiores índices de transtornos de ansiedade e de humor. As queixas mais frequentes foram de mioalgias, má postura, dificuldades de equilíbrio, dispnéia a médios esforços e dificuldades para deambulação. O sedentarismo em usuários de saúde mental pode causar aumento dos níveis de ansiedade, depressão, raiva, tensão, da fadiga muscular e diminuição do afeto positivo (REUTER et al., 2007).  Além disso, Souza et al. (2008), verificaram em seu estudo que o uso dos antipsicóticos atípicos podem provocar efeitos colaterais neurológicos, cardiovasculares, endócrinos, e musculoesqueléticos, como aumento de peso,   dislipidemias, síndromes metabólicas e diabetes, discinesia, tardia, acatisia e distonia, ataxia, atrofia e fraqueza muscular, afetando diretamente a capacidade funcional do indivíduo. A primeira tarefa dada aos usuários foi a criação de um nome fantasia para o grupo, que deveria representar suas expectativas e objetivos, todos os usuários deram uma sugestão e foi feita votação, o nome escolhido foi “Vencendo Limites”, o que denota a vontade de superarem suas próprias limitações a cada dia. Ao final de cada dia os relatos foram de sensação de bem estar, melhora no humor e socialização, redução de algias, melhora na consciência corporal e respiratória resultando em maior capacidade funcional. O estudo Oliveira et al. (2011) demonstrou que a atividade física na saúde mental produz efeitos positivos como o bem-estar físico, emocional e psíquico, redução do estresse, do estado de ansiedade e abuso de drogas, redução de níveis leves e moderados de depressão. Há várias explicações para estes efeitos, Pelusoet al. (2005), abordam que várias hipóteses psicológicas têm sido propostas para explicar os efeitos benéficos do exercício físico na saúde mental: a principal delas é a distração, seguida da autoeficácia, e da interação social. Também abordam hipóteses fisiológicas como o aumento da transmissão de monoaminas e da produção de endorfinas. Já que a fisioterapia como tratamento complementar pode melhorar a saúde física, mental e a qualidade de vida a Organização de Fisioterapia em Saúde Mental recomenda que os fisioterapeutas sejam treinados para reconhecer e tratar adequadamente os sintomas de doença mental grave. O que permanece sendo um desafio para os serviços de Saúde Mental, Universidades e profissionais, pois normalmente a atenção a usuários de saúde mental não está inclusa em currículos da fisioterapia e ainda há carência de dados na literatura sobre intervenções nesta área. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Através da experiência obtida neste grupo e pelos relatos existentes na literatura, pode-se notar que exercícios físicos importantes no tratamento de transtornos mentais, trazendo muitos benefícios psicológicos e físicos, desde que bem orientados e direcionados a necessidade do usuário, o que evidencia a importância da inserção do fisioterapeuta na equipe de cuidado em saúde mental.

Palavras-chave


Exercício; Fisioterapia; Saúde Mental

Referências


1-     BARBOSA, E. G.; SILVA, E. A. M. Fisioterapia na Saúde Mental: Uma Revisão de Literatura. Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU 3, 12-30, 2013.

2- BRASIL. Portaria/GM nº 336, de 19 de Fevereiro de 2002. Define e estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial. Estes serviços passam a ser categorizados por porte e clientela, recebendo as denominações de CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad. Documento fundamental para gestores e trabalhadores em saúde mental. Brasília, DF, 2002. Disponível em: < http://www.maringa.pr.gov.br/cisam/portaria336.pdf >. Acesso em 09 de set. 2015.

3-     COFFITO: Resolução Nº 259 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. [Acessado em 9 set. 2015] Disponível em: <http://www.coffito.org.br>.

4-     OLIVEIRA, E. N., AGUIAR, R. C., ALMEIDA, M. T. O.; ELOIA, S. C., LIRA, T. Q. Benefícios da Atividade Física para Saúde Mental. Saúde Coletiva, 8, 126-130, 2011.

5-     PELISOLI, C. L., MOREIRA, A. K. Caracterização epidemiológica dos usuários do Centro de Atenção Psicossocial Casa Aberta. Revista de Psiquiatria, 27, 270-277, 2005.

6-     PELUSO, M. A. M.; ANDRADE, L. H. S. G. Physical activity and mental health: the association between exercise and mood. CLINICS,60, 61-70, 2005.

7-     REUTER, D. S., MOURA, F. P., BARBOSA, E. G. Os Efeitos da atividade física sobre os transtornos depressivos e ansiedade. [Artigo de pesquisa apresentado ao Curso de Fisioterapia da UNIVALE, como requisito parcial para aprovação na disciplina Monografia].

8-     ROEDER, M.A. Benefícios da atividade física em pessoas com transtornos mentais. Rev. Atividade física em saúde, 4, 62-76, 1999.