Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Atuação da Residência Multiprofissional em Saúde na Atenção Básica do Subsistema de Saúde Indígena de Dourados-MS: Um Relato de Experiência
Cristiane Maria de Andrade, Thais Jessica Reis Forster, Natalia Ramos Shiromoto, Juliana Nugoli Zago, Hayanna Alves Motta
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem como princípios a integralidade, a universalidade e a equidade, caracterizadas por ações de prevenção, promoção e proteção da saúde, considerando o contexto social do usuário e da comunidade. Esses princípios, junto a Primeira Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio em 1986, culminou na criação de um Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI), através da Lei nº 9836/99, incluindo este dispositivo à Lei nº 8080/90. Com esse subsistema, foi institucionalizado o agente indígena de saúde como parte integrante da equipe de saúde da atenção básica nas comunidades indígenas, sendo uma singularidade necessária a esta população dessa forma, é necessário que haja capacitação para todos que trabalham com saúde indígena. No Brasil há uma variedade de etnias indígenas que são englobadas nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs). Estes possuem postos de saúde nas aldeias, Pólo-base, Casa de Apoio à Saúde do Índio (CASAI) e ainda equipe multidisciplinar de atenção básica à saúde indígena, sendo que os serviços de média e alta complexidade são referenciados nos serviços do SUS. A Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) se caracteriza por uma estratégia de transformar a organização dos serviços, o processo de formação, as ações de saúde e as práticas pedagógicas implicando na articulação entre instituições formadoras e o sistema de saúde. A equipe multiprofissional busca um cuidado integral e os desafios vivenciados levam a discussões sobre a necessidade de um cuidado ampliado para que seja eficaz. Este trabalho tem sido considerado uma estratégia de qualificação de serviço, considerando que esta forma de cuidado também modifica as relações interpessoais implicando em novas formas de realizar o cuidado em saúde que interfiram diretamente no cuidado saúde-doença. Assim, considerando o princípio da universalidade do SUS, foi incluído o estágio no SASI por um programa da RMS, com intuito de compreender de modo integral a cultura indígena e atuar com maior conhecimento em estratégias de proteção, promoção e recuperação da saúde desses usuários. Este trabalho trata de um relato de experiência vivenciada durante um mês por uma equipe da RMS, com ênfase na Atenção Cardiovascular, composta por duas psicólogas, duas nutricionistas e uma enfermeira, em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de uma aldeia em Dourados/MS. Deste modo, objetiva-se demonstrar as percepções e vivências da equipe, além de discutir a importância de se conhecer a cultura indígena a fim de realizar um trabalho integral e ampliado, respeitando as crenças e valores da população, para melhor assistência. Durante o período de estágio, as residentes tiveram a experiência de vivenciar o trabalho de duas UBS do SASI, além da CASAI. Sendo assim, cada profissão participou de atividades específicas de seu campo de atuação, sendo realizados trabalhos em grupo, com discussões e pensando em intervenções multiprofissionais, de modo a ampliar e a assistência. As nutricionistas tiveram a oportunidade de participar da pesagem mensal com as crianças de até 5 anos de idade para o monitoramento do estado nutricional. Durante estas pesagens as mães eram orientadas a respeito da amamentação, da ingestão de água, alimentação complementar da criança, e desnutrição infantil, ainda nas pesagens as crianças que com idade entre 6 a 59 meses recebiam megadoses de vitamina A, de acordo com o Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A, sendo entregue o Sulfato Ferroso para as crianças entre 6 a 24 meses de idade, de acordo com o Programa Nacional de Suplementação de Ferro, sendo as mães orientadas quanto a uma alimentação rica em ferro e vitamina A. Além disso, foi possível fazer parte das consultas ambulatoriais nas quais havia o acompanhamento principalmente crianças desnutridas ou em risco nutricional, visando à recuperação do estado nutricional das mesmas. Eram atendidos também pacientes que procuravam por atendimento nutricional e crianças que por algum motivo estavam em aleitamento artificial. Foram acompanhadas ainda visitas domiciliares às casas dos usuários conforme a demanda, sendo possível observar o cotidiano e a situação socioeconômica desta população, e realizar orientações e atendimento nutricional a essa população. Por parte das psicólogas eram realizadas visitas domiciliares, junto ao psicólogo da equipe da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), conforme as demandas surgiam, sendo atendidos casos de abuso sexual, uso de drogas, vítimas de violência, entre outros. Foram realizados acolhimentos psicológicos aos usuários que se dirigiam à UBS, acompanhamento dos atendimentos ambulatoriais com o psicólogo da instituição e, também, acompanhamentos das consultas psiquiátricas na CASAI. As psicólogas também acompanharam a pesagem mensal das crianças, realizando orientações com as mães e buscando conhecer a população, de modo a compreender a cultura, as crenças e o cotidiano, por meio de entrevistas. A enfermagem é uma arte humanisticamente aprendida e uma ciência que enfoca nos comportamentos das pessoas, funções e processos direcionados na promoção e manutenção nas situações de saúde ou recuperação da doença é essencialmente uma profissão de cuidado transcultural. Centra em prover um cuidado humano, respeitando seus valores culturais e estilo de vida. A Enfermeira residente pôde participar do dia D vacinação contra a poliomielite, Campanha Nacional, onde a Enfermeira analisava a situação da caderneta de vacina, sendo de grande importância, já que foi possível além de realizar a vacina oral antipoliomielite (VOP), ou vacina inativada poliomielite (VIP) também a atualização do esquema vacinal de todas as crianças. É importante ressaltar que na semana que antecedia o dia D vacinação a equipe se deslocava até micro áreas, onde já realizava o trabalho de pesagem e vacinação dessas crianças, e dessa forma era possível aproximar-se do ambiente onde morava esse usuário, permitindo conhecer verdadeiramente a realidade de cada um, realizando orientações com o intuito de prevenir as doenças prevalentes da infância. Cabe ao profissional de saúde a difícil missão de acolher a criança e seu acompanhante, compreender a extensão do problema que a aflige e propor procedimentos de fácil aplicação e comprovada eficácia. Foram realizadas consultas de enfermagem, pela enfermeira residente, em que era possível desenvolver Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), que tem por finalidade promover uma rápida e significativa redução da mortalidade infantil. Além disso, foram feitos atendimentos diários voltados para programas de saúde da mulher, como coletas de preventivo, acompanhamento e atividades educativas em grupos de pré-natal e puerpério, além das visitas domiciliares. A vivência do estágio em campo proporcionou à equipe multidisciplinar de saúde a oportunidade de observar e entender a maneira que surgem e se processam os problemas na instância local, para depois analisar as especificidades e características comuns em um contexto territorial maior. Foi possível observar a situação socioeconômica dessa comunidade e compreender as dificuldades que muitas vezes encontrávamos no hospital. Desse modo, ampliamos nossa visão acerca do que é saúde e de como fazemos saúde em nossa vivência enquanto residentes. Esta experiência nos trouxe maior conhecimento para atender de forma mais humanizada os pacientes indígenas, de modo que tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre sua cultura. Durante este mês de vivencia, pudemos observar a importância da atuação de equipes multiprofissionais na atenção básica da saúde indígena, de modo que o indivíduo pode ser visto como um todo, tendo como resultado a saúde, compreendida enquanto bem estar biopsicossocial.
Palavras-chave
integralidade da assistência multiprofissional residencia multiprofissional saúde indígena saúde
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