Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Reflexões sobre práticas sexuais, de acesso e uso do preservativo masculino por adolescentes e jovens de uma escola pública de Campo Grande-MS
Léia Conche Conche da Cunha, Maria Celina Recena, Mara Lisiane dos Santos

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este resumo relata uma pesquisa que buscou conhecer as práticas sexuais e de acesso e uso do preservativo masculino por adolescentes e jovens de uma escola pública de Campo Grande/MS, com o objetivo de fornecer subsídios para ações educativas em relação à abordagem de educação sexual nas escolas, bem como de identificar e avaliar as estratégias de acesso ao preservativo por adolescentes e jovens. Constituiu parte da dissertação de mestrado de uma das autoras, apresentada ao Mestrado Profissional em Saúde da Família, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Fiocruz – Mato Grosso do Sul. Foi pautada pelas questões éticas da Resolução nº. 466, de 12 de dezembro 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ministério da Saúde, que normaliza as pesquisas envolvendo seres humanos. Observa-se nos últimos anos aumento do número de pessoas infectadas com o vírus do HIV na faixa etária de 13 a 19 anos no Brasil. Outro alerta é que mesmo adolescentes e jovens tendo elevado conhecimento sobre as formas de prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, ainda verifica-se tendência de crescimento do HIV entre eles. Outra preocupação está relacionada ao número de gravidez na adolescência que em algumas regiões do município de Campo Grande ultrapassam a 30% das gestações registradas pelo sistema único de saúde (SUS). O preservativo apresenta-se neste contexto como a tecnologia mais segura na prevenção das IST e também para prevenir a gravidez indesejável.  Sendo assim, o estímulo, a oferta e o acesso aos métodos de prevenção são demanda prioritária da atenção básica para a garantia da saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e jovens no Brasil, conforme os princípios e diretrizes do atendimento ao público em questão. DESENVOLVIMENTO: A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2014, com aplicação de um questionário, respondido por  63 alunos,  com idade entre 14 e 23 anos de idade, referente  às características sóciodemográfica, práticas sexuais, acesso e uso do preservativo masculino.  Passou por análise estatística, utilizando-se o programa estatístico SigmaPlot, versão 12.5, considerando um nível de significância de 5%.   Resultados: De forma geral, a maior parte dos alunos entrevistados era do sexo feminino (79,4% - n=50), tinha entre 14 e 19 anos (84,1% - n=53), estava solteiro ou namorando (87,3% - n=55), cursava o 2º ou o 3º ano do ensino médio (69,8% - n=44), estudava no período matutino ou noturno (87,3% - n=55), era de etnia parda (65,1% - n=41), era evangélico (58,7% - n=37), apresentava renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos (65,1% - n=41), não trabalhavam (69,8% - n=44) e moravam com os pais (mãe: 74,6%; pai: 50,8% - n=32) ou irmãos (65,1% - n=41). Com relação às práticas sexuais, acesso e uso do preservativo masculino e passaram pela análise estatística, identificou-se que 52,4% (n=33) dos participantes, ainda não tinham iniciado a vida sexual e os demais 47,6% (n=30), sim. Destes, 33,3% (10) usavam camisinha em todas as relações sexuais; 40% (n=12) usavam mais da metade das vezes que tinha relações; 6,7% (n=2) em menos da metade das vezes; e 20% (n=6) nunca usavam. Nesse grupo, os motivos mais citados para não usar camisinha foram: não ter dinheiro para comprar (93,3% - n=28); a parceira ou a respondente usar anticoncepcional (36,7% - n=11); e não ter camisinha na hora “H” (n=33,3% - n=10). 57,1% (n=36) dos adolescentes e jovens receberam orientação sobre o uso adequado do preservativo e 41,3% (n=26) não receberam nenhuma informação. Ainda, 46% (n=29) disseram que sabiam colocar corretamente a camisinha masculina, enquanto que 38,1% (n=24) relataram não saber ou tinham dúvidas em colocar a camisinha. Em relação às atitudes tomadas pelos adolescentes e jovens ao precisar de preservativo, as mais relatadas foram: compro na farmácia (55,6%, n=35); pego no posto de saúde (22,2%, n=14); e pego com um amigo (9,5%, n=6). A maioria dos alunos acha importante facilitar o acesso da camisinha aos adolescentes e jovens (93,7%, n=59), porém, boa parte deles respondeu que não recebeu ou pegou preservativos na unidade básica da saúde da família (UBSF), nos últimos 12 meses (69,8%, n=44) e 93,7% dos entrevistados acham importante o acesso ao preservativo para adolescentes e jovens.   CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os dados mostram que a maioria dos adolescentes e jovens não se previne adequadamente das infecções sexualmente transmissíveis e de gravidez indesejada. Muitos apresentam dúvidas em relação à colocação do preservativo masculino e em geral o adquirem em farmácias e, portanto, dependem de recursos para tal, não  buscando nas UBSF que tem distribuição gratuita, mesmo tendo conhecimento da disponibilidade do insumo de prevenção nas unidades básicas de saúde.  Verificou-se ainda que os adolescentes banalizam a transmissão de IST, apresentam dúvidas relacionadas a colocação adequado do preservativo e dificuldade de acesso ao insumo de prevenção. Fato que promove a manutenção das estratégias existentes de acesso ao preservativo, bem como de atitudes resistentes às novas tecnologias e às estratégias simples de acesso. Sendo assim, o cenário, aponta para a importância de desenvolver e fortalecer projetos de educação sexual que promovam reflexões e informações claras e atualizadas sobre o risco de IST, transmissão vertical, métodos de prevenção e contracepção e sua eficácia, dentre outras. Essas discussões são legítimas e asseguradas pela Lei de Planejamento Familiar. Mesmo que o atendimento para adolescentes não seja abordado de forma específica, deve prevalecer o caráter universal da lei, assegurando acesso ao serviço, aos métodos contraceptivos e ao planejamento familiar, garantindo a escolha dos indivíduos dessa faixa etária. Embora o estudo tenha sido centrado em uma escola, pode indicar reflexões e instigar novas pesquisas que contribuam para ações educativas no campo da sexualidade. Espera-se que tais reflexões possam auxiliar os adolescentes e jovens a tomar suas decisões com responsabilidade e adequado esclarecimento. Finalmente, conhecimento e esclarecimento, nem sempre são suficientes na garantia do acesso ao preservativo. Portanto, torna-se fundamental a ampliação de estratégias e espaços que facilitem a promoção do acesso ao preservativo por adolescentes e jovens com menor constrangimento em prol do sexo seguro e responsável.

Palavras-chave


preservativo; adolescente

Referências


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FALA educadora! Fala educador: trabalho de orientação sexual, sexualidade e gênero, saúde reprodutiva e sexual, aborto, DST, AIDS e vulnerabilidade. São Paulo: Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 2000.

 

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