Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NOS NÚCLEOS DE APOIO EM SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF)
Beatriz Ferrari, Scheila Marcon, Adriana Cristina Hillesheim

Última alteração: 2015-10-29

Resumo


APRESENTAÇÃO: Em 2008, com o objetivo de ampliar as ações da Atenção Básica e sua resolutividade, apoiando a Estratégia de Saúde da Família (ESF), foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da Portaria nº154/GM de 2008. Esta foi de grande importância na consolidação da ESF, pois estabeleceu a constituição dos núcleos por equipes, compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento. Conforme a Portaria da Atenção Básica nº 2.488 de 21 de outubro de 2011, o farmacêutico está entre profissionais que podem fazer parte do NASF. Por se tratar de uma proposta recente do Ministério da Saúde, tem-se a necessidade de conhecer como está a implantação do NASF nos municípios, bem como a presença e atuação do farmacêutico junto à equipe multiprofissional e o desenvolvimento da interdisciplinaridade entre os profissionais. As diretrizes do NASF mostram claramente a importância do farmacêutico no NASF, mas para que os resultados esperados sejam realmente alcançados, esse profissional deve ter sua agenda de trabalho bem organizada como é descrita nas diretrizes, para poder desempenhar seu trabalho.  Portanto, este estudo foi de suma importância para identificar as potencialidades e dificuldades encontradas pelo profissional farmacêutico em seu cotidiano de trabalho e assim, avaliar se as diretrizes do NASF estão sendo contempladas na prática, tendo como objetivo descrever a atuação dos profissionais farmacêuticos que integram as equipes dos NASF dos municípios que fazem parte da área de abrangência da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) Chapecó/SC. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Tratou-se de uma pesquisa quali/quantitativa com profissionais farmacêuticos que fazem parte das equipes do NASF e gestores dos nove municípios da área de abrangência da SDR Chapecó/SC. Os dados coletados, tanto dos farmacêuticos como dos gestores, ocorreram por meio de uma entrevista semi estruturada com auxílio de um roteiro e permitiram verificar a existência e a composição da(s) equipe(s) do NASF implantadas, traçar o perfil dos farmacêuticos pesquisados e conhecer o seu processo de trabalho no cotidiano. As entrevistas foram agendadas e realizadas no município de atuação dos mesmos, nos meses de outubro e novembro de 2014. O projeto teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Unochapecó sob o protocolo nº 205/14. RESULTADOS: Dos nove municípios que fazem parte da SDR Chapecó, seis possuem NASF, dois estavam em processo de implantação e um ainda não possuía, porém, o gestor relatou o interesse na adesão. Em relação aos profissionais que compõe o NASF, as legislações que regem e a própria diretriz do NASF abordam que cabe ao gestor verificar a demanda da comunidade e a partir disso escolher quais profissionais, que constam na legislação, devem fazer parte do NASF. Alguns gestores relatam que utilizaram profissionais que já faziam parte do quadro de profissionais do município para compor o NASF, outros, levaram em conta a demanda do local para a escolha dos profissionais. Observou-se que todos os NASF possuem o profissional farmacêutico na equipe. Sendo esse um dado positivo, pois o farmacêutico é um profissional que recentemente vem sendo incorporado na Atenção Primária à Saúde. Quanto ao perfil dos profissionais farmacêuticos que compõe os NASF, houve uma predominância de profissionais com idade entre 30-40 anos sendo estes 55,6%, seguidos de 33,3% com a faixa etária entre 20-30 anos e 11,1% com idade acima de 50 anos. Em relação a experiências de trabalho anteriores ao NASF, apenas 22,2% dos farmacêuticos já possuíam experiências anteriores na atenção básica e 77,8% nunca haviam trabalhado na atenção básica. Entende-se com isso que a maioria dos profissionais não possuía experiência prática em saúde pública, supondo que apenas tiveram o conteúdo teórico na graduação. Porém, sabe-se que a grade curricular dos cursos da área da saúde, na maioria das vezes, é centrada no modelo biomédico, fragmentado e especializado, dificultando muito o processo de trabalho desses profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS), pois essa formação vai de encontro aos princípios do nosso sistema de saúde. Sobre a carga horária que esses profissionais têm destinada ao NASF, 55,6% possuem carga horária semanal de 40 horas, 44,4% possuem 20 horas semanais, desses, 22,2% citaram que possuem carga horária no papel, mas que não exercem atividades no NASF. Observou-se que 55,6% dos farmacêuticos trabalhavam efetivamente no NASF, com um período destinado à avaliação, planejamento e programação das ações. Os demais profissionais que somam 44,4% relataram que não possuem período destinado em suas agendas de trabalho para o NASF. O farmacêutico em muitos municípios trabalha na gestão da farmácia e dispensação do medicamento o que lhe toma muito tempo, com isso o trabalho coletivo junto ao NASF e a ESF acaba sendo deixado de lado, não por descaso do farmacêutico, mas sim pelo acúmulo de outras funções. Há uma grande diversidade de profissionais nas equipes de saúde e também nas equipes de “apoio” o que facilitaria o processo da prática multiprofissional. Percebeu-se que alguns profissionais trabalham com a ideia de autonomia, procurando resolver os problemas individualmente, sem lembrar que o trabalho deve ocorrer de forma interdisciplinar, onde os diferentes conhecimentos e práticas estão voltados a um objetivo em comum. Medeiros e colaboradores (2011) descrevem que para obter êxito no processo da prática multiprofissional os profissionais devem compartilhar suas agendas e construir agendas integradas viabilizando uma melhor assistência aos usuários dos serviços e facilitando o vínculo necessário para a efetivação do trabalho multiprofissional. Durante as entrevistas os farmacêuticos relatam que sua equipe encontra dificuldades com a equipe da ESF, pois eles não estão preocupados em compartilhar os casos e sim repassá-los fazendo com que ocorra um acúmulo de atendimentos individuais. Relatam ainda que as equipes não estão preparadas para o atendimento compartilhado, ocorre muita resistência. Verificou-se que praticamente todos os profissionais farmacêuticos atuam em pelo menos um grupo, quer seja criado pela ESF ou pelos profissionais do NASF. Quanto a visita domiciliares 33,3% dos farmacêuticos disseram que realizam visitas domiciliares, 33,3% não realizam, 22,2% realizam quando solicitados pela ESF e 11,2% disseram que às vezes realizam. Quando questionado aos farmacêuticos sobre o conhecimento das diretrizes do NASF, 44,4% dos farmacêuticos responderam que conheciam e citaram de forma direta ou indiretamente sobre o apoio técnico-pedagógico e assistencial, 44,4% falaram que conheciam, mas não citaram as diretrizes e 11,2% disseram que não sabiam direito, pois nunca mais haviam estudado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pode-se perceber que o NASF possui muitas fragilidades, principalmente relacionadas à falta de planejamento em suas ações e à desarticulação com a ESF. Percebeu-se a falta de clareza sobre o papel do NASF na Atenção Básica, mas não só isso, o processo de trabalho do farmacêutico fica muito restrito à gestão da farmácia, que não deixa de ser uma das atividades que deve ser exercida segundo as diretrizes do NASF, mas a sua agenda de trabalho deve ser organizada para atender as demandas dos profissionais da Atenção Básica e também da população em que o profissional está inserido. O NASF tem muitas potencialidades a serem exploradas, mas para que isso aconteça os profissionais tanto da ESF e do NASF, como também a gestão deve ter clareza sobre o papel da equipe do NASF dentro da Unidade Básica de Saúde e no território em que estão inseridos.

Palavras-chave


NASF; Farmacêutico; Processo de trabalho

Referências


MEDEIROS, C. S. et al. O Processo de (Des)construção da multiprofissionalidade na atenção básica: limites e desafios a efetivação do trabalho em equipe na estratégia saúde da família em João Pessoa-PB. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 15, n. 3, p. 319-328, 2011. Disponível em <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/rbcs/article/view/10833> Acesso em: 28 out. 2014.