Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Atenção ao câncer do colo do útero no Brasil: uma análise a partir de dados do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ)
Silvia Troyahn Manica, Luciana Barcellos Teixeira, Maria de Lourdes Drachler, Dora Lúcia Leidens Correa de Oliveira

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: O câncer do colo do útero é o quarto tipo de câncer mais incidente em mulheres e o sétimo na população em geral, com cerca de 530 mil novos casos e 270 mil óbitos no mundo em 2012, o equivalente a 7,5 % das mortes por câncer no sexo feminino. No Brasil foi o terceiro tumor mais incidente em mulheres  e a quarta causa de mortalidade feminina por câncer no referido ano.  Visando reduzir estas altas taxas de incidência e mortalidade, o exame citopatológico do colo do útero, método de rastreamento do câncer do colo do útero, possui sensibilidade e especificidade aceitáveis, baixo custo, segurança na realização e boa aceitação pelas mulheres, o que lhe confere relevância para a saúde pública. O Ministério da Saúde preconiza a realização trienal do exame citopatológico do colo do útero, correspondendo a coberturas anuais de 33,3% da população alvo de rastreamento da doença, mulheres de 25 a 64 anos de idade. O alcance da cobertura preconizada desses exames em mulheres nesta faixa etária tem sido considerado o componente mais importante da atenção básica à saúde dessa população no que diz respeito à redução da incidência e mortalidade por câncer do colo do útero no Brasil. Visando melhorias nos processos de trabalho das equipes de atenção básica e ampliação do acesso e da qualidade dos serviços prestados à população feminina brasileira. Este trabalho tem como objetivo investigar a atenção ao câncer do colo do útero ofertada pelas equipes de atenção básica participantes do PMAQ. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo epidemiológico, observacional, descritivo e de base nacional, que utilizou dados de entrevistas realizadas com profissionais coordenadores de 17.202 equipes de atenção básica participantes do PMAQ em 2012. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: No que diz respeito à realização do exame citopatológico do colo do útero, 97,3% das equipes de saúde de atenção básica entrevistadas informou realizá-los na unidade de saúde. Durante as visitas domiciliares 83,1% das equipes informou que seus agentes comunitários de saúde realizavam a busca de mulheres elegíveis para realização do exame citopatológico do colo do útero. Nestas unidades de saúde 55,3% não possuíam o registro do número de mulheres com exames citopatológicos em atraso, 82,7% possuíam o registro de mulheres com exames citopatológicos alterados e 87,7% realizava o seguimento das mulheres após o tratamento realizado. A divulgação e sensibilização da importância da realização do exame citopatológico ocorreu em 92,3% das equipes de saúde. Estes resultados sugerem que a quase totalidade das equipes de saúde participantes do PMAQ informou realizar exames citopatológicos do colo do útero no serviço de saúde. De acordo com dados do Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO), em 2012 o Sistema Único de Saúde realizou mais de oito milhões de exames na população alvo do rastreamento da doença no Brasil, contudo este número de exames parece insuficiente, conforme indicado pela cobertura nacional de exames citopatológicos do colo do útero de 15,8% naquele ano. Um elemento importante para a elevação das estimativas de cobertura desses exames é o recrutamento sistemático de mulheres para a realização do exame citopatológico. Contudo, 16,9% das equipes de saúde referiu que seus agentes comunitários não costumam adotar tal prática.  Além disso, mais da metade das equipes de saúde informou não controlar a periodicidade com que o exame citopatológico é realizado, isto é, nestas equipes se desconhece o número de mulheres em atraso que algum dia compareceu ao serviço de saúde para realizar este exame e, até mesmo, o número de mulheres que nunca realizou o exame citopatológico.  Este cenário é típico de um programa de rastreamento oportunístico, dado que o programa organizado de rastreamento do câncer do colo do útero ainda não foi implementado no Brasil. De maneira geral o rastreamento oportunístico ocorre quando a pessoa procura o serviço de saúde e o profissional aproveita o momento para rastrear alguma doença ou fator de risco. Por esse motivo, não considera o recrutamento e o controle sistemático da população alvo do rastreamento da doença. Embora essa forma de proceder seja a predominante na maioria dos serviços de saúde no mundo é menos efetiva no impacto sobre a morbimortalidade atribuída à condição rastreada, o que provavelmente justifica as altas taxas de incidência e mortalidade do câncer do colo do útero em países em desenvolvimento como o Brasil. O número de equipes que possuíam o registro de mulheres com exames citopatológicos alterados e que realizava o seguimento das mulheres após o tratamento realizado, apesar de satisfatório, também pode ser aperfeiçoado, dado que este acompanhamento é considerado indispensável, pois essas mulheres se tratadas de maneira adequada, não apresentarão evolução para lesão invasiva, o que contribuirá para a diminuição da incidência e mortalidade do câncer do colo do útero no Brasil. Ademais, mesmo que 92,3% das equipes de saúde tenham informado realizar atividades de divulgação e sensibilização da importância da realização do exame citopatológico do colo do útero, este percentual também deve ser ampliado. Esta divulgação e sensibilização para a comunidade sobre a importância deste exame possuem extrema relevância para redução da morbimortalidade por câncer do colo do útero no Brasil. Sobretudo porque esta doença possui cerca de 100% de chances de cura, podendo ser tratada em nível ambulatorial em cerca de 80% dos casos quando diagnosticada e tratada precocemente, o que representa, portanto, grande melhoria na sobrevida e qualidade de vida das mulheres. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A realização do exame citopatológico e demais ações do rastreio sob responsabilidade das equipes de atenção básica participantes do PMAQ devem ser problematizadas, sobretudo, porque estas equipes têm divulgado e realizado o exame, no entanto, não possui registros das mulheres que o realizam e tampouco sobre o intervalo em que estes exames têm sido realizados. Esta falta de controle das ações que compõem a atenção ao câncer do colo do útero tende a gerar um contingente de mulheres super-rastreadas e outras em atraso na realização do exame citopatológico. Além disso, identificou-se que as equipes de atenção básica participantes do PMAQ necessitam qualificar o registro de mulheres com exames citopatológicos do colo do útero alterados, pois este registro é essencial para assegurar a realização dos procedimentos diagnósticos e encaminhamento para tratamento dos casos confirmados de câncer. Entende-se que a melhoria dos indicadores da atenção ao câncer do colo do útero investigados neste estudo deve ser foco do Sistema Único de Saúde para garantir a atenção integral à saúde das mulheres em todo o país.

Palavras-chave


câncer do colo do útero; atenção básica em saúde; saúde das mulheres.

Referências


Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS. Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero - Exame Citopatológico Cérvico-Vaginal e Microflora – Brasil, 2012. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?siscolo/ver4/DEF/Brasil/BRCCOLO4.def.> Acesso em: 10 set. 2015.

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