Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PERFIL DE DIABÉTICOS E AUTOCUIDADO DA ESF AFONSO BALSINI DE BLUMENAU – SC
Rúbia Kaszczesen Farias, Eduardo José Cecchin, Luiza Pinto de Macedo Soares, Luíza Souza de Magalhães, Karla Ferreira Rodrigues, Francielly Carine Marques Lauer, João Luiz Gurgel Calvet da Silveira, Nevoni Goretti Damo

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


As doenças crônicas, segundo a Organização Panamericana de Saúde, são responsáveis por 59% dos 56,5 milhões de óbitos anuais e 45,9% do total de enfermidades no mundo. A atenção continuada dos pacientes crônicos, portanto, é de suma importância para se evitar as complicações e exacerbações das patologias, que costumam interferir social e economicamente na vida de seus portadores. A Diabetes Mellitus (DM), por exemplo, necessita de acompanhamento ininterrupto, seja do próprio diabético (autocuidado), seja da unidade básica de saúde, haja vista as dificuldades inferidas pelas mudanças nos hábitos de vida necessárias para o sucesso do tratamento. Deve- se considerar ainda que a Diabetes Mellitus prejudica a sociedade ao diminuir a produtividade e o tempo de trabalho dos seus portadores, causando aposentadorias precoces e influenciando nas taxas de mortalidade, além dos altos custos devido às complicações e internações, sendo elas 145 mil, em 2011, no Brasil. O surgimento e a progressão das complicações da diabetes repercutem negativamente na qualidade de vida das pessoas acometidas podendo levá-las a apresentar ou agravar quadros depressivos e de não adesão ao tratamento. Em 2011, cerca de 366 milhões de adultos no mundo eram portadores da condição. Em 2030 a estimativa é que esse número alcance os 552 milhões. A prevalência da DM nos países da América Central e Sul foi estimada em 26,4 milhões de pessoas e projetada para 40 milhões, em 2030. Só no Brasil, dados de 2011 relatam que 12,4 milhões de pessoas tinham a doença, sendo que o esperado para 2030 é de que o país atinja a marca de 19,6 milhões de portadores. A presente pesquisa objetivou identificar o perfil e a aderência ao autocuidado de todos os usuários diabéticos da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Afonso Balsini de Blumenau – SC, através do “Questionário de atividades de autocuidado com o diabetes” (QAD), que é um instrumento validado. O QAD traduz seus resultados em domínios “alimentação geral (1)” e “específica (2)”, “atividade física (3)”, “monitorização da glicemia (4)”, “cuidados com os pés (5)”, “medicação (6)” e “tabagismo (7)”. Cada domínio do QAD é formado por questões que pontuam de 0 a 7, sendo cada ponto relativo a um dia da semana no qual o usuário realizou a atividade questionada. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Regional de Blumenau sob o parecer 1.124673. Após calibramento, quatro pesquisadores do PROPET-Saúde da Universidade Regional de Blumenau (FURB) realizaram a aplicação domiciliar do QAD e de um questionário socioeconômico. Além disso, os pesquisadores realizaram a coleta da glicemia capilar, utilizando o mesmo glicosímetro para todos os usuários.  As entrevistas foram realizadas em julho de 2015, mediante agendamento prévio via telefone, sendo considerados como perda os usuários que não se encontravam em casa ou que não atenderam ao telefone após duas tentativas. Os critérios de inclusão da pesquisa foram: diagnóstico de DM, ter idade superior ou igual a 18 anos e aceitar participar da pesquisa voluntariamente, mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A população efetivamente entrevistada (34) correspondeu a 60,7% da população total de diabéticos da ESF, sendo que a maioria (65%) eram mulheres, 55% acima de 60 anos, sendo 53% aposentados e 88% com apenas o 1º grau ou menos completo (incluem-se analfabetos). Dentre os avaliados, 68% não souberam distinguir o tipo de diabetes que possuem e 65% não estavam com a glicemia controlada no momento da aferição (glicemia >150). Além disso, 35% da amostra estava sob insulinoterapia. Segundo Michelset al., 2010, a análise da aderência por domínios do QAD só é possível para os domínios 1, 3 e 4, os quais possuem questões com correlação positiva. Na amostra estudada, observa-se maior comprometimento no domínio físico (aderência média de 1,23 dias - em escala de 0-7), sendo que a questão relativa à quantidade de dias em que o entrevistado praticou algum exercício físico, como caminhar ou nadar, alcançou a menor média do estudo (aderência = 0,55 dias). Destaca-se, ainda, que o grupo sob insulinoterapia se saiu melhor no domínio físico (média 1,83) do que o grupo que não usa insulina (média 0,9). Em relação à aderência medicamentosa, os usuários reponderam usar a medicação recomendada em média 5,91 dias na semana, fator esse que alcançou o melhor índice da pesquisa. O domínio “monitorização da glicemia” obteve média de 2,36 dias, sendo que entre os insulinodependentes, a avaliação da glicemia capilar era feita em média 6,08 dias da semana, contra 0,58 dias dos não dependentes de insulina. Além disso, os usuários sob insulinoterapia demonstraram ter seguido a orientação alimentar em 5,5 dias, contra 2,7 dias dos não insulinodependentes. A média do domínio alimentação geral foi de 4,39, sendo que os usuários responderam que ingerem alimentos ricos em gordura, carnes vermelhas ou leite integral em média 4,9 dias na semana e que ingerem doces em média 2 dias na semana. Esse dado sugere pouca orientação alimentar da amostra estudada: apesar de ingerir doces em média 2 dias na semana, os entrevistados demonstraram imprudência na hora de ingerir alimentos ricos em gordura, carnes vermelhas e leite integral. Faz-se, portanto, notadamente necessário um trabalho de educação alimentar frente aos resultados obtidos. O grupo PROPET-saúde tem incentivado a participação dos estudantes como protagonistas de grupos de diabetes nas Unidades Básicas de Saúde, e pode, nesse caso, ser usado como fortalecedor da educação alimentar da população. Além disso, percebemos que a atividade física deve ser encarada como fator de preocupação e de necessidade de intervenção, principalmente entre o grupo de não insulinodependentes. Segundo outros estudos, a caminhada é atividade física preferencial entre os adultos, em especial entre as mulheres, e pode ter sido evitada pelo relevo do bairro em que os entrevistados vivem. A localidade possui regiões íngremes que tornam a prática desportiva de certa forma desgastante e não há qualquer área de incentivo à pratica de atividade física no bairro. A própria cidade de Blumenau tem encontrado resultados positivos com grupos de dança em determinada ESF que ajudam no preparo físico dos usuários locais, o que poderia ser aplicado no local como forma de pratica integrativa entre esporte e lazer. Como os fatores mais alterados (atividade física e alimentação) referem-se a mudanças de hábito de vida, faz-se importante manter constantes os esforços de intervenção nos citados fatores, uma vez que, segundo outros estudos, tais atividades são as mais dificilmente corrigidas na prevenção e tratamento de doenças crônicas.

Palavras-chave


Atenção primária à saúde; autocuidado; diabetes mellitus.

Referências


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