Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A construção de projetos profissionais no SUS hoje: as relações entre trajetória educacional e inserção ocupacional
Monica Vieira, Filippina Chinelli, Denise Fortes, Arthur Fontennelle, Luciana d'Avilla, Joelma Barbosa, Nanci Silva

Última alteração: 2015-12-09

Resumo


APRESENTAÇÃO: Parte de pesquisa sobre trajetórias de técnicos da saúde, trata das relações entre formação e inserção ocupacional de trabalhadores do SUS como construção subjetiva de caráter multidimensional, na premissa de que as narrativas constituem fragmentos que dão acesso aos seus contextos sociais. A análise considera o contexto de mudanças que vêm afetando a organização e a gestão do trabalho no SUS a partir dos anos 2000, período em que o crescimento dos postos de trabalho impulsionado, sobretudo pela consolidação da atenção básica como política publica de saúde prioritária no país, é a acompanhado pelo aumento da escolaridade e da qualificação dos trabalhadores. Contudo, o que se verifica na realidade é o descompasso entre formação e inserção, intensificação das parcerias públicas privadas e de vínculos precarizados. Embora, de forma geral, a literatura afirme que esse desencontro é vivenciado pelos jovens e, sobretudo, pelos mais escolarizados trata-se de processo que caracteriza cada vez mais a inserção ocupacional dos trabalhadores como um todo.   Algumas das questões que nortearam o estudo expressam a preocupação com o tema: Quais os fatores que intervém nos percursos educacionais e ocupacionais dos diferentes grupos de trabalhadores técnicos em saúde? Quais os diferentes processos de formação educacional, e suas relações com os postos de trabalho ocupados pelos técnicos em saúde? O que envolve o prosseguimento de estudos dos trabalhadores técnicos em saúde? Na análise buscou-se identificar a especificidade dos percursos formativos e ocupacionais desses diferentes grupos de trabalhadores técnicos em saúde; analisar a relação entre formação técnica em saúde e trajetórias educacional e ocupacional; compreender como percebem a relação entre sua formação e inserção profissional. OBJETIVO: Analisar as relações entre as trajetórias educacionais de trabalhadores e sua inserção ocupacional no SUS, considerando que são processos socialmente construídos que envolvem múltiplas determinações. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Este estudo está baseado em entrevistas aprofundadas realizadas nos municípios do Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Salvador (BA), Blumenau (SC) e Rio Branco (AC) entre 2013 e 2014 com trabalhadores que ocupam postos de nível médio ligado à atenção básica [1], a saber: auxiliares e técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde, auxiliar de saúde bucal e técnica de saúde bucal, agentes de vigilância em saúde (epidemiológica, sanitária e ambiental).  As entrevistas foram realizadas com a participação de profissionais de cinco escolas técnicas do SUS das 05 regiões brasileiras, totalizando 130 entrevistas, com média de 1 hora de duração. Os roteiros foram elaborados a partir de estudos anteriores do Observatório dos Técnicos em Saúde e da literatura pertinente ao tema do estudo tendo sido discutidos coletivamente em Oficinas de Trabalho com os participantes de todas as regiões contempladas. Foram orientadas por roteiros que contemplaram, de forma geral, os seguintes aspectos: caracterização socioeconômica, composição familiar, trajetória educacional, trajetória ocupacional com ênfase na inserção no mercado de trabalho em saúde, relação formação e ocupação, motivação de ingresso e permanência na área e expectativas profissionais.   Os trabalhadores foram selecionados através da rede de relações dos pesquisadores, procurando diversificá-los quanto à idade, sexo, tipo de vínculo, nível de qualificação e tempo de permanência no trabalho em saúde. As entrevistas foram realizadas nos lugares e momentos de conveniência dos entrevistados, tendo ocorrido, sobretudo, nos seus locais de trabalho, respeitando intervalos de sua rotina laboral.   As entrevistas foram analisadas com base em uma perspectiva compreensiva que busca os sentidos e os significados da fala dos trabalhadores, entendida como resultante de condições históricas e sociais assim como a interpretação elaborada pelos pesquisadores.   O projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Para garantir o anonimato dos entrevistados, as falas foram identificadas por uma sequência de letras que significam, respectivamente, TE para trabalhador da enfermagem, TVS trabalhador da vigilância, TSB trabalhador da saúde bucal e TACS para trabalhador agente comunitário de saúde a inicial da região (S para sul, CO para Centro-Oeste, N para norte, NE para nordeste e SE para sudeste), seguido do número cardinal de ordem da entrevista. RESULTADOS: Foi possível constatar a ampliação do acesso ao ensino médio, técnico e superior a partir dos anos 1990 tendo por base as transformações da sociedade brasileira e do mercado de trabalho. Identificou-se a explicitação do apelo social que relaciona escolarização, profissionalização e empregabilidade como fenômeno associado à mobilização de estudantes/trabalhadores para ampliação de sua escolaridade. Nesta pesquisa pretendeu-se evidenciar a diversidade de situações recobertas pela condição de estudante/trabalhador técnico em saúde e o lugar variável que ocupa o estudo em suas vidas. Nesse sentido, entendeu-se ser fundamental analisar as condições de acesso, a escolha pelo curso e as estratégias adotadas pelo estudante para iniciar sua profissionalização pela formação técnica em saúde. É relevante nesse caso ressaltar a controvérsia que envolve a educação profissional de nível técnico que, por um lado, é apresentada como uma alternativa eficiente e necessária de qualificação que contribui para reduzir o desemprego entre os jovens e, por outro lado, é acusada de aprisionar os jovens oriundos das classes sociais menos favorecidas em ocupações que dificultam o acesso futuro a níveis educacionais mais elevados. Os trabalhadores fazem uma opção mais tardia pela área da saúde e essa mudança no perfil etário sugere um retorno à escola de trabalhadores em busca de uma formação técnica que poderia facilitar-lhes o acesso a postos de trabalho mais qualificados e melhor remunerados. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As trajetórias dos grupos ocupacionais estudados são marcadas por graus diferenciados de vulnerabilidade social e imprevisibilidade. A busca por uma melhor sobrevivência define suas expectativas de futuro e o aumento da escolaridade é um anseio de todos, assim como a necessidade de reconhecimento e identidade que os trabalhadores associam ao maior equilíbrio entre formação e inserção ocupacional. A mesma luta que marca suas trajetórias contorna suas expectativas de futuro já que a ideia de construção de um projeto profissional associado à possibilidade de realização e crescimento é algo muito distante da relação “errática” que conseguiram construir com seu trabalho e sua qualificação. A análise das trajetórias confirma-se como temática relevante no campo do trabalho e da educação no momento em que o SUS adota dispositivos de gestão baseados na flexibilidade e produtividade. É cada vez mais complexa e menos linear a relação com o trabalho e a qualificação dos trabalhadores, especialmente dos que atuam na atenção básica. Salienta-se o lugar das ETSUS na construção de uma Política de Qualificação Profissional no SUS. [1] Para o presente artigo foram desconsideradas as entrevistas de trabalhadores da enfermagem que não atuam na atenção básica

Palavras-chave


trajetórias profissionais, qualificação, trabalho