Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAÇÃO PERMANENTE EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA: PARA ALÉM DOS HOSPITAIS OU PRONTOS SOCORROS
Êrica Duarte, Sabrina Lacerda da Silva, Izabella Matos, Alcindo Ferla, Ana Paula Gossmann Bortoletti, Fabiano Barnart, Grazieli Cardoso da Silva

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


INTRODUÇÃO: As políticas de educação e saúde voltadas para o ensino das profissões da área preconizam a transformação de cenários das práticas da formação acadêmica e o desenvolvimento de capacidades profissionais envolvendo a atenção, a gestão, a participação e a educação na saúde. Por meio da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde do Sistema Único de Saúde, está proposta a relação entre a formação e o mundo do trabalho, sendo que a produção de conhecimentos e o desenvolvimento de tecnologias, para tornarem-se conhecimentos significativos, devem estar orientados ao cotidiano do trabalho e seus problemas, envolvendo o conjunto dos atores. Por sua vez, a Política de Atenção às Urgências e Emergências, cujo componente assistencial inclui os sistemas de atenção às urgências estaduais e municipais, tem, dentre as normativas previstas na Portaria GM nº 1.863, de 29 de setembro de 2003. A diretriz de desenvolver estratégias promocionais da qualidade de vida e saúde capazes de prevenir agravos, proteger a vida, educar para a defesa da saúde e recuperar a saúde, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a equidade de indivíduos e coletividades. E também de fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento às necessidades coletivas em saúde, de caráter urgente e transitório, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidades públicas e de acidentes com múltiplas vítimas, a partir da construção de mapas de risco regionais e locais e da adoção de protocolos de prevenção, atenção e mitigação dos eventos. A Atenção Básica é um dos pilares da Rede de Atenção às Urgências e Emergências por ser uma das portas de entrada ao atendimento e também a vinculação realizada pelas equipes com seus usuários nos territórios de abrangência dos serviços. A atenção básica tem sido considerada como ordenadora das redes de cuidado e, para isso, conecta necessidades identificadas de saúde com as redes de serviço. No caso desse relato, considerou-se a existência de pontos de atenção anteriores à UBS, localizados no território em que indivíduos e coletivos vivem e produzem sua saúde, e que esses pontos precisam ser conectados aos demais para compor a rede de atenção. Como se trata de produzir novos olhares transversais ao ensino e à pesquisa optou-se por desenvolver um projeto no âmbito da extensão universitária. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Com base nas disposições das políticas supracitadas, está sendo executado um projeto de extensão denominado “Educação Permanente em urgência e emergência: para além dos muros dos hospitais ou prontos socorros”, institucionalizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O objetivo geral dessa iniciativa é a realização de atividades de educação permanente, compreendida como prática de ensino-aprendizagem e como estratégia para o desenvolvimento do trabalho, a fim de contribuir com a instauração de novos processos, métodos e técnicas em urgência e emergência, inclusive com o desenvolvimento de capacidades fora dos serviços de saúde e envolvendo sujeitos das comunidades e instituições de outros setores de atuação. O projeto previu um perfil abrangente de participantes, incluindo os profissionais da atenção básica, usuários, alunos e funcionários de escolas de ensino fundamental e médio, docentes e discentes de cursos de graduação e outros interessados. O desenvolvimento dessa ação consiste na realização atividades educativas de caráter teórico-prático, ordenadas a partir das questões do cotidiano dos participantes, a fim de contribuir com a instauração de novos processos, métodos e técnicas em identificação e ação em situação de urgência e emergência, particularmente no que se refere à prevenção de situações de risco e a conexão de iniciativas locais no interstício entre o evento e a conexão com o primeiro ponto de atendimento formal, normalmente representado pelo SAMU. Para esse relato, foi escolhida a iniciativa desenvolvida no território de uma Unidade de Saúde da Família e, mais especificamente, numa escola que mantém atividades integradas com a USF por meio do Programa Saúde na Escola. O projeto de extensão faz parte de um projeto de difusão cultural mais amplo denominado Cultur (ação) e Saúde. Ações desenvolvidas e resultados alcançados As práticas de ensino-aprendizagem, no formato de oficinas, aconteceram em três eixos de ação: escola, comunidade e equipe da unidade de saúde. Na Escola, foram realizadas oficinas com alunos e com professores. Com o primeiro grupo, os temas elencados foram primeiros socorros, enfatizando o atendimento inicial a situações comuns no cotidiano e às condições para acionamento dos serviços de atendimento, destacando o problema do trote. As situações selecionadas partiram das questões levantadas pelos participantes diante da mobilização para refletir sobre a questão das situações de urgência e emergência identificadas no cotidiano. Na oficina com os professores, foi ampliado o conjunto de temas abordados, incluindo sintomas de convulsão e uma oficina de “chilique”. Essa última, focada principalmente em questões de escuta qualificada e identificação de sinais e sintomas de gravidade de “vida” (não centralmente de saúde) – título da ação dado pelas professoras. Uma novidade nessa escola foi as oficinas noturnas, para o público que estuda na educação de jovens e adultos. O total de participantes foi de 201 pessoas sendo nº166 alunos, nº 25 professores e nº 10 funcionários da escola. Também foi implementado o eixo de ação com a comunidade, que foi conduzido pela própria escola, realizado num sábado pela manhã e, diferente do usual, a divulgação ficou a cargo da escola. Nessa manhã, 43 pessoas da comunidade estavam presentes, colaborando com a produção de redes de conhecimentos sobre o atendimento de situações que requerem cuidados agudos. Já na Unidade de Saúde da Família a ação foi mais ampla, implementada em quatro encontros para tratar das questões levantadas pelos participantes, realizados durante as reuniões de equipe e mais duas visitas técnicas da equipe do projeto. As atividades foram dividas nos seguintes temas: porque conversar sobre situações de urgência e emergência na atenção básica? Parada cardiorrespiratória, obstrução de vias aéreas, protocolo de acidente vascular cerebral, crise convulsiva, hemorragias, pequenos ferimentos e fraturas de extremidades. As visitas técnicas foram um momento novo nas atividades, tanto para a equipe executora quanto para a equipe da unidade, pois poder se reconhecer como ponto de atenção dentro da rede de urgência e emergência incluiu o deslocamento até o Pronto Atendimento referência da unidade e a Central de Regulação do SAMU de Porto Alegre. Posteriormente ao desenvolvimento de todas as atividades, foram realizadas avaliações a fim de obter observações dos grupos e qualificar as atividades propostas no projeto. Conclusões: A análise final da atividade, incluir reconhecer a importância de considerar outros equipamentos sociais e, mesmo espaços públicos e as residências como pontos de atenção para a rede de urgências e emergências. Essa consideração envolve tanto as ações de prevenção e gestão dos riscos, como a organização de redes colaborativas para o acionamento responsável e mais eficiente dos serviços formais e a ampliação da autonomia local para a atuação adequada em situações agudas, imprescindível para o desfecho positivo de muitas dessas situações. A gestão dos riscos, nesse caso, inclui a produção de consciência de que essas situações pertencem ao cotidiano, o reconhecimento de sinais e sintomas dos principais eventos que geram essas situações, a identificação de sinais de gravidade, a preparação prévia ao evento das condições de acionamento dos serviços (contatos, endereços corretos, capacidade de descrever os principais sintomas, preparação para a chegada dos serviços), o conhecimento sobre procedimentos recomendados e não recomendados para suporte até a chegada dos serviços, entre outras questões. Não apenas em relação às questões assistenciais propriamente ditas, mas também o reconhecimento de recursos disponíveis no território e modos de acioná-los. Também é necessário apontar a oportunidade do envolvimento da escola e dos diferentes atores que protagonizam o seu cotidiano para abordar questões de saúde, do sistema de saúde e da produção de novas modalidades de envolvimento da população com os serviços. As modalidades de ação educativa realizadas, principalmente oficinas a partir das questões suscitadas pelo tema em diferentes grupos, pautadas na educação permanente em saúde como modo de ensino-aprendizagem intimamente articulada com o cotidiano do trabalho, foi reconhecida pelos participantes nas avaliações e demonstrou capacidade de desenvolver o trabalho, nesse caso a articulação de pontos de atenção formando redes comunidade-atenção básica-serviços especializados em urgência e emergência. Levando em consideração os aspectos propostos inicialmente na ação extensão “Educação Permanente em urgência e emergência: para além dos muros dos hospitais ou prontos socorros”, concluímos que a participação de atores de diferentes segmentos sociais e inserções no território, é fundamental para o fortalecimento de políticas públicas, para a consolidação da atenção básica como parte da rede de atenção as urgências e para a integração ensino e sistemas locais de saúde. A modalidade de extensão universitária ocupou a lacuna entre a universidade e o cotidiano da produção da saúde, mas também de articulação do ensino/pesquisa/extensão para o desenvolvimento de tecnologias relevantes para a qualificação das políticas públicas.

Palavras-chave


atenção básica; urgência e emergência