Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Intervir para Humanizar? Trabalho de promoção da saúde junto a povos indígenas do DSEI GUATOC
Maria Eunice Figueiredo Guedes, Alvaro Pinto Palha Júnior, Denise Raissa Lobato Chaves, Kim Abe de Lima, Ana Cristina Mendes Brito

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


O objetivo deste trabalho é possibilitar a socialização e a reflexão sobre a intervenção e vivências relacionadas à saúde mental com comunidades indígenas articulada à cidadania e aos Direitos Humanos. Estamos construindo em parceria com as comunidades indígenas, gestores, trabalhadores/as e entidades de controle social estratégias de escuta e acolhimento em promoção de saúde. Realizamos essas ações através de oficinas, escuta e levantamento de demandas dos vários grupos oriundas de espaços de controle social como o Conselho Distrital de Saúde Indígena – CONDISI; da Casa de Apoio à Saúde Indígena – CASAI Icoaraci (Belém); de visitas a aldeias e de articulações interinstitucionais com outros segmentos como educação, assistência, economia solidária etc. para a construção de redes de apoio à população indígena. O chamado campo da diversidade precisa ser entendido para que se possa entender a constituição cultural e a saúde do povo na região da Amazônia. Em roda de conversa em maio de 2015, várias lideranças indígenas reafirmam a perda nas aldeias das práticas e cuidados tradicionais como a “extinção da parteira e pajé” e diversas situações que ocorrem como o crescimento de número de indígenas usando “álcool e drogas”; de situações envolvendo “Suicídios e assassinatos”; da medicalização com “uso de alto índice de psicotrópicos”. Para trabalhar com essas questões dentro da promoção em saúde começou-se a articular com outros segmentos para desenvolver ações intersetoriais articuladas visando o bem viver dos povos indígenas, restringindo-se o diálogo a uma única especialidade de políticas setoriais, seja de saúde, assistência social, políticas ambientais ou de regularização de terras, pois não há como responder isoladamente aos desafios que as sociedades modernas impõem aos povos indígenas, sobretudo aqueles de aldeias com maior proximidade dos espaços urbanos. Percebe-se no trabalho com indígenas que grande parte das vulnerabilidades psicossociais que os atingem é consequência das formas de marginalização e conflito que envolve a luta pela terra, a invisibilização dos povos, o preconceito e o questionamento da identidade indígena no mundo contemporâneo e a perda de tradições. Nenhuma perspectiva de futuro do ser indígena é possível quando não conseguem deter nos seus territórios, os costumes e práticas sustentáveis. Tais costumes e práticas devem ser as referências para o pleno exercício da capacidade dos povos para gerirem os processos de educação, promoção da saúde, economia, alimentação, apropriação de saberes e escolhas quanto ao que pretendem construir para as futuras gerações. A Organização Mundial da Saúde- OMS  define saúde mental como “estado de bien estar, y no solo como La ausencia de enfermedad”. A OMS também acentua a necessidade de  considerar alguns itens “dentro da promoção e prevenção da saúde mental“ fatores como: migração; urbanização e mudanças  sociais; legislação; transtornos na organização familiar e tecnologia da vida cotidiana. Essa definição da OMS coaduna-se hoje, no Brasil, com os pressupostos a normatização e implementação do Sistema Único de Saúde- SUS bem como é base teórica de práticas novas em Saúde  coletiva e Direitos Humanos na perspectiva da equidade. A interpenetração SUS/ práticas coletivas nos fazem refletir sobre o papel dos profissionais de Saúde, incluindo aí o Psicólogo, na intervenção em Saúde Pública. As reflexões sobre a tarefa assistencial conduzem também ao campo ético. A questão ética surge quando alguém se preocupa com as consequências que sua conduta tem sobre o outro. Precisamos, a partir das necessidades de atenção e promoção de saúde para a população, pensar em alternativas de atendimento que tenham como premissa os princípios do Sistema único de Saúde (SUS) como, por exemplo, o acesso universal e a integralidade na atenção. Precisamos também estabelecer com o outro (tão sujeito quanto nós profissionais) uma relação de escuta e diálogo, pois para que haja ética, é preciso ver (perceber) o outro... e para a assistência humanizada também é preciso perceber o outro. Assim assistência humanizada e ética devem caminhar juntas. A Psicologia deve contribuir para fortalecer os sujeitos permitir-lhes o desenvolvimento de uma “compreensão crítica” da inserção que têm no mundo social, contribuir para a construção de projetos de intervenção cotidiana e, trabalhar para ‘ressignificar experiências’, de modo a reestruturar as apropriações que fazem, atualizando-as e tornando-as parte confortável de sua subjetividade”.  É dentro dessa moção e na reflexão sobre a diversidade na Amazônia que Psicólogos/as e profissionais de saúde na sua formação e práxis precisam refletir sobre a diversidade, e os conhecimentos tradicionais não hegemônicos presentes na região para pensar na construção de diálogo (s) que respeitem esses saberes...  O Sistema Único de Saúde (SUS) não deve lidar com as pessoas descontextualizadas da realidade social, geográfica e política onde vivem, por isso, desde o início, reconhecemos que o conceito da OMS amplia as possibilidades de entender e intervir na promoção de saúde e cidadania. A saúde é um campo de lutas, depende do sentido que se dá ao adoecimento, é a luta do sujeito contra o adoecimento e contra as infidelidades do meio. Não há na pessoa humana a possibilidade de não se defrontar com os perigos da vida cotidiana e não vivenciar situações em que o medo, a angústia e ansiedade se entrelacem, produzindo ressonâncias em suas subjetividades. Esses são desafios para o campo da formação, da prática profissional e está na ordem do dia no entrecruzamento com a discussão sobre a Prática Psi, diversidade e regionalidade na Amazônia. 

Palavras-chave


humanização; psicologia; saúde indígena; equidade

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