Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A intersetorialidade para o cuidado em saúde mental de jovens no Projeto “Ícaro”: uma experiência em Medellín-Colômbia
José Camilo Botero Suaza, Eneida Puerta Henao, Marta Martínez Gómez, Eliana Gómez Londoño

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


INTRODUÇÃO: O projeto “Icaro” é uma iniciativa pelo cuidado em saúde mental não centrado na doença ou transtorno mental, desenvolvido entre a Prefeitura de Medellín e a Universidade de Antioquia, nos anos 2014 e 2015, com o intuito de favorecer a promoção da resiliência e o desenvolvimento positivo em jovens de diferentes bairros de Medellín em situação de risco psicossocial, através de estratégias de formação, acompanhamento psicossocial, coordenação intersetorial e aproximação a serviços institucionais, e assim, contribuir nos planos de futuro dos jovens, utilizando como ferramentas a metodologia experiencial  e a abordagem conceitual do Modelo Ecológico. As políticas públicas voltadas para a saúde mental estão destinadas a mudar o comportamento dos atores sociais envoltos, impactando na concepção de saúde mental para além do grupo envolvido diretamente como destinatário da política, alcançando os grupos e organizações afetadas, passando pelos formuladores de políticas e estratégias, tomadores de decisões e equipes de trabalho, e abrangendo, em definitivo, à sociedade civil, empresa privada e ONG´s. Essa perspectiva de intencionalidade muda o foco de ação, na medida em que não é só o grupo populacional afetado (jovens) que deve se transformar, mas todos os atores envolvidos devem mobilizar as suas crenças e práticas para que a situação problemática possa se modificar (Junqueira, 2012; Junqueira, Inojosa e Komatsu, 1997).   Então, o nível de envolvimento entre os atores depende, em grande medida, da capacidade de uma estratégia onde possam expor suas ideias, pontos de vista, interesses, possibilidades e que possam se sentir representados em possíveis soluções aos fenômenos sociais complexos como violências, exclusão social e iniquidade. O projeto Ícaro apresenta como arquitetura institucional uma estratégia de trabalho intersetorial que possibilita a formação deste espaço de decisões e acordos, fundamentada em três princípios orientadores: apropriação social do conhecimento, democratização dos serviços e horizontalidade entre os atores envolvidos.   Assim, a estratégia de intersetorialidade, nesse projeto, tem por objetivo favorecer a aproximação a oportunidades e recursos para os jovens participantes com o intuito de promover a resiliência e o desenvolvimento positivo, através do trabalho em rede entre os diferentes atores envolvidos. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A estratégia de intersetorialidade do projeto Ícaro procura, de maneira geral, a sustentabilidade dos enfoques teóricos e metodológicos do mesmo e da “Política Pública de Juventud de Medellín” (Acuerdo Municipal 019 de 2014). Os atores envolvidos em esta experiência foram os seguintes: (1) jovens participantes do projeto, (2) entidades estatais, (3) organizações comunitárias e coletivas, (4) empresas privadas, (5) organizações sem fins lucrativos e (6) comissões de coordenação e mesas de trabalho.   O enfoque de atenção apontava a cinco temáticas identificadas na Política Pública de Juventude de Medellín e no Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ, 2011): convivência e direitos humanos, saúde pública juvenil, educação, trabalho e cultura, recreação e esporte. Para cada um desses eixos temáticos, se integrou à equipe um ou dois profissionais que tinham experiência na geração de alianças intersetoriais e conheciam de maneira ampla cada um desses campos. Mais do que profissionais especializados se constituiu um grupo de trabalho que trocava experiências, conhecimentos, crenças e perspectivas de abordagem de problemáticas concretas dos jovens participantes no projeto. Em cada uma das temáticas, foram definidas subcategorias nas quais se agruparam os interesses ou necessidades mais comuns dos jovens, procurando sempre o desenvolvimento de habilidades e a cogeração de oportunidades. A identificação dessas necessidades foi feita pelos “tutores de resiliência” (profissionais que compartilhavam com os jovens no processo pedagógico - experiencial), mas e também pela equipe de intersetorialidade. As informações discutidas eram registradas e sistematizadas para cada um dos 497 jovens. A operacionalização do modo de atenção na política se concentrava nas necessidades ou interesses dos jovens para depois relacionar essas necessidades com oportunidades na cidade e nos serviços públicos ou privados, privilegiando aqueles que não têm a barreira do custo eles.   Além destes aspetos relacionados à arquitetura da política escolhida, cabe destacar que o projeto trabalha desde os pressupostos éticos que reconhecem nos jovens sujeitos políticos, autônomos, e com possibilidades de apoiar a mudança das cidades e dos contextos de iniquidade e exclusão social nos quais vivem. Nesse sentido, o empoderamento da cidadania juvenil, a reivindicação de direitos e o respeito às diferenças são as plataformas que sustentam a metodologia de trabalho. RESULTADOS: O trabalho intersetorial, na perspectiva da promoção da saúde mental na juventude, é uma questão que extrapola o campo da saúde para se mobilizar por todos os setores e atores sociais. Promover a saúde mental é principalmente uma função social e cultural, de acesso igualitário a oportunidades, bens e serviços de qualidade.   A geração de alianças e acordos interinstitucionais com entidades estatais, privadas, coletivas e instituições especializadas (por exemplo, na atenção a consumo de drogas ou no fortalecimento ao empreendedorismo), para estabelecer a referência e contra referência dos serviços que seriam disponibilizados aos jovens com necessidades de atenção diversas foi um dos principais desafios da escolha política sob análise do projeto. Observaram-se avanços importantes na construção coletiva de conceitos relacionados à saúde mental, com diferentes atores de setores não tradicionais em temas de promoção da saúde com exército, polícia e algumas empresas privadas da cidade.   Em relação à resolutividade dos interesses e necessidades dos jovens (foram identificadas 760 demandas em 497 jovens, isto porque alguns jovens tinham várias demandas), atingiu-se 31% de sucesso no acesso e 27% em processo de aceder a serviços da cidade, nos diferentes eixos de atenção em cinco meses de trabalho, o qual atinge aos 58% dos jovens. Estes indicadores podem ser interpretados de forma positiva, levando-se em consideração as dificuldades que têm os serviços e o sistema de seguridade social colombiano para oferta deste cuidado à população, embora, o desafio notadamente ainda possui proporções geométricas para mobilizar atores e entidades que atuam de maneira desarticulada e avançar em termos da construção de uma estrutura de cobertura universal. O acesso de qualidade à educação, restituição de direitos, saúde e trabalho segue apresentando barreiras que todos os jovens devem enfrentar e que claramente constituem fatores de afetação a sua saúde mental.   É importante dizer que 20% dos jovens, ainda que tenham tido oportunidades e opções para aceder a seus interesses, não se mobilizou para aderir aos serviços o qual diz ao respeito das dificuldades e barreiras que existem para o acesso, o qual conduz pouca motivação nos jovens. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os bens e serviços para a promoção da saúde mental integral, na cidade de Medellín, ainda apresentam um grande desafio de trabalho em rede e consolidação de um enfoque centrado na juventude, o qual produz múltiplas barreiras e limitações no acesso. De outro lado, existem condições ou situações internas nos jovens que dificultam sua mobilização pela cidade, relacionada principalmente à falta de motivação, isto gera igualmente uma instigação para a construção coletiva de estratégias e políticas que levem em conta um diagnóstico destinado ao mapeamento das realidades próprias da juventude na cidade.

Palavras-chave


Intersetorialidade; promoção da saúde; juventude; saúde mental

Referências


-Alcaldía de Medellín. (2011). Índice de desarrollo Juvenil y línea de base, 2001-2012.

-Congreso de Colombia. (2013). Ley estatutaria Nro. 1622: Estatuto de Ciudadanía Juvenil.

-Congreso de Colombia. (2006). Ley Nro. 1098: Infancia y Adolescencia.

-De Sebastián, L. (2002). Análisis de los involucrados: Las Peripecias del niño Elián González. Documentos de Trabajo Proyecto Conjunto INDES – UNION EUROPEA. Serie de Documentos de Trabajo I-26UE Washington, D.C.

- Junqueira, L.; Inojosa. R. y Komatsu, S. (1997). Descentralização e intersetorialidade na gestão pública municipal no Brasil: a experiência de fortaleza. XI Concurso de Ensayos del CLAD “El Tránsito de la Cultura Burocrática al Modelo de la Gerencia Pública: Perspectivas, Posibilidades y Limitaciones”. Caracas, Venezuala.