Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Analise de contexto municipal de municípios com adesão dos tipos 1 e 2 ao Programa de Fortalecimento da Vigilância em Saúde em Minas Gerais
Lucília Nunes de Assis, Eliete Albano de Azevedo Guimarães, Juliana Vaz de Melo Mambrini, Filipe Curzio Laguardia, Nayara Dornela Quintino, Zélia Maria Profeta da Luz

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


A Vigilância da Saúde (VS) propõe a articulação das ações de promoção, de screening, de proteção e de assistência para o enfrentamento de problemas de saúde de indivíduos e de grupos (causas determinantes, riscos, agravos ou danos), tendo por base o território, a intersetorialidade e a avaliação dos processos desenvolvidos. Esse modelo subsidia a integração das ações pertinentes à Vigilância Epidemiológica (VE), Vigilância Sanitária (Visa), Vigilância Ambiental (VA), Vigilância da Saúde do Trabalhador (Visat) e Promoção da Saúde pela articulação entre serviços da VS e Estratégia de Saúde da Família (ESF), além de considerar o contexto das políticas públicas, intersetoriais à saúde, implementadas. Políticas de saúde recentes apresentam diretrizes para a reorientação das ações e serviços da VS e da Atenção Primária à Saúde (APS), na perspectiva da integralidade dos serviços em rede e também no que tange às práticas de saúde intersetoriais. O Projeto Estadual de Fortalecimento da VS (PFVS) em Minas Gerais (MG) visa a descentralização desses serviços de forma articulada à ESF, na perspectiva do alcance da efetividade das ações de VS. O objetivo do estudo foi caracterizar municípios com adesão ao PFVS segundo políticas públicas relacionadas aos determinantes da saúde. Procedeu-se a um estudo de casos múltiplos com abordagem quantitativa. Os municípios-caso foram selecionados dentre os 853 municípios de Minas Gerais-MG considerando o porte populacional (Departamento de Informática do SUS-DATASUS, 2012), as metas alcançadas no PFVS (Sistema Gerenciador de Indicadores, Compromissos e Metas/GEICOM da Secretaria do Estado de Saúde-SES/MG, 2013) e o Índice Mineiro de Responsabilidade Social-IMRS (Fundação João Pinheiro/MG, 2013). O IMRS, com variação de 0 a 1, foi classificado a partir do referencial das faixas do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-IDHM. Assim, os municípios, quanto a um cenário de políticas públicas, podem apresentar nível muito alto (0,800-1,000); nível alto (0,700 a 0,799); nível médio (0,600 a 0,699); nível baixo (0,500 a 0,599) e nível muito baixo (0,000 a 0,499). Após análises estatísticas prévias de correlação utilizando o coeficiente de Spearman (valor p<0,05), oito municípios-caso foram selecionados: seis municípios de adesão tipo I ao PFVS com IMRS de maior diferença para caracterizar situações opostas e pareados segundo porte populacional (menos de cinco mil habitantes-hab.; de cinco a menos de 20 mil hab. e de 20 a menos de 50 mil hab.) e dois municípios-caso com adesão tipo 2 ao PFVS, com resultado de meta alcançada nesse Projeto em contraste e porte de 500 mil a menos de um milhão de hab. Os municípios de adesão tipo 3 não foram incluídos por constituírem menos de 0,5% dos municípios do estado. A caracterização dos municípios-caso foi feita por meio de uma análise descritiva dos índices das políticas públicas e respectivas tendências no âmbito dos 853 municípios de MG. Utilizou-se o Programa de Análise Estatística R, versão 3.0.0 (2013-04-03). Os dois municípios com adesão tipo 1 ao PFVS, de menor porte e IMRS de valores opostos, formaram o único par que se diferenciou quanto ao cenário da assistência social. Os demais pares de municípios-caso, independente de IMRS ou resultado de metas no PFVS diferentes, apresentaram índices de assistência social semelhantes, classificados como médio ou baixo. Nos municípios-caso o Índice de Renda/Emprego não encontrou relação com as políticas de assistência social. Destaca-se que a predisposição no conjunto de 853 municípios mineiros foi de uma associação inversa entre o desenvolvimento de políticas de assistência social e o Índice de Renda/Emprego do município (p<0,0001). A responsabilidade municipal com a cultura local identificou-se pela disponibilidade de equipamentos diversos como museus, teatros, cinemas, bibliotecas, centros culturais, grupos artísticos, dentre outros, além da presença de estruturas gestoras na área. Nesse setor, os municípios-caso de adesão tipo 1 ao PFVS, com melhor IMRS, se destacaram. Situação contrária ocorreu para o par de municípios com adesão tipo 2 ao PFVS que se diferenciavam pelos resultados alcançados no mesmo, visto que o de pior resultado apresentou melhor Índice de Cultura. Os municípios de adesão tipo 1, com melhor IMRS, tiveram destaque na responsabilização quanto à educação. O par de municípios com adesão tipo 2 ao PFVS, de resultado em contraste quanto ao mesmo, não obteve diferenças entre seus Índices de Educação. Dentre os oito municípios-caso apenas um alcançou nível de responsabilização médio (0,600-0,699) quanto ao setor educação, os demais ficaram entre baixo ou muito baixo, como cerca de 94% dos municípios mineiros. Todos os municípios-caso comparados entre si, com melhor IMRS ou melhor resultado no PFVS, apresentaram melhores Índices de Esporte/Lazer/Turismo. Os municípios-caso de adesão tipo 1 e 2 ao PFVS, respectivamente, com melhores IMRS e melhor resultado no PFVS, também obtiveram melhores condições ambientais. Faz-se constar que dentre os 853 municípios os melhores Índice de Saneamento/Habitação/Meio Ambiente estavam nos municípios maiores (r=0,48; p < 0,0001) e com melhor renda (r=0,18; p < 0,00001). Os municípios-caso de maior IMRS apresentaram melhor resultado quanto à segurança pública. Já os municípios-caso comparados pela distinção entre os resultados no PFVS, apresentaram correlação inversa, sendo que o de melhor resultado no Projeto foi o que teve pior segurança pública dentre todos. Em geral, nos municípios de MG, os sub-índices do IMRS referentes à renda/emprego e segurança pública não se relacionaram (p>0,05), sendo que quanto maior o porte populacional, pior foi a situação da segurança pública (r= - 0,11; p < 0,001). Os resultados apontaram que os municípios-caso de IMRS em contraste, independente do tipo de adesão ao PFVS, apresentam maior disparidade quanto às políticas públicas analisadas e que nem sempre as mesmas estiveram relacionadas à renda ou porte do município. O contexto municipal do município de adesão 2 ao Projeto, com melhor resultado quanto às metas pactuadas, não foi mais favorável no que tange à responsabilização com a assistência social, cultura, educação e segurança pública. A identificação prévia desses diferentes contextos favorece a melhor compreensão da descentralização da VS, visto que a capacidade de gestão dos municípios é determinada por desigualdades sociais, econômicas, políticas e pelos mecanismos de gestão adotados. Portanto, faz-se necessário aprofundar o estudo no âmbito dos municípios-caso, a fim de se obter maiores explicações quanto a possíveis condicionantes dos serviços da VS/ESF e respectivas ações de vigilância desenvolvidas.

Palavras-chave


ação intersetorial; integralidade em saúde; vigilância da saúde

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