Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
ATUAÇÃO DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE: UM OLHAR PARA A SUBJETIVIDADE
Eoclésio Valdemor da Silva, Josenildo Cardoso Cavalcante, Vaniana Oshiro, Talita Martins Golf, Elenita Sureke Abilio

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente trabalho é uma descrição de experiência e faz parte do projeto de extensão acompanhamento e apoio técnico ao programa PMAQ-AB (Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica) e foi se delineando durante as Supervisões do Estágio de Processo de Gestão em Saúde I e II do Curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera. O projeto foi realizado entre os meses de abril e setembro de 2015 na Unidade Básica de Saúde (UBS) - nº29, localizada na Rua das Jaqueiras, S/N, Jardim Colibri, Dourados/MS, e abarcou o contato direto e escuta aos usuários na unidade, a participação nas reuniões quinzenais de equipe e o acompanhamento do trabalho de Agente Comunitário de Saúde (ACS) na unidade e durante visita domiciliar, dentre outros. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O trabalho de Agente Comunitário de Saúde (ACS) no Brasil teve início em 1991, nessa época não havia qualificação e nem regulamentação profissional. Em 2002 a profissão é criada em termos de lei, e revogada em 2006 para ser ajustada. A nova regulamentação da profissão ocorre pela Lei Nº 11.350 de 05 de outubro de 2006. As atribuições dos profissionais ACS – e da equipe de saúde da família – são estabelecidas pela Política Nacional de Atenção Básica, através da portaria nº 648/GM de 28 de março de 2006. Algumas atribuições são específicas e outras comuns a todos os profissionais de saúde (BRASIL, 2012). Dentre as várias atribuições específicas para os agentes comunitários, destacam-se o acompanhamento, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. Estar em contato permanente com as famílias desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde e a prevenção de doenças e conforme o planejamento de equipe (BRASIL, 2012). A UBS 29 é subdivida por seis microáreas e possui cinco ACS, cada um responsável por aproximadamente 150 famílias. No entanto, além dessas famílias, as ACS se dividem para conseguir atender diversos usuários que requer sua atenção da microárea descoberta. Conforme Vasconcelos (1997) o trabalho de suporte que o ACS desenvolve nas equipes de saúde sinaliza que, além da sobrecarga com tarefas de sua atribuição, passa a ser “tapa-buraco” na ausência de outros profissionais na equipe. Os agentes enfrentam inúmeros desafios para realizarem o trabalho, a exemplo da insatisfação do usuário com o serviço de saúde, sobrecarga de trabalho devido à falta de profissionais, equipamentos e condições insuficientes para dar seguimento ao trabalho, dentre outros. Nesse sentido Simões et al. (2007) coloca que quando não há um ambiente adequado e falta materiais pode acarretar em prejuízo na motivação dos profissionais. Para exercer a profissão de ACS é exigido residir na área da comunidade que atuar (BRASIL, 2006), o que pode acarretar numa extensão do trabalho à vida particular. Para Lunardelo (2004) o contato com a população gera intenso envolvimento pessoal e desgaste emocional para esse profissional. Com isso, os usuários recorrem aos ACS mesmo quando não estão no expediente, como em locais públicos ou em suas residências até na madrugada. Dessa maneira, eles continuam sendo agentes 24h, sem folga e sem final de semana. Assim, o espaço de trabalho se confunde com o espaço do viver particular e se torna público podendo acarretar em sofrimento psíquico adicional. Ao adentrar a casa do usuário, o agente carrega consigo a intimidade dos moradores, seu mundo privado e, consequentemente, novas relações permeadas de significados e sentimentos acontecem. Nesse contexto, a vida social do ACS ocorre no mesmo espaço que a dos usuários da unidade e suas atitudes se tornam de conhecimento de todos. RESULTADOS: Os resultados obtidos com a experiência de estágio na UBS nº29 foram compostos pela oportunidade de conhecer a realidade de trabalho dos trabalhadores e profissionais que integram a equipe de saúde da unidade, especificamente o desenvolvido pelas agentes de saúde, que vai além do que está prescrito para sua atuação, identificando assim a carência de um olhar voltado para a subjetividade que permeia essa profissão. Além do mapeamento realizado na unidade pelos estagiários, as experiências foram compartilhadas com outros participantes também envolvidos com o projeto e com representante da Secretaria Municipal de Saúde. Essa troca de experiências possibilitou o debate e a busca por ações resolutivas de questões apresentadas para cada realidade. Ademais, a convivência com as ACS da UBS nº29 estabeleceu uma importante relação de vínculo com os estagiários, o que possibilitou a utilização do processo dialógico (roda de conversas, acompanhamento na visita domiciliar e etc.) para expor situações complexas que enfrentam na profissão, inclusive questões de ordem pessoal que reflete no trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A obrigação de residir na mesma localidade de atuação, acarreta uma exposição excessiva e vários sentimentos permeiam a subjetividade do agente de saúde, que mantém profunda relação de pertença com a comunidade da UBS. Pois o espaço em que vive é o mesmo onde atua e as pessoas da sua realidade social são as mesmas para quem dirige as suas ações de cuidado (SPIRI, 2006). É importante ressaltar que o trabalho de agente comunitário não se restringe a decepções e frustrações, na maioria dos casos eles conseguem auxiliar o usuário da unidade da melhor maneira possível. A mesma fonte que ocasiona sofrimento é a mesma que gera prazer e reconhecimento por parte dos usuários.

Palavras-chave


Palavras-chave: Agente Comunitário de Saúde. ACS. Subjetividade.

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Série E. Legislação em Saúde).

BRASIL. Política Nacional de Atenção Básica. Série Pacto pela Saúde volume 4. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 66p.

LUNARDELO, S.R. O trabalho do agente comunitário de saúde nos núcleos de saúde da família em Ribeirão Preto. 2004. Dissertação (Mestrado) - Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. 2004.

SIMÕES, A.L.A. et al. Humanização na saúde: Enfoque na atenção primária. Disponível em: <http://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/0309.pdf.> Acesso em: 03 Out. 2015.

SPIRI, W.C. A identidade do agente comunitário de saúde - uma abordagem fenomenológica. Cienc. Saude Colet., 2006. Disponível em: <http://www.abrasco.org.br/cienciaesaudecoletiva/artigos>. Acesso em: 03 Out. 2015.

VASCONCELOS, E. Os novos profissionais: as auxiliares de saúde. In: VASCONCELOS, E. Educação popular dos serviços de saúde. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1997, p. 51-57.