Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Avaliação do Nível de Conhecimento sobre Medicamentos de Pacientes que Fazem Tratamento Antineoplásico Via Oral
Fausi Padilha Gonçalves, Ângelo Rodolfo Santiago, Silvia Regina S. de Azevedo, Rogério Dias Renovato

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


APRESENTAÇÃO: Durante a última década, verificou-se mudança no tratamento do câncer, inserindo também a possibilidade da administração de drogas orais. Um grande número de agentes anticâncer orais foi aprovado e agora têm sido amplamente utilizados em todo o mundo. Em comparação com a terapêutica intravenosa, o tratamento anticancerígeno oral é atraente porque oferece grande comodidade e flexibilidade em termos de horário e local de administração e parecer atenuar as representações negativas sobre a quimioterapia endovenosa. No entanto, isto também significa que os pacientes-usuários-seres humanos devem assumir maiores responsabilidades para o seu tratamento, com relação à aderência, manipulação segura de suas drogas e melhor compreensão da farmacoterapia (CHAN; LEOW; SIM, 2009). Uma das principais causas da não adesão de pacientes ao tratamento medicamentoso pode ser a insuficiência de informações em relação ao tratamento e da doença e também a não compreensão das orientações recebidas através dos profissionais de saúde. De acordo com alguns estudos, a ausência de informações relacionadas aos medicamentos é uma das principais causas responsáveis pelo uso em desacordo com a prescrição médica, e isso ocorre em cerca de 30% a 50% dos pacientes (SILVA, SCHENKEL, MENGUE, 2000), no entanto, outras dimensões precisam ser verificadas não se restringindo apenas a uma perspectiva unidimensional. Essa falta de conhecimento ou compreensão da farmacoterapia sobre o correto uso de medicamentos pode influenciar diretamente no inadequado cumprimento do tratamento, e desencadear em automedicação, reações adversas, interações medicamentosas deletérias, intoxicações, erros e falhas no tratamento (VIEIRA; PERASSOLO, 2011). O correto cumprimento da prescrição medicamentosa é um dos componentes da assistência clínica que requer avaliação, atentando para a compreensão do paciente-usuários-ser humano sobre o seu tratamento medicamentoso e o desvelamento de suas vivências. O conhecimento e compreensão do paciente-usuário-ser humano sobre a prescrição pode influenciar na comunicação dialógica com os profissionais de saúde (FROHLICH; PIZZOL; MENGUE, 2010). Apesar da sua importância, a adesão à terapêutica depende de múltiplos fatores não apenas individuais, mas sociais, econômicos e culturais. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: para a realização deste estudo foi realizado uma revisão bibliográfica sobre metodologias e instrumentos de avaliação sobre nível de conhecimento sobre medicação e sua possível aplicação na terapia antineoplásica oral. RESULTADOS: No que se refere à busca de informações, a maioria das pessoas tendem a recorrer às bulas para adquirir conhecimento sobre a utilização de medicamentos, no entanto, muitas dessas bulas não atendem as exigências estipuladas em lei, apesar da obrigatoriedade de ser oferecida aos consumidores (VIEIRA; PERASSOLO, 2011). Apesar de existir poucos estudos relativos ao nível de informações que os pacientes possuem acerca dos medicamentos prescritos, existem algumas pesquisas a respeito do nível dessas informações como um estudo onde se verificou que 27% dos pacientes apresentavam conhecimento insuficiente sobre o medicamento Digoxina, 50% possuíam conhecimento regular e 11% bom (SILVA, SCHENKEL, MENGUE, 2000). Com o intuito de avaliar o conhecimento do paciente sobre a prescrição medicamentosa, FROHLICH; PIZZOL; MENGUE (2010) desenvolveu e avaliou um instrumento para avaliação deste nível de conhecimento obtido, este instrumento fundamentado em um modelo teórico proposto por Presseret al. (2004) permitiu examinar a lacuna existente entre o que o paciente-usuário-ser humano realmente sabe e o que deve saber sobre seus medicamentos, possibilitando assim, determinar a prevenção, educação e acompanhamento, a fim de evitar problemas relacionados ao uso de medicamentos (FROHLICH; PIZZOL; MENGUE, 2010). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar de que no Brasil os estudos acerca do nível conhecimento de pacientes que utilizam quimioterapia oral são escassos, a disponibilização e o acesso à informações constitui apenas uma das ferramentas para assegurar o uso seguro da medicação. Desta forma, o processo educativo e cuidativo relacionado ao uso de medicamentos podem prevenir e auxiliar na compreensão do tratamento e assim empoderar o paciente-usuário-ser humano (SILVA, SCHENKEL, MENGUE, 2000). A maioria dos autores enfatiza a importância o uso de artefatos educativos impressos com a finalidade de reforçar a compreensão do regime medicamentoso prescrito. Porém, investigações sobre o conhecimento da farmacoterapia ainda são insuficientes no Brasil (CECCATO et al. 2010). Neste contexto a educação em saúde pode constituir em estratégias de transformação e formação da consciência crítica sobre saúde-adoecimento-cuidado, promovendo rupturas em práticas educativas restritas ao repasse de informações (CARVALHO, 2009). A educação em saúde não deve ser exclusivamente informativa, mas proporcionar aos usuários a reflexão sobre as bases sociais de suas vidas para que possam entender a saúde com um direito social e não como uma concessão (ALVES; NUNES, 2006). Estudos realizados em diversas regiões do mundo comprovam o efeito positivo dos processos educativos através das intervenções educativas voltadas para incentivar e apoiar pacientes-usuários-seres humanos a assumirem a responsabilidade perante seus problemas de saúde de modo crítico e criativo. Um exemplo que podemos citar foi o estudo realizado com pacientes-usuários-seres humanos com Diabetes Mellitus que ao receberem um tratamento eficiente, aconselhamentos, acompanhamento regular e apoio ao autogerenciamento apresentaram uma melhora importante quanto ao controle glicêmico, prevenção e controle das complicações (PEREIRA, et al., 2012). A importância dessa prática fica mais evidente pelo fato de ainda não estar inserida em todos os serviços de saúde, pois neste estudo sobre intervenções educativas em pacientes com diabetes, o autor destaca um numero significativo de déficit de conhecimento e de habilidades sobre o manuseio da doença de 50% a 80% dos pacientes (PEREIRA, et al., 2012). Pode ser que a maior dificuldade ainda encontrada em se praticar estas intervenções esta em como promover o autocontrole ou o autocuidado sobre os problemas de saúde. Desta forma, a escolha das técnicas educacionais deve ser de suma importância, por isso essas técnicas estão evoluindo ao longo dos anos de forma que melhore as apresentações didáticas para a prática das intervenções, e assim propiciar a autonomia do paciente através de sua participação e colaboração (PEREIRA, et al., 2012). Portanto, as intervenções educativas em saúde que levam em conta as experiências, espaços de diálogos podem enriquecer e fortalecer a relação terapêutica, contribuindo para o protagonismo que se evidencia em melhor conhecimento e compreensão do tratamento medicamentoso (RENOVATO; TRINDADE, 2004). Assim, o conhecimento de paciente sobre medicamentos torna-se de suma importância, principalmente no tratamento antineoplásico oral, devido à alta complexidade envolvida neste tipo de farmacoterapia.

Palavras-chave


conhecimento sobre medicação; antineoplásico oral; educação em saúde

Referências


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