Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A INSERÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS E O REFLEXO NA PRÁTICA DA RESIDENCIA MULTIPROFISSIONAL
Catheline Rubim Brandolt, Márcia Yane Girolometto Ribeiro, Tanise Martins dos Santos

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


INTRODUÇÃO: O presente trabalho relata a experiência da nutricionista e psicóloga que participam do movimento social de uma cidade na região centro-oeste do Rio Grande do Sul e propõe-se apresentar reflexo desta vivência na prática de atuação na Residência Multiprofissional (RM). No Brasil os movimentos sociais ganharam importância a partir da década de 1960 quando a população estava insatisfeita com as transformações ocorridas tanto no campo econômico e social, entretanto na década de 1950, os movimentos nos espaços rurais e urbanos já adquiriam visibilidade. O seu conceito é utilizado por autores de diversos quadrantes teóricos que entendem como à ação coletiva de um grupo organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico. Desse modo, citamos como exemplo, o surgimento do movimento popular de caráter reivindicatório no final dos anos de 1970 e início dos anos 1980 como o Movimento da Reforma Sanitária que pretendia a construção de uma nova política de saúde efetivamente democrática, tomando por base a equidade, justiça social, descentralização, universalização e unificação como elementos essenciais para a reforma. Assim surge o Sistema Único de Saúde (SUS) ao qual sofreu inúmeros avanços e destacamos um de seus princípios que julgamos indispensável para sua permanente construção que é o controle social garantido constitucionalmente na participação do processo de formulação das políticas de saúde e do controle da sua execução. Em face de algumas fragilidades que este sistema enfrenta, surge em 2005 uma proposta de política de formação profissional para o SUS, ou seja, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde, desenvolvido pelo Ministério da Educação e pelo Ministério da Saúde. Neste contexto, o objetivo deste relato de experiência é descrever a importância da inserção nos movimentos sociais e o reflexo dessa vivência na prática da residência multiprofissional. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS: A inserção na militância surgiu a partir da experiência de extensão em que participaram as atuais residentes através das Vivências e Estágios na Realidade do SUS (VER-SUS) que propõe um espaço de educação em saúde contra-hegemônico, horizontal, participativo e multiprofissional, com uma reflexão sobre a realidade social, educacional e da saúde brasileira. É um estágio de vivência que permite aos participantes experimentarem um novo espaço de aprendizagem que é o cotidiano de trabalho das organizações e serviços de saúde propondo atividades de aprofundamento teórico, a partir de seminários e oficinas didático-pedagógicas sobre aspectos da gestão do sistema, estratégias de atenção, exercício do controle social e processos de educação na saúde e no campo.  O VER-SUS possibilita o despertar de uma visão ampliada do conceito de saúde, abordando temáticas sobre Educação Permanente em Saúde, quadrilátero da formação, aprendizagem significativa, interdisciplinaridade, Redes de Atenção à Saúde, reforma política, discussão de gêneros, movimentos sociais, questões que estão intrinsecamente relacionadas à saúde, ao SUS. O VER-SUS originou-se pela necessidade de abordar a realidade da saúde pública brasileira, a qual era precariamente elucidada, mesmo em Universidades Federais. As edições realizadas no RS têm atingido esse objetivo efetivamente, por serem construídas por movimentos sociais feminista, indígena, população negra entre outros). Neste espaço é possível reconhecer principalmente o lado “ser político” em cada vivente imerso bem como pode-se obter um diálogo permanente com os formadores de opinião através dos movimentos sociais que são convidados a compartilhar suas histórias de sujeitos ativos. O impacto desta vivência permite refletir no campo prático da residência multiprofissional um olhar mais crítico e reflexivo do processo de trabalho buscando o diálogo contínuo com a equipe de saúde como também permitindo a problematização e debates acerca da forma como as questões de saúde pública e coletiva são abordadas no sistema de saúde, bem como são transmitidas para a população. Além disso, notamos que os profissionais da saúde engajados na militância de múltiplos grupos, gênero e culturas conseguem compreender não só do ponto de vista individual/clínica, mas para além da demanda do processo saúde-doença. Com isso, é importante ressaltar que a sensibilidade presente na escuta, aconselhamento, construção coletiva e reconhecimento da importância de cada membro do grupo ou no caso dos sujeitos que compõe a comunidade atendida bem como relevância de suas vulnerabilidades e potencialidades, são notadas e equiparadas com mesma relevância, assim muitas propostas direcionam-se às ações voltadas para uma educação popular junto aos usuários.  Outra questão é a construção de vínculo e empatia, que sai da teoria e se aproxima da realidade, já que devido às vivências na militância, por vezes há uma maior implicação já que se experimentou enquanto grupo as dificuldades e potencialidades da construção de confiança e vinculação em outro ambiente e pessoas. Ainda é notável o embasamento crítico durante os debates em sala de aula e por momentos no serviço, quando a RM assume a posição de questionar e disparar novos projetos de planejamento no trabalho. Conhecer e reivindicar os direitos e deveres de participação em espaços de controle social também são características presentes na maneira de atuar no cotidiano. Se somos atores ativos das cenas de formação e trabalho, os eventos em cena nos produzem diferença, nos afetam, nos modificam, produzindo abalos em nosso “ser sujeito”, colocando-nos em permanente produção. O permanente é o aqui-e-agora, diante dos problemas reais, pessoas reais e equipes reais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A implicação nos movimentos sociais para as atuais residentes em saúde, implica na própria construção de suas formas de atuação no serviço, como disponibilidade em levantar questionamentos, realizar reflexões críticas sobre como é alcançado e a importância do trabalho em equipe, reconhecendo os múltiplos posicionamentos e contribuições ao cuidado integral do usuário, bem como apresenta possibilidades de não alienação perante o sistema que por vezes recai a rotina queixosa. Assim sendo, participar da militância possibilita reconhecer que há em todos agentes políticos que planejam, desejam e lutam por ideais, só que durante os espaços de construção vivenciados nos movimentos sociais instigam a força e necessidade em se reconhecer como membro importante do grupo e notar demais sujeitos que lutam por questões próximas ou iguais. Portanto, o homem é um ser autônomo e também é ser da práxis (ação e reflexão) capaz de agir sobre a sua realidade sendo o verdadeiro ator social e sujeito do próprio processo de desenvolvimento.

Palavras-chave


movimento sociais;atenção básica; multidisciplinariedade

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Residência multiprofissional em saúde: experiências, avanços e desafios. Brasília, 2006.

REDE UNIDA.VER-SUS Brasil: cadernos de textos. Associação Brasileira da Rede Unida; organização de Alcindo Antônio Ferla, Alexandre de Souza Ramos, Mariana Bertol Leal, Mônica Sampaio de Carvalho. Porto Alegre, 2013.

TOLEDO, L. M. de; SABROZA, P. C. (Org.) Movimentos sociais e saúde. Rio de Janeiro: ENSP/FIOCRUZ, 2013.