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EDUCAÇÃO POPULAR COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO À SAÚDE: UMA VIVÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA COM OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: A educação no trabalho do Agente Comunitário de Saúde (ACS) configura-se, como uma ferramenta importante, capaz de enfrentar a complexidade de situações emergentes no cotidiano do trabalho e gerar uma mudança engajada e política, ponto de partida para que estes profissionais ocupem espaços que os projetem como agentes de transformação social aptos a avaliar, refletir, criar e participar das práticas em saúde, possibilitando o crescimento pessoal e profissional. Com a necessidade de incentivar e divulgar a importância de medidas educativas que norteiem uma atenção integral e qualificada ao usuário do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como contribuir para a formação de profissionais com um novo olhar para as questões que envolvem o nível primário de atenção à saúde, esse relato de experiência tem como objetivo, descrever as vivências dos residentes em promoção à saúde na atenção básica com os agentes comunitários de saúde (ACS). DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo descritivo nos moldes de um relato de experiência acerca das vivências e estratégias de promoção à saúde implementada pelos residentes do Programa de Residência Multiprofissional Materno-Infantil do Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), em Santa Cruz-RN, durante o estágio na ESF. O referido estágio ocorreu na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Centro com início no dia 02 e término aos 30 de junho de 2014, perfazendo um total de 105 horas/mês. Na oportunidade, buscamos promover saúde por meio de atividades educativas, lúdicas e dinâmicas, com abordagem de temáticas pertinentes ao contexto. Assim, por meio de panfletos educativos, buscamos trabalhar temáticas tais como ergonomia no trabalho e exposição solar. Para isso, foram realizadas sessões de alongamento e dadas orientações a respeito de posturas corretas, peso das bolsas, e uso adequado do protetor solar. Realizamos ainda, discussões para a exposição de estudos de caso referentes às visitas domiciliares e às situações hipotéticas que buscaram resgatar o conhecimento dos profissionais e aprimorá-lo sob o enfoque multiprofissional, o que possibilitou reflexões acerca do cuidado prestado pelos mesmos à comunidade e a construção coletiva de novas formas de atuação. Vale ressaltar que como embasamento científico e metodológico para concretização das atividades educativas, fez-se uso do Método Participativo, este, promove a interação construtiva entre educador e educando, favorecendo a troca de informações, a livre comunicação e a construção de questionamentos que norteiem uma discussão saudável e produtiva. A partir da abordagem metodológica exposta, a equipe multiprofissional almejou de forma articulada, dinamizada e integrativa, interagir com os usuários e profissionais da instituição, gerando reflexões críticas acerca das mais diversas temáticas com o intuito de empoderá-los no que diz respeito ao autocuidado. Proporcionar um olhar de cuidado e atenção a estes agentes, tanto no que se refere aos aspectos físicos quanto psíquicos, foi estratégia importante à identificação de demandas que atestaram para a necessidade de ações voltadas à saúde do trabalhador. RESULTADOS: Considerando o agente de saúde também como um sujeito sob o risco de adoecer, verificou-se, em algumas atividades, o quanto a sobrecarga emocional, associada a sintomas físicos, muitas vezes, comprometia o desempenho dos mesmos no trabalho, tendo sido feito referência a sentimentos como medo, frustração, estresse, sensação de impotência, desvalorização e dificuldades em lidar com a culpabilização geralmente imposta pela população ao agente pela não resolutividade de algumas questões de saúde. Ante a existência de cargas psíquicas e também dificuldades de encontrar formas de proteção e consequente autocuidado, sabe-se que as atividades de promoção de saúde voltadas para este público, devem contemplar ações direcionadas à saúde mental dos mesmos de modo a minimizar as possíveis sintomatologias psíquicas que as afetações emergentes em sua prática de trabalho podem desencadear. Deste modo, contribuir para uma reflexão/ação na promoção da saúde mental dos mesmos configurou parte de nossa intervenção na UBS, visando o compartilhamento de afetações e a construção de estratégias de proteção, bem como o fortalecimento do vínculo entre a equipe. Barros e Barros (2007) destacam que este processo, além de aumentar a autonomia dos profissionais, permite transitar da dor ao prazer no trabalho. Acrescenta-se que a obtenção do equilíbrio necessário entre estas duas instâncias necessita ser constantemente estimulado como mecanismo protetor e promotor da saúde dos trabalhadores prevenindo os agravos físicos e psíquicos associados à atividade laboral. A educação para o trabalho possibilita não apenas solidez do conhecimento a ser aplicado no contexto do trabalho, mas o experienciar de conhecimentos da vivência enquanto ser humano. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Tal experiência se constituiu como importante oportunidade para o aperfeiçoamento de práticas de educação em saúde, ampliando as práticas educativas já desenvolvidas no ambiente hospitalar, possibilitando maior proximidade com os usuários e a visualização dos impactos e benefícios resultantes das ações, haja vista o vínculo existente entre a instituição e seus usuários. A partir desta experiência e, conhecendo a rede de saúde do município, foi possível refletir criticamente acerca do que é assegurado pela PNAB e da prática dos profissionais que atuam na mesma, podendo fazer um elo entre as ações realizadas e as deficiências que ainda existem no sistema. Nessa abordagem, reconhecemos as práticas de educação em saúde executadas durante o estágio, como importantes ações na qualificação da assistência aos usuários, à medida que proporciona o empoderamento dos ACS, possibilitando-os acesso à informação e o desenvolvimento da autonomia no cuidado à saúde. A saúde no Brasil tem sofrido uma remodelação da atenção primária, apresentando uma política de oferta de serviços básicos, acessíveis e de melhor qualidade com o objetivo de promover saúde e não apenas tratar o indivíduo. Dentre as estratégias usadas, a educação em saúde tem sido uma ferramenta bastante discutida e estudada. Outro instrumento utilizado visando o fortalecimento da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e de sua equipe tem sido a formação de profissionais voltados para a assistência primária em saúde. Desse modo, programas de residência multiprofissional estão sendo ampliados, compreendendo estágios nas unidades básicas de saúde a fim de abranger o conjunto das necessidades da pessoa em saúde por meio do trabalho em equipe, promovendo a humanização e a integralidade na assistência.
Palavras-chave
Agentes Comunitários de Saúde; Comunicação Interdisciplinar; Internato e Residência
Referências
DONADUZZI, D. S. S.; A educação para o trabalho na perspectiva do agente comunitário de saúde. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2012. Disponível em: < http://coral.ufsm.br/ppgenf/Dissert_Denise.pdf> Acesso em 23 jul. 2014.
LOPES, D. M. Q. Prazer, sofrimento e estratégias defensivas dos agentes comunitários de saúde no trabalho. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2009. Disponível em: < http://coral.ufsm.br/ppgenf/Dissert_Denise.pdf> Acesso em: 23 jul. 2014.
- Residência multiprofissional em saúde: experiências, avanços e desafios . Ministério da saúde. Secretaria de gestão do trabalho e da educação na saúde. Departamento de gestão da educação na saúde. Residência multiprofissional em saúde: experiências, avanços e desafios / ministério da saúde, secretaria de gestão do trabalho e da educação na saúde, departamento de gestão da educação em saúde. – brasília : ministério da saúde, 2006. 414 p.: il. – (série b. Textos básicos de saúde)