Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EXPERIÊNCIA DE UNIVERSITÁRIOS EM UM CAPS NO SUDOESTE BAIANO
Tamina de Lima Alves, Polyana Leal da Silva, Jaine Kareny da Silva, Luma Costa Pereira, Alana Libania de Souza Santos

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Antes da Reforma Psiquiátrica (RP) o cuidado a pessoa com sofrimento psíquico se restringia ao manicômio e pouco se discutia sobre a reintegração ao contexto social. Contudo, após a RP a sociedade precisou estar preparada para receber e lidar com essa demanda. Portanto, foi criada uma rede de serviços extra-hospitalar para recepcionar, tratar e interceder nas fases agudas e crônicas dos transtornos, bem como desenvolver garantias da consolidação da ressocialização (AMARANTE, 2008). Entre os avanços obtidos pelo movimento da RP está o Programa De Volta Para Casa, que visa assegurar aos portadores de transtornos mentais, com longo tempo de internação, assistência e acompanhamento em uma residência, sob a supervisão de um cuidador (BRASIL, 2002). Outros serviços de acompanhamento contínuo ou periódico como aqueles recebidos pelas Unidades Básicas de Saúde, ambulatórios, centros de convivência e atendimento de urgência em hospital geral do Estado também são disponibilizados pela rede de assistência (BARROSO et al., 2004). Existem ainda outros serviços alternativos às internações, como os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), criados em 2002, por meio da portaria nº 336 (BRASIL, 2002). Os CAPSs possuem atendimento psíquico e são divididos nas modalidades: I, II, III, AD (Álcool e outras drogas) e IA (Infância e adolescência). A implantação de cada tipo tem como base os parâmetros populacionais da seguinte forma: municípios entre 20 a 70 mil habitantes possui o CAPS I e rede básica com ações de saúde mental; municípios com mais de 70 a 200 mil habitantes possui o  CAPS II, CAPS AD e rede básica com ações de saúde mental; municípios com mais de 200 mil habitantes possui CAPS II, CAPS III, CAPS AD, CAPS IA, e rede básica com ações de saúde mental e capacitação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) (BRASIL, 2002). Esses serviços substitutivos estão divididos por todo o território nacional, contudo é importante identificar as unidades parceiras utilizadas no processo de ressocialização e quais ações são empregadas. Nesse ínterim, surge a proposta da universidade como instituição cooperadora. Assim, os objetivos das acadêmicas foram relatar a atividade educativa desenvolvida para os usuários e entender de que maneira o CAPS II auxilia os cuidadores/familiares na assistência a pessoa com sofrimento psíquico. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência sobre as ações desenvolvidas por acadêmicos de enfermagem, de uma instituição de ensino superior (IES), que realizavam atividades práticas da disciplina Enfermagem em Saúde Mental no Centro de Atenção Psicossocial tipo II (CAPS II) em um município no interior do sudoeste baiano entre o período de 10 à 20 de agosto de 2015, totalizando 8 encontros. RESULTADOS: O serviço do CAPS II tem por objetivo acolher as pessoas em sofrimento mental, prestando um acolhimento psíquico em uma perspectiva interdisciplinar, a fim de reinseri-los no contexto social, por meio do trabalho, lazer e exercício da cidadania, amparados pelo fortalecimento do núcleo familiar (MATOS, 2013). A reinserção pode ser ainda facilitada quando a sociedade civil fortalece este vínculo de cuidado. Nesse sentido, foi realizada uma parceria de uma IES com o CAPS II, onde os docentes e discentes de um curso do curso de Enfermagem propuseram a realização de ações educativas. Optou-se pelo direcionamento à dois públicos: os usuários do serviço do CAPS II e os seus familiares/cuidadores, que vivenciam todo o processo de adoecimento. Inicialmente foi proposto que os próprios usuários escolhessem um tema, sendo sugeridas as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). A execução de uma atividade que resultasse na tentativa de obter a atenção dos usuários provocou receio nas acadêmicas, não pela temática, mas pela dificuldade de adesão desse público nas ações educativas, conforme descrito pelos funcionários da unidade de saúde. Contudo, no decorrer da explanação sobre a temática houve participação significativa por meio de discussão, perguntas e contribuições. A segunda atividade ocorreu no formato de roda de conversa onde os cuidadores/familiares descreveram que o serviço do CAPS II fornece apoio matricial durante o dia, pois os usuários recebem a atenção de todos os profissionais, o que alivia a sobrecarga do cuidado. Além disso, os familiares apontam que a unidade de saúde os acolhe como amigos, ajudando-os a minimizar o sofrimento. Os cuidadores apontam ainda que por meio do CAPS II, a qualidade de vida dos usuários, tem melhorado consideravelmente, pois a unidade de saúde mental facilita o acesso aos outros serviços vinculados, mantendo assim a integralidade do cuidado. Observamos a satisfação e prazer do núcleo familiar em estarem inseridos no serviço, quando em comparação com os hospitais psiquiátricos, bem como a sua importância no cuidado contínuo dos usuários. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Através das visitas ao serviço, pôde-se desmistificar o pensamento que seria “difícil” lidar com os mesmos, por conta do medo, incerteza e por a pouca habilidade em lidar com usuários com transtorno mental. Apesar dos usuários terem déficit de atenção para realizar algumas atividades durante as oficinas, conforme exposto pelos funcionários, é notório que existe uma tendência para maior participação quanto às atividades envolvem assuntos de interesse. Portanto, recomenda-se que seja realizado periodicamente um levantamento de sugestões para melhor andamento das atividades propostas. Embora os familiares descrevessem as ações positivas recebidas pelo CAPS II, observamos que existem algumas limitações que carecem de atenção e brevidade de resolução, como número de profissionais insuficientes para atender a demanda no que concerne às visitas domiciliares, articular melhor os atendimentos de urgência e emergência, a fim de proporcionar um acolhimento adequado a esse usuário. 

Palavras-chave


CAPS, Saúde Mental , Sofrimento Psíquico

Referências


AMARANTE, P.D.C. O homem e a serpente: outras histórias para a loucura e a psiquiatria. 1 ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008.

BARROSO, A.G.C. et al. Transtornos mentais: o significado para os familiares. RBPS, [S.l.], v. 17, n. 3, p. 99-108, 2004. Disponível em: <http://ojs.unifor.br/index.php/RBPS/article/ view/686/2054 > Acesso em: 12.set.2015.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria 1996. Dispõe sobre as diretrizes da implantação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. 20 de agosto de 2007c.

BOTELHO, V.J.; LIMA, M.V. Percepção das emoções dos usuários do CAPS II: um relato de experiência. Fractal, Rev. Psicol. [online]. 2015, vol.27, n.2, pp. 160-164. ISSN 1984-0292.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM n° 336, de 19 de fevereiro de 2002. Define e estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial. Diário Oficial da União 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt0336_19_02_2002.html>. Acesso em: 12 set. 2015.

MATOS, LS. Os desafios da desinstitucionalização no campo da saúde mental no Distrito Federal. Monografia – UNICEUB. Brasília-DF, 2013.