Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Educação em saúde e a criação de vínculos com famílias em cenários de vivências no SUS
Bruna de Oliveira, Lucas Henrique Lenhardt, Vanderléia Laodete Pulga, Marindia Biffi

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO:A educação em saúde é fundamental para promover, proteger e cuidar da saúde da população e é um dos desafios na formação médica. Os atores sociais responsáveis pelo desenvolvimento dessa abordagem prática no SUS estão vinculados às equipes de saúde da Atenção Básica. O Curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul campus Passo Fundo (UFFS/PF) tem um dispositivo pedagógico de interação ensino-serviço-comunidades que ocorre por meio de vivências/imersões junto ao Sistema Único de Saúde. Pautado nessa ideia de concretização de vínculos a universidade proporciona aos discentes do curso de Medicina uma aproximação com famílias de municípios de realidades específicas como camponeses, assentados do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST), quilombolas, indígenas e de periferia urbana.  A partir disso, os estudantes refletem e compreendem as relações familiares, realizam atividades que auxiliam na avaliação do contexto familiar, convivem com sua rotina e pontuam determinantes de saúde-doença que fazem parte de suas realidades. DESENVOLVIMENTO:Por meio das vivências/imersões quinzenais os estudantes acompanham famílias previamente selecionadas que possuem especificidades, dentre as quais podemos citar: a presença de síndromes genéticas, usuários de álcool e drogas, doenças neurodegenerativas, pacientes acamados, doentes mentais e famílias desestruturadas por casos de encarceramento, ausência de saneamento básico e fragilidades devido ao luto. Assim, os estudantes convivem o dia inteiro acompanhando a rotina da família, dialogando, refletindo sobre suas particularidades, seu acesso ao SUS, suas relações interpessoais e sociais, assim como suas articulações comunitárias. Dentre as atividades realizadas é traçado um perfil da família usando instrumentos como genogramas, ecomapas, apgar, mapa domiciliar e outros dispositivos que auxiliam na Atenção Básica no atendimento, na avaliação clínica, principalmente em patologias de ordem hereditárias, ao que se relaciona com os determinantes sociais de saúde e as questões de gênero e vinculadas à violência, dentre outras.  Há ainda a realização de planejamento acerca do ambiente em que vivem, sugerindo mudanças que contribuam para uma melhoria no processo saúde doença. Após o levantamento de dados e de informações pertinentes às atividades estipuladas à semana, há uma reunião com a equipe de saúde para o repasse de conclusões e debates referente à medida que possibilitariam uma eficácia de resultados e medidas que auxiliariam ao estreitamento de vínculos, o que permitiria, quiçá, o repasse de situações intrínsecas do meio familiar e que até então são ocultas ao serviço de saúde. Todo material produzido nessas atividades é anexado ao prontuário da família, esclarecendo alguns pontos importantes e completando com os dados clínicos coletados durante as consultas médicas. RESULTADOS:A aproximação com as famílias nas vivências permitem um contato significativo sobre como se dá o mecanismo intrínseco de cada uma delas. Observaram-se muitas questões frequentes que incidem sobre os processos de saúde-doença e cuidados, destacando-se: a falta de instrução que dificulta o conhecimento sobre como usar adequadamente medicamentos e o serviço de saúde; informações referentes a dietas em períodos de tratamento; orientações sobre a higienização de ferimentos; o desamparo psicológico; a vulnerabilidade social que alguns entes estão submetidos no processo de luto ou de patologias degenerativas progressivas e a falta de informação de serviços prestados pela unidade de saúde que frequentam.Dentre as potencialidades identificadas destacam-se o efetivo trabalho das Agentes Comunitárias de Saúde que atuam há muito tempo na região o que permite um estreitamento de laços e de comunicação entre elas e às famílias, possibilitando uma efetividade dos serviços desenvolvidos. O conhecimento da história da família permite uma compreensão mais segura dos processos desencadeantes que as levaram a estarem naquela estrutura hoje, permitindo uma reflexão sobre mecanismos que poderiam influenciar de modo decisivo ou coadjuvante sobre a sua realidade atual. Os exercícios de utilização de instrumentos que avaliem as condições dessas famílias através do diálogo ou da imagem favorecem um contato mais palpável com a realidade e permitem que esses objetos sirvam de exemplo para, que, futuramente o manejo desse auxílio seja relevante e não apenas mais um artigo optativo e descrente de sua eficácia, como se observa hoje. Outro fator que levou ao debate quanto aos resultados é a possível manipulação que a família poderá fazer referente à sua história, já que é possível que boa parte de situações e dados importantes sejam omitidos aos acadêmicos, pois os vínculos são recentes. Todavia, mesmo diante de situações em que o medo, a insegurança e até mesmo o constrangimento de circunstâncias atuais ou lembranças que causam desconforto, como: o assédio sexual, a violência, o assassinato, o aborto e outras condições; acredita-se que, com o passar do tempo, e na medida em que o estreitamento dos vínculos se tornam realidade, pensa-se que fazendo uso da empatia e de uma escuta e observação qualificada e atenta, muitos indícios desses pontos serão evidenciados e decisivos na formulação de medidas que auxiliem o rumo dessas famílias e, que assim, contribua para enfrentar e superar as vulnerabilidades às quais estão presentes em seu cotidiano de vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS:O exercício dessa experiência por parte dos discentes é fundamental para a formação diferenciada, permitindo a visão sobre diferentes realidades dentro de um mesmo ambiente. A partir disso, o contato posterior à graduação no exercício médico, permitirá uma bagagem repleta de situações e instrumentos não muito utilizados hoje, mas que auxiliam na detecção de problemas e soluções de diversos setores que envolvem as famílias. Quando se refere aos municípios, o envolvimento da universidade e dos discentes nessa realidade permite pontuar situações que antes não eram vistas com tanto afinco, devido à onerosidade ou a falta de tempo da gestão. Já em relação às famílias, o convívio com os estudantes gera uma mudança na rotina e há uma construção de afeto mútuo o que permite uma facilitação nas informações necessárias para as atividades práticas. A prática de atividades que necessita do diálogo, da entrevista e da empatia, faz do acadêmico o protagonista de sua formação, aprendendo técnicas de abordagem e tomando cuidado para não ser invasivo e, ao mesmo tempo, não parecer passivo a todas as situações em que está sujeito. Assim, as vivências auxiliam não só na tentativa de elaboração de um profissionalismo humanizado, mas também na construção e aperfeiçoamento de técnicas semiológicas e clínicas, como também no exercício da relação com as pessoas, as famílias e comunidades, que serão usadas em outros componentes curriculares do curso de Medicina. Portanto, é evidente que a inovação no curso de graduação traz alguns desconfortos e desafios por parte dos profissionais que atribuíram essas atividades, aos municípios que alteram sua rotina para receber os acadêmicos e aos discentes que são levados à realidade do Sistema Único de Saúde e as famílias que possuem características peculiares.  Mas, esse conjunto de agentes sociais e profissionais é responsável por permitir reflexões sobre como se pode trabalhar, estudar e estabelecer educação em saúde em locais e espaços frágeis, vulneráveis e extremamente ricos em conteúdo e rede, que é a família e sua integração às demais entidades que oferecem serviço e permitem que essas continuem coesas e funcionantes.

Palavras-chave


Educação em saúde; vivência; imersão;