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EXILAMENTO DA VIDA E ASILAMENTO DE PESSOAS: MINICÔMIOS?
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
O trabalho relata a situação do asilamento de pessoas e exilamento de vidas através da situação exemplar das casas de repouso irregulares na cidade de Cachoeira do Sul/RS. Esses locais, que abrem irregularmente pelo país, abrigam idosos, pessoas em sofrimento psíquico, deficientes físicos e mentais e outras pessoas com os mais variados casos clínicos. A exclusão social consentida desses cidadãos e a institucionalização de caráter manicomial em menor proporção relembra os tempos anteriores à Reforma Psiquiátrica, por isso esses locais estão sendo chamados nesse estudo como “minicômios”. O estudo faz suas reflexões acerca do viver dos moradores das 23 casaspresentes em Cachoeira do Sul. Busca reconhecer os processos de subjetivação atuais a fim de entender o processo da naturalização do asilamento de pessoas através do exilamento de vidas. Também compreende a potência e a afirmação da vida no espaço dos minicômios, a fim de trazer reflexões sobre as diversas possibilidades do viver dos novos anormais. Foi utilizado como instrumento metodológico o censo clínico e psicossocial aplicado em duas casas asilares no município de Cachoeira do Sul, a Lar de Maria e a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Após a leitura desses documentos, foi feito um inventário a partir da leitura de todos os censos, estratificando quais os que possuíam maior grau de detalhamento sobre a condição do morar nesses espaços a partir de suas falas. A partir disso, foi feito uma análise a partir do conceito de saúde entendido por Foucault e por Nietzsche. Apesar das condições insalubres vistas e relatadas nas falas de muitos moradores ou confinados, percebeu-se que há uma vontade de vida expressada e referida, principalmente nas citações diretas dessas pessoas. A partir do conceito de Grande Saúde entendida por Nietzsche, revela-se que, apesar da condição degradante do exilo dessas pessoas, há muita expressão da vida e de saúde. Entende-se que a mudança dessas pessoas para outros locais públicos inclusivos, como os SRTs, ou para perto da sua família ou comunidade, pode gerar novas reinvenções para que essas vidas não sejam mais vivenciadas em espaços de morte. Conclui-se que a desinstitucionalização e a reforma Psiquiátrica tiveram um papel fundamental em acabar com as antigas e enormes instituições manicomiais e suas características excludentes. Entretanto, ressurgem novos pontos de luta antimanicomial nas casas asilares privadas como vistas em Cachoeira do Sul. É necessário repensar as políticas públicas, mas é urgente que essas vidas exiladas tenham condições de habitar novos ares no convívio social para que tenham condições de viver com saúde em um espaço de vida e não de morte.
Palavras-chave
Saúde, Educação e Sociedade