Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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AME HUAB: Uma nova forma de produzir saúde
Cilânea dos Santos Costa, Cecilya Mayara Batista, Danielle Cristina Gomes, Rayane Santos Lucena, Micarla Priscila Silva Dantas, Cláudio Orestes Britto Filho, Jéssica Rangel

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


O presente trabalho traz um relato de experiência do ambulatório de pediatria do Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), a partir do olhar da equipe de residência multiprofissional da instituição. O HUAB compreende uma unidade de ensino vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e desenvolve ações de Média Complexidade ambulatorial e hospitalar que é referência no atendimento materno-infantil para a região do Trairi do Estado, abrangendo quinze municípios circunvizinhos, que tem como missão: "Prestar assistência materno - infantil qualificada e humanizada, de referência regional, servindo a um ensino voltado para uma formação cidadã”, referencial para as ações desenvolvidas no serviço. Dentro dos ambulatórios disponibilizados na instituição, encontra-se o ambulatório de pediatria, que atende demandas por consulta de puericultura, acompanhamento de crianças portadoras de necessidades especiais, filhos de mães portadoras do HIV/AIDS, bem como, referência pediátrica para atenção básica dos municípios da região. Entretanto, em face de algumas fragilidades na atenção básica da região, o ambulatório acaba atendendo casos de baixa complexidade, em virtude da dificuldade de acesso ao acompanhamento adequado e realização de exames e tem se constituído uma via de atendimento dessas necessidades em saúde da população. O ambulatório pediátrico constitui cenário para a prática da equipe de residência multiprofissional, composta por profissionais de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Serviço Social, desde março de 2015. Participam ainda da consulta o pediatra, os residentes de pediatria e estudantes de medicina. A inserção da equipe multidisciplinar se deu a partir da compreensão da importância da participação holística nesse campo de atuação por parte da gerência de ensino e pesquisa e o pediatra responsável pelas conduções das atividades no referido ambulatório. O nosso primeiro contato com o cenário de prática se deu em julho do corrente ano. A percepção inicial que tivemos foi que o formato do atendimento não privilegiava uma abordagem multiprofissional, nem tampouco oferecia condições de trabalho adequadas para equipe.Cabe situar que o referido espaço da sala do ambulatório era inapropriado, sem oferecer ambiência física, social e profissional para o cuidado integral com as crianças e os adolescentes. Percebemos ainda, que embora houvesse um incentivo e valorização do profissional médico para nossa atuação no ambulatório, todo o modelo do cuidado girava em torno do saber médico, desde a busca pelos serviços através dos usuários, até os instrumentos utilizados na consulta, algo comprovado através do prontuário do paciente que só contemplava aspectos inerentes à intervenção deste profissional. Historicamente, as práticas de saúde tiveram na figura do médico o protagonista principal no cuidado em saúde, as demais profissões foram se inserindo de forma subsidiária e de complementaridade as suas ações, no sentido de melhorar o diagnóstico e adesão ao tratamento. Diante dessas situações mencionadas acima, a equipe de residentes passou a problematizar o processo de trabalho junto com profissional médico, no sentido de buscar uma melhor integração entre os saberes e transformar o formato dos cuidados a serem ofertados à comunidade usuária do serviço. Para tanto, passamos a desenvolver reuniões de planejamento, momento rico em discussões, interação e co-produção desse espaço de produção de saúde. Como deliberações e conquistas avançamos, na denominação, atualmente concebido como Ambulatório Multiprofissional Especializado (AME). Tivemos ainda mudanças do espaço físico, que conta com estrutura lúdica e acolhedora para atendermos as crianças, adolescentes e seus acompanhantes, conforme, preconiza a política nacional de humanização, que preconiza a ambiência como via para defesa dos direitos dos usuários a uma atenção acolhedora, resolutiva e humana. No que tange aos aspectos interventivos dos profissionais, em face da compreensão das necessidades de saúde da população atendida pela respectiva instituição, bem como identificadas as fragilidades e lacunas da rede de serviços da região, optamos por traçar um perfil do público-alvo que mais requer atenção multiprofissional, claro sem ferir a lógica da universalidade do acesso, conforme preceitua a Constituição Federal, mas visando a atenção a esses sujeitos, que mais demandam cuidados e que não têm recebido a assistência devida. Diante disso, entendemos que o público-alvo prioritário para as ações do AME deveriam ser as crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais, as crianças prematuras, as portadoras do HIV/AIDS e as sindrômicas. Diante disso, e por entendermos a saúde a partir da visão ampliada, o que pressupõe um atendimento para além da doença, percebendo todos os condicionantes e determinantes que incidem na saúde dos sujeitos e que perpassam os fatores socioeconômicos, culturais e ambientais, traçamos uma nova proposta de intervenção, de forma que contemplasse todos os sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde, como a equipe multiprofissional, a equipe médica e os usuários.  Diante disso, elaboramos um projeto de intervenção para a referida linha de cuidado, o qual é composto por consultas multiprofissionais com a utilização de um prontuário transdisciplinar, com a implantação de projeto terapêutico singular para os usuários (as) do AME, bem como um espaço destinado as discussões dos casos entre a equipe de saúde. Ressaltamos que ainda estamos na fase inicial, na qual já elaboramos um prontuário transdisciplinar, que se encontra em fase de testagem nas consultas multiprofissionais, uma vez que pretendemos institucionalizá-lo. O prontuário transdisciplinar permite a equipe multiprofissional apreender os sujeitos em sua totalidade, possibilita a identificação das necessidades em saúde deste, o que permite o acompanhamento da terapêutica a ser utilizada, dentro de uma perspectiva de construção coletiva desse cuidado. No que concerne a discussão dos casos com toda a equipe, além de contribuir para o processo de ensino e aprendizagem dos sujeitos envolvidos na proposta, tem como objetivo refletir sobre o quadro de saúde do usuário (a), os objetivos terapêuticos desenhados pela equipe e o usuário (a), as propostas de intervenção, bem como os encaminhamentos necessários a serem realizados junto a rede intersetorial e por fim a avaliação das ações propostas e seus respectivos resultados. Essa proposta encontra-se na fase embrionária, no entanto, não da forma como pretendemos instituir com a implementação e acompanhamento do Projeto Terapêutico Singular, que desenvolveremos junto a todos os usuários (as) que são acompanhados pelo AME. O projeto consiste no cuidado construído entre a equipe multiprofissional de saúde, os usuários (as), seus familiares, considerando as particularidades de cada sujeito Esse projeto terá impacto relevante como ampliação da atenção integral, com o fortalecimento da humanização no atendimento, protagonismo de todos os sujeitos envolvidos no processo de cuidar, destacadamente a maior autonomia dos profissionais. Maior contato com a rede intersetorial, redução dos encaminhamentos para especialidade do hospital, uma vez que os usuários tem uma equipe multiprofissional que o atende de forma integral, o que por sua vez acarreta na minimização e desconstrução do enfoque da burocratização, setorização, compartimentalização, algo que rebate na melhoria da adesão e continuidade do tratamento, respeitando sua autonomia, participação, protagonismo e co-responsabilidade entre as ações traçadas coletivamente. Diante disso, analisamos que o referido projeto de intervenção tem como proposta tornar essas práticas uma realidade a ser vivencia no cotidiano da instituição favorecendo o cuidado integral em saúde, o que contribuirá para melhoria da assistência prestada, como também para o processo de ensino e aprendizagem dos sujeitos envolvidos, uma vez que o hospital é um espaço de ensino e pesquisa.

Palavras-chave


Residência Multiprofissional em Saúde; Projeto Terapêutico Singular; Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente

Referências


Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: prontuário transdisciplinar e projeto terapêutico / Ministério da Saúde, Secretaria- Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

 

_____. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Saúde. Gestão participativa e cogestão. Brasília: Ministério da Saúde (MS); 2009.

 

_____. Ministério da Saúde (MS). Portaria GM n. 1130. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde (MS); 2015.

 

_____. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Lex: Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em 08 de nov. de 2015.

 

MENDES, E. V. Um novo paradigma sanitário: a produção social da saúde. 2. Ed. São Paulo: Hucitec, 1999.