Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE (RE)POVOAMENTO DO ESPAÇO PÚBLICO A PARTIR DA ATENÇÃO BÁSICA/ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE NO BRASIL E NA ITÁLIA
Gabriel Calazans Baptista, Brigida Lilia Marta, Cristian Fabiano Guimarães, Alessandra Xavier Bueno, Frederico Viana Machado, Ardigó Martino, Maria Augusta Nicoli, Alcindo Antônio Ferla

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


A pesquisa aqui apresentada está sendo desenvolvida em cooperação com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Rede Governo Colaborativo em Saúde, a Universidade de Bologna e a AgenziaSociale e Sanitária da Região Emilia-Romagna. Estas sãoinstituições que compõem o Laboratório Ítalo Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva, um dispositivo criado em 2014 que agrega diferentes universidades e instituições entre Itália e Brasil, com o objetivo de promover atividades de pesquisa, formação e troca de experiências no campo da Saúde Coletiva e da Atenção Primária em Saúde, visando a inovação e o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde de ambos os países. Existe uma aproximação histórica entre Itália e Brasil e uma influência recíproca na estruturação de sistemas de saúde públicos e universais baseados na Atenção Primária em Saúde, nos quais a participação é uma das diretrizes fundamentais, assim como a responsabilidade de defender os princípios teóricos da equidade, universalidade, participação, nas práticas e na formação dos profissionais de saúde. Atualmente estamos vivendo no espaço da globalização e de fortes transformações das necessidades de saúde, tais como o aumento das desigualdades, da vulnerabilidade social e das condições crônicas. Estes processos  revelam nitidamente os limites de uma abordagem técnica e setorializada, focada no cuidado hospitalar, e chamam para uma transformação da nossa abordagem em quanto gestores, profissionais e pesquisadores, seja do ponto de vista teórico que das metodologias e das ferramentas de trabalho. Coerentemente com esta visão, são vários os autores e as referências internacionais que apontam como fundamental a promoção de práticas que estimulem a participação social no planejamento e na formulação de novas estratégias de cuidado. Considerando o cenário e o período histórico descritos, tanto na Itália como no Brasil, é particularmente importante valorizar os espaços de participação no campo da saúde, bem como adquirir novas formas de análise e compreensão interdisciplinares em torno desta questão, por meio da estruturação de redes locais e internacionais que permitam a troca de experiências e de práticas, e a construção de novas ferramentas de ação. Tais elementos são úteis para desencadear processos de transformação de longo prazo, que possam oportunizar a criação de novas ideias que constituam arranjos organizacionais entre serviços de saúde de ambos os países. Em ambos os países existe o desafio de promover uma abordagem baseada no levantamento de problemas de saúde junto com a comunidade, potenciando espaços de participação e de construção compartilhada com todos os setores da comunidade, valorizando os territórios, os recursos formais e informais da população e o trabalho intersetorial. Partindo de tais considerações o objetivo desta pesquisa é  identificar e analisar experiências e práticas locais de participação nos serviços sociais e de saúde no Brasil e na Itália,  capazes de fazer avançar o princípio da integralidade nas políticas públicas no âmbito da atenção primária em saúde. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: descrição da experiência ou método do estudo Esta investigação é desenvolvida em articulação com os serviços de saúde de atenção primária tanto no Brasil quanto na Itália. A abordagem de referência é a das redes multilocais e multi-situadas, ou seja, o desenvolvimento de atividades que possam fortalecer a conexão entre diferentes atores institucionais ao nível local, tais como gestores, profissionais, comunidade, pesquisadores, em relação a analise de questões de interesse comum e transversal (cooperação multi-situada). Epor outro lado, estruturar redes internacionais que envolvam os territórios locais dos dois países (cooperação multilocal) a fim de conectar as boas práticas e as estratégias desenvolvidas a nível locorregional e readaptá-las nos próprios contextos de referência. A metodologia utilizada é a da pesquisa-intervenção, ou seja, o desenvolvimento de atividades a partir da imersão nos serviços e das necessidades concretas dos profissionais e da comunidade, através de ações que envolvam horizontalmente os sujeitos a partir de suas experiências, de seus recursos e das questões por eles identificadas como relevantes. A pesquisa é sempre acompanhada por atividades de formação e de intervenção para a transformação das práticas. A partir da imersão nos serviços, pretende-se, junto com os trabalhadores, produzir conhecimento e analisar os processos de participação em saúde, através da metodologia da pesquisa intervenção e de um modelo composto por várias etapas, entre as quais à análise de casos; a reflexão sobre como tais situações atravessam diferentes contextos sociais; e por fim a projeção de novos círculos de participação e intervenção. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: os efeitos percebidos decorrentes da experiência ou resultados encontrados na pesquisa. O projeto encontra-se na primeira fase, sendo previstos quatro anos de pesquisa, divididos em três etapas principais: Construção de uma “gramática conceitual” e uma estratégia metodológica comum (ano 1). Neste primeiro momento, por meio das experiências dos parceiros da pesquisa e da revisão da literatura internacional e nacional de referência, esta sendo construído um quadro teórico-conceitual comum entre Brasil e Itália, propicie aarticulação entre as diferentes compreensões sobre as práticas de participação. Da mesma forma, esta sendo elaborada uma metodologia que permita analisar de forma comparada o contexto italiano e o brasileiro em relação aos arranjos de participação social em saúde, com particular atenção sobre o efeito da participação nos processos de assistência, de gestão, de participação e de formação nos contextos estudados. A segunda etapa consiste na imersão nos serviços sócio-sanitáriose desenvolvimento de práticas inovadoras (anos 2 e 3); e terceiro momento consiste na análise de dados e elaboração de Relatório de Pesquisa (ano 4).   São objetivos específicos do projeto: - Promover aproximação entre os territórios através da construção de quadro teórico-conceitual comum; - Promover a construção de redes entre profissionais, acadêmicos e comunidade, no Brasil e Itália; - Identificar territórios, experiências e campos de análise; - Construir uma metodologia de análise e avaliação conjunta das experiências de participação nos dois contextos; - Analisar e avaliar as experiências de participação nos territórios identificados; - Investigar práticas que contribuam para qualificar os processos de gestão participativa e a governança pública sócio-sanitária. CONSIDERAÇÕES FINAIS:Busca-se entender que elementos podem facilitar a participação, tendo em vista a construção de um espaço público não-individual, que sirva como mecanismo de aproximação das políticas sócio-sanitárias e de produção da integralidade do cuidado através do acompanhamento das respostas locais dos serviços e da comunidade, contribuindo para a mudança do modelo de atenção à saúde, com foco na atenção primária em saúde.

Palavras-chave


participação social em saúde; cooperação internacional ; atenção primária

Referências


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