Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
O processo ensino-aprendizagem da dor através da Educação Interprofissional: um relato de experiência
Christiane Barbosa
Última alteração: 2015-11-30
Resumo
APRESENTAÇÃO: A Dor é um fenômeno complexo e a humanidade relaciona-se com ele desde os seus primórdios. Seu significado varia de acordo com as crenças e valores de cada povo, mas em todas as culturas, é unânime a idéia de que a dor é o principal motivo de sofrimento para o homem e é o sintoma mais comum em qualquer tipo de agravo à saúde. A grande maioria das pessoas que buscam um profissional ou serviço de saúde está lá para erradicar, minimizar ou evitar uma dor. Ela foi instituída como o 5º sinal vital, com o intuito de chamar a atenção dos profissionais de saúde para a importância do manejo adequado desse sintoma. O manejo adequado da dor inclui a conscientização do problema por parte dos profissionais de saúde, assim como a avaliação adequada desse sintoma, que tem características multidimensionais, e o tratamento efetivo, que inclui ações curativas, de reabilitação e de prevenção de novos eventos. Entretanto, existe um desafio para a equipe multidisciplinar, que deve apropriar-se de conhecimentos e desenvolver aprendizados sobre os cuidados específicos, de modo que possa oportunizar qualidade de vida e sobrevida às pessoas que sofrem de dor, assim como a diminuição do estresse e o fortalecimento de estratégias de enfrentamento em seus familiares. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO:Em razão da experiência na formação de profissionais em cursos de graduação em saúde e no manejo inadequado da dor por parte dos profissionais, em várias instituições, foi percebida a necessidade de se criar uma disciplina eletiva sobre dor, de caráter interprofissional, para que estudantes de vários cursos tivessem acesso e pudesse se evidenciar a interprofissionalização necessária para o melhor conhecimento sobre o tema. Educação interprofissional ocorre quando duas ou mais profissões aprendem sobre os outros, com os outros e entre si para a efetiva colaboração e melhora dos resultados na saúde. A educação interprofissional já é utilizada como estratégia de ensino em vários países e visa à formação de profissionais mais críticos, reflexivos, capazes de trabalhar em equipe e de aprenderem juntos com as outras profissões. A disciplina foi oferecida durante o segundo semestre de 2015, aos alunos dos cursos de saúde do campus da Universidade Paulista – UNIP, em Araraquara, interior de São Paulo. Os cursos convidados foram os de graduação em Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Biomedicina, Educação Física e Psicologia. Poderiam cursar a disciplina os alunos que já haviam concluído pelo menos até o quarto período dos seus respectivos cursos. A disciplina foi desenvolvida em vinte semanas, com carga horária de 4 horas semanais, totalizando 80 horas de aula. As estratégias de ensino utilizadas foram: aulas expositivas com vários profissionais diferentes, discussão crítica de estudos de caso de pacientes em ambiente hospitalar, desenvolvimento de projeto terapêutico singular de casos complexos passíveis de serem encontrados na rede de atenção básica, Como métodos de avaliação foram utilizados a leitura e confecção de resumos e resenhas de artigos científicos e de capítulos de livros sobre o tema, apresentação oral de estudos de caso e projetos terapêuticos singular. IMPACTOS: A experiência foi extremamente positiva. Os cursos de graduação da instituição em questão são completamente independentes um do outro. Não há relação formal entre os estudantes, pouco se sabe sobre a formação do outro, sobre o que o outro pode fazer, dentro da sua profissão, para promover a saúde e minimizar o sofrimento dos pacientes. Muitas vezes, a assistência em saúde é limitada pela falta de conhecimento do que o outro profissional pode fazer. Com essa disciplina, pode-se refletir sobre as demais práticas de assistência em saúde e foi possível compreender que aprendendo juntos, é possível trabalhar juntos por uma saúde melhor. A disciplina promoveu uma integração importante entre os estudantes, que certamente propicia relações mais saudáveis e respeitosas, e favorecerá um trabalho em equipe mais adequado, no futuro, quando tais alunos estiverem nos campos de atuação. A aprendizagem junto com outros estudantes na área de saúde, durante a graduação, pode melhorar os relacionamentos na prática profissional e ajudar a compreender as limitações de cada profissão. Em relação à produção de conhecimento sobre a dor, percebeu-se que a aprendizagem compartilhada com outros estudantes, aumenta a capacidade de compreensão do fenômeno e prepara os estudantes para lidar melhor com os pacientes e suas famílias. A educação interprofissional é a ferramenta que se possui para produzir uma prática colaborativa na atenção à saúde. Práticas colaborativas ocorrem quando profissionais de saúde de diferentes áreas prestam serviços com base na integralidade da saúde, envolvendo os pacientes e suas famílias, cuidadores e comunidades para que a atenção à saúde seja da mais alta qualidade em todos os níveis da rede de serviços. Muito foi questionado em relação à necessidade do envolvimento de todos para que a prática em saúde seja mais efetiva. No trabalho em equipe, a falta de competência de um pode sobrecarregar os demais e trazer insatisfação no trabalho e inadequação das ações de saúde. Apesar da necessidade de definição de papéis, os alunos ressaltaram que a sinergia entre os profissionais é imprescindível para o sucesso das ações de atenção em saúde que visam minimizar a dor dos envolvidos, sejamos pacientes ou seus familiares. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por se tratar de uma experiência pioneira nesta instituição, os resultados foram muito positivos, o que favorece a abertura de discussão sobre a inclusão de mais práticas interprofissionais nos cursos de saúde. A formação de docentes para a utilização de novas ferramentas de ensino se faz necessária, visto que durante o desenvolvimento da disciplina, muito se foi discutido sobre isso. Por ser a dor um fenômeno impactante, presente na prática diária de todas as profissões de saúde, é um tema propício para a realização de uma disciplina com enfoque na educação interprofissional. Sem dúvida, a escolha do tema tornou mais fácil o sucesso da ação educativa. Para exemplificar esse sucesso, ressalta se que já tem um grande número de estudantes dispostos a cursarem a disciplina no próximo ano. Enfim, com práticas como essa está imbutido o desejo de que a formação profissional se adeque às novas demandas sociais e que os futuros profissionais sejam mais capacitados para desenvolverem uma atenção à saúde com qualidade, integrando suas ações em benefício do outro.
Palavras-chave
dor; educação superior; educação interprofissional
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