Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Vivências em Saúde Coletiva: contribuições para a formação em saúde
Karini da Rosa, Suzane Beatriz Frantz Krug, Rosângela Rodrigues Marques

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


A educação superior em saúde no Brasil teve início em 1808 com a primeira Faculdade de Medicina na Bahia e o aprendizado, desde então, foi centrado prioritariamente no modelo biologicista, voltado aofuncionamento do corpo, dos órgãos e sistemas e doenças. A organização dos currículos e metodologias de ensino ainda é prioritariamente voltada a uma abordagem clássica, onde o ensino é considerado tecnicista no panorama de saúde brasileira. E é no descompasso entre a formação dos novos profissionais de saúde e as necessidades dos usuários do sistema que se encontra o entrave da relação entre serviços de saúde e ensino em saúde. Contudo, cada vez mais instituições formadoras, têm modificado essas realidades e investido fortemente em ações que visam redirecionar a formação em saúde, alinhados aos princípios e diretrizes das políticas publicas em saúde e educação, através de Projetos de Extensão, como afirmação da integração ensino-serviço e estratégias para as mudanças na formação da área da saúde, que incentivam os futuros profissionais sobre a importância do trabalho em equipe e para a visão ampliada em saúde. Assim, o objetivo deste trabalho é relatar experiências enquanto acadêmica do Curso de Graduação em Farmácia quanto a vivências em Projetos de Extensão, refletindo sobre os impactos na prática profissional atual em saúde. Enquanto estudante houve a participação em diversos Projetos de Extensão, entre eles, o “Programa de Educação Pelo Trabalho – Vigilância em Saúde/PET” – atuando no subprojeto intitulado “Vigilância em saúde: um estudo com trabalhadores cadastrados e não cadastrados na Unidade Municipal de Referencia em Saúde do Trabalhador de Santa Cruz do Sul”. Uma das ações desenvolvidas consistiu em um levantamento de dados secundários em prontuários de trabalhadores cadastrados na Unidade Municipal de Referência em Saúde do Trabalhador (UMREST), a fim de quantificar os agravos do trabalho ocorridos no município, em um determinado período. Realizaram-se também, capacitações aos profissionais de saúde, nas Estratégias de Saúde da Família (ESF), Unidades Básicas de Saúde (UBS) e também em uma instituição hospitalar de referência do município, com o intuito de sensibilizá-los quanto a promoção e prevenção no que tange as notificações em acidentes/doenças do trabalho e, a partir disto, torná-los aptos a identificar fatos decorrentes de tais situações, bem como otimizar o trabalho oferecido à comunidade. Houve também à inserção dos bolsistas em uma unidade básica de saúde (UBS) e em seis ESFs, onde se realizavam visitas domiciliares, a fim de fazer a busca ativa de casos de acidentes/agravos do trabalho, com ou sem notificação. Ações eram realizadas também em sala de espera, o qual se confeccionou um álbum educativo, com informações referentes à Saúde do Trabalhador, que contribuiu para aprimorar a visão do usuário em relação a sua saúde enquanto trabalhador, seus direitos e riscos diante da atividade ocupacional. Concomitantemente as atividades nos serviços de saúde, os estudantes eram instigados e sensibilizados a participar de congressos e eventos científicos, escrever trabalhos e artigos, a fim de divulgar os resultados e permitir aos gestores e a população em geral, ter conhecimento sobre os indicativos e problemas de saúde, no que tange a temática de saúde do trabalhador, no município de Santa Cruz do Sul. Trabalhou-se ainda, no subprojeto – “Tuberculose no Município de Santa Cruz do Sul: uma proposta de intervenção”, com atividades de atenção farmacêutica a pacientes portadores de Tuberculose Latente (ILTB) em tratamento quimioterápico, atendidos no Ambulatório de tuberculose no município de Santa Cruz do Sul – RS. Destaca-se, a relevância destas atividades, pois permitiram aos estudantes de farmácia uma visão ampliada de saúde, trabalhando com diferentes problemas de saúde, além disso, houve a integração ensino-serviço-comunidade, possibilitando ao estudante o contato direto com trabalhadores do sistema de saúde de diferentes áreas de atuação e usuários, destacando-se novamente, a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade. Participou-se também do projeto “Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS”) – onde ocorreu a imersão de estudantes de diferentes cursos da graduação na realidade dos serviços de saúde dos territórios de abrangência, constituindo-se assim, como um processo teórico, prático e vivencial. O participante fica 24 horas por dia, durante toda a vivência disponível para a atividade do projeto, de forma a observar os serviços de saúde durante o dia e a noite, discutir e compartilhar conhecimentos com os demais participantes. E no projeto “Grupo de Estudos e Trabalhos em Saúde Coletiva: protagonismo estudantil na formação em saúde” – que se configura como um coletivo estudantil, que tinha como objetivo principal fomentar mudanças na formação de estudantes da área saúde, além de politizá-lo e torná-lo sintonizado com os princípios e diretrizes do SUS. Para efetivação dos objetivos o coletivo ajudava na construção e organização de projetos e eventos como, aulas inaugurais e semanas acadêmicas integradas dos cursos de saúde da UNISC, roda de integração ensino-serviço, VERSUS/UNISC, cursos de extensão voltados a Saúde Coletiva, participação no Fórum de Saúde da UNISC, no Conselho Municipal de Saúde de Santa Cruz do Sul no segmento de usuários, na Comissão Municipal de Saúde Mental e na Comissão de Integração Ensino-Serviço (CIES 13). Embora o ensino farmacêutico não tenha como foco prioritário a Saúde Coletiva, alguns estudantes têm iniciativas de procurar Projetos de Extensão dentro da Universidade, que apontam para a construção de um perfil voltado as demandas e necessidades do SUS. Esses projetos constituem-se ainda, como importantes dispositivos que permitiram “preencher” as lacunas do processo de ensino e aprendizado na formação em saúde, possibilitando a estudante do curso de Farmácia experimentar um novo espaço de aprendizagem, desde o cotidiano de trabalho dos serviços de saúde até o espaço de pesquisa dentro da universidade, trabalhando-se com diferentes estudantes da graduação, profissionais e usuários. Apesar de ter uma pequena participação de profissionais farmacêuticos nas instâncias e ações do SUS, o farmacêutico é de fundamental importância, podendo com sua atuação, evitar uma série de problemas relacionados aos medicamentos, como a resistência antimicrobiana, uso irracional de medicamentos, intoxicações e reinternações hospitalares, entre outras. Enquanto profissional de saúde acredita-se na formação voltada para as necessidades dos usuários e serviços de saúde, além de sintonia com os princípios e diretrizes da política pública de saúde do país. A participação nesses projetos possibilitou uma visão ampliada de saúde, observando o usuário em sua integralidade e não apenas como portador de determinada patologia, que necessita de diagnóstico e determinado medicamento. Tenta-se inserir diariamente no ambiente de trabalho, ações voltadas a prevenção e promoção da saúde e, no que tange ao trabalho em equipe, acredita-se que essa prática possibilita a troca de conhecimento e agilidade no cumprimento do objetivo ou meta, portanto, sempre que possível trabalha-se em equipe. Também se procura exercer o papel de militante em defesa do SUS, acreditando que apesar de todos os desafios e problemas que o sistema enfrenta, ainda temos muito a avançar e melhorar a qualidade de vida da população. Não há dúvidas que essas “vivências” nos projetos transformam os que por eles passam, proporcionando reflexões e questionamentos sobre a formação. Ressalta-se que o estudante é ator do seu processo de ensino e aprendizagem, cujas vivências e experiências se devem também ao protagonismo estudantil na sua formação.

Palavras-chave


Formação; PET; VER-SUS

Referências


1. Canônico RP, Brêtas ACP. Significado do Programa Vivência e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde para formação profissional na área de saúde. Acta Paul Enferm 2008; 21(2): 256-61