Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A experiência do VER-SUS/Litoral Piauiense como Educação Permanente em Saúde
Antonio Ciro Neves do Nascimento, Paula Evangelista Ferreira, Vilkiane Natércia Malherme Barbosa, Sabrina Kelly Magalhães de Araújo, Gleyde Raiane de Araújo, João Rodrigo de Moura Carvalho, Larisse de Sousa Silva

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


Para produzir mudanças de práticas de gestão e de atenção, é necessário dialogar com as práticas e concepções vigentes, problematizando o trabalho em equipe e construir pactos de convivência e práticas que aproximem os serviços de saúde dos conceitos da atenção integral, humanizada e de qualidade, da equidade e dos demais marcos dos processos de reforma do sistema brasileiro de saúde. Assim cresce a importância de que as práticas educativas configurem dispositivos para a análise de experiências locais, da organização de ações em rede/em cadeia, das possibilidades de integração entre formação, desenvolvimento docente, mudanças na gestão e nas práticas de atenção à saúde, fortalecimento da participação popular e valorização dos saberes local. Este trabalho tem como objetivo apresentar a experiência do VER-SUS/Litoral Piauiense e perceber a sensibilização de práticas em Educação Permanente em Saúde para acadêmicos e futuros profissionais de saúde. A noção de "quadrilátero da formação" embasa uma invenção do Sistema Único de Saúde (SUS) para marcar o encontro da saúde com a educação: a Educação Permanente em Saúde - sugestão de uma ligação orgânica entre ensino (educação formal, educação em serviço, educação continuada), trabalho (gestão setorial, práticas profissionais, serviço) e cidadania (controle social, práticas participativas, alteridade com os movimentos populares, ligações com a sociedade civil). Pensar em Educação Permanente em Saúde é pensar em uma maneira de atuar diante das demandas que vêm emergindo no processo de saúde.  EPS pretende contribuir de forma significativa no campo do trabalho e atuação profissional, tendo como foco a problematização do próprio fazer.  Educação Permanente em Saúde seria não apenas uma prática de ensino-aprendizagem, mas uma política de educação na saúde, esforço de nomeação da ligação política entre Educação e Saúde. Acreditamos que os estágios e vivências constituem importantes dispositivos que permitem aos participantes experimentarem um novo espaço de aprendizagem que é o cotidiano de trabalho das organizações e serviços de saúde, entendido enquanto princípio educativo e espaço para desenvolver processos de luta dos setores no campo da saúde, possibilitando a formação de profissionais comprometidos ético e politicamente com as necessidades de saúde da população. Então, como o projeto Vivência e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS/Brasil), enquanto dispositivo, pretende estimular a formação de trabalhadores para o SUS, comprometidos eticamente com os princípios e diretrizes do sistema e que se entendam como atores sociais, agentes políticos, capazes de promover transformações? Aqui trago a experiência do VER-SUS/Litoral Piauiense como projeto motivador e transformador na atuação profissional de acadêmicos engajados com o SUS. O VER-SUS possibilita o despertar de uma visão ampliada do conceito de saúde, abordando temáticas sobre Educação Permanente em Saúde, quadrilátero da formação, aprendizagem significativa, interdisciplinaridade, Redes de Atenção à Saúde, reforma política, discussão de gêneros, movimentos sociais, questões que estão intrinsecamente relacionadas à saúde, ao SUS. A vivência é um processo de imersão teórica, prática e vivencial dentro do sistema de saúde dos territórios de abrangência. A imersão é uma metodologia onde o participante fica 24h por dia, durante todo o período da vivência, disponível para atividades do projeto. É criado então um espaço necessário para realização de observações e vivências frente à realidade do Sistema Único de Saúde, participando e interagindo em grupos. O Piauí é o estado marítimo de menor litoral, apenas 66km de extensão, começando na Barra das canárias (Ilha Grande do Piauí) – na fronteira com o Maranhão, perpassando pelos municípios de Parnaíba e Luís Correia, indo até a Barra da Timonha – na foz do rio São João da Praia (Cajueiro da Praia), na fronteira com o Ceará. É uma área estratégia de vivência pois, com uma área pequena envolvendo esses quatro municípios, percebemos como se dá a dinâmica do Sistema Único de Saúde nessa região. A partir destas questões, o Projeto VER SUS – Litoral Piauiense engloba os municípios de Cajueiro da Praia, Ilha Grande, Luís Correia e Parnaíba, através de um processo de cooperação técnica e científica entre docentes e acadêmicos das Instituições de Ensino Superior (IES) de Parnaíba e as Prefeituras Municipais destes municípios, tendo o objetivo de fortalecer o Coletivo do VER-SUS em Parnaíba, assim como em todo o estado do Piauí, ainda ter as Secretarias Municipais de Saúde dos municípios do litoral piauiense, sensíveis a proposta da Saúde Coletiva, iniciando o diálogo entres estes pares, tendo o Sistema Único de Saúde grande agente destas transformações. A vivência iniciou no dia 01 de março de 2015 e contou com 30 acadêmicos divididos nas áreas de enfermagem, medicina, psicologia, fisioterapia, serviço social, educação física, odontologia e farmácia dos municípios de Parnaíba, Teresina, Floriano e Picos.  Como pressupostos, trabalhou-se com a concepção de educação libertadora e com a relação profunda da Universidade com os movimentos sociais no campo da saúde, compreendendo que a experiência deveria encantar e implicar existencialmente os estudantes. Assim, o coletivo atuou de forma protagonista durante em diversos cenários durante 12 dias, desenvolvendo um processo de formação política e fortalecimento político afetivo. As atividades desenvolvidas de dividiram entre visitas (ida ao campo), sarau de afetos (atividades desenvolvidas pela comissão e/ou viventes) ciranda de vínculos (rodas de conversa com convidados) e diário de afecções (relatórios individuais e em grupos). Tivemos as seguintes visitas: Movimento Sem Terra (MST) no Assentamento Cajueiro, associações de pescadores, marisqueiras, catadores de caranguejo e rendeiras, à gestão de saúde dos municípios e à regional da macrorregião litorânea, à atenção primária, secundária e terciária, à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), aos Centros de Referencia da Assistência Social (CRAS) e Centro Especializado em Assistência Social (CREAS), sempre dos quatro municípios envolvidos. Nas cirandas de vínculos sempre recebíamos a visita de profissionais referentes às visitas realizadas para discutir sobre as atividades do dia. Temos então Educação Permanente em Saúde como estratégia fundamental às transformações do trabalho no setor para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva, propositiva. A experiência do  VER-SUS/Piauiense se finda em 12 de março de 2015 e com ela a proposta era contagiar  com um sentimento de missão cumprida e “passando o bastão” para aqueles que ali estavam e se interessariam na continuidade do projeto nas próximas edições. É nesse sentido que trazemos Educação Permanente em Saúde como centro privilegiado da aprendizagem, através da transformação no pensamento da educação na saúde, com a proposta que busca o processo de trabalho ressignificado. Foi unânime o interesse em continuar promovendo o VER-SUS no Estado, e, levando em consideração que foi alcançado os quatro Coletivos geograficamente distantes: Picos, Floriano, Teresina e Parnaíba.

Palavras-chave


Educação Permanente em Saúde; VER-SUS; Litoral Piauiense

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