Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O uso dos medicamentos psicotrópicos na perspectiva dos profissionais de saúde e pacientes – Revisão Sistemática
Agnes Fonseca Ribeiro Filardi, Vânia Eloisa de Araújo, Yone de Almeida Nascimento, Djenane Ramalho de Oliveira

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


INTRODUÇÃO: As discussões críticas sobre a expansão do uso dos medicamentos em campos sociais para a redefinição das experiências e comportamento humano têm sido realizadas desde a década de 1970, e ainda se apresentam como atuais. Os debates abordam questões como as perspectivas do uso excessivo de medicamentos na tentativa de transformar a experiência da dor em contrapartida ao uso esperado no tratamento das enfermidades. Na atualidade observamos um aumento significativo do uso dos medicamentos psicotrópicos para lidar com todas as formas de mal-estar e sofrimento humano. Os benzodiazepínicos e os antidepressivos em especial têm sido amplamente usados por longos períodos. Para conhecer mais sobre as crenças e as motivações para prescrição e uso dos medicamentos psicotrópicos foi desenvolvida uma revisão sistemática de estudos qualitativos que abordaram o uso do medicamento por adultos para lidar com as dificuldades, estresse ou eventos negativos da vida. OBJETIVO: Compreender o uso dos psicotrópicos na perspectiva dos profissionais de saúde e pacientes. MÉTODOS: Revisão sistemática de estudos qualitativos que abordaram a prescrição e o uso dos psicotrópicos para lidar com dificuldades, estresse ou eventos negativos da vida pessoal. Foram pesquisadas as bases de dados Medline (Pubmed), Cochrane, Psycoinfo, Lilacs, incluindo literatura cinzenta e busca manual (jun./2015). RESULTADOS: Um total de 568 publicações foi avaliado em etapas, sendo incluídos 26 estudos com 876 participantes. Os médicos prescritores sentem-se tocados pelos problemas dos pacientes, e percebem o uso do medicamento como um mal menor frente às dificuldades apresentadas. Os profissionais de saúde se preocupam com a dependência dos pacientes com os medicamentos e a pressão para prescrever psicotrópicos. Os pacientes sentem-se incapazes de resolver seus problemas e buscam a medicação como solução. CONCLUSÃO: Os medicamentos psicotrópicos foram descritos pelos médicos como seguros e bem tolerados pela maioria dos pacientes e efetivos para o alivio de sintomas leves e severos de tristeza, pessimismo e ansiedade, insônia crônica, entre outros. A decisão de prescrever era tomada baseada em critérios clínicos, tendo em vista também as restrições organizacionais de tempo, a falta de acesso para alternativas, o custo e a percepção da atitude do paciente. Os profissionais de saúde de um modo geral preocupavam-se com a possibilidade de dependência excessiva de medicamentos e a pressão para prescrever psicotrópicos para condições diversas da doença mental. As razões para o início do uso dos psicotrópicos variaram, mas uma proporção elevada dos participantes das pesquisas relacionou o uso com o estresse social. Os pacientes consideravam problemático usar medicamento para a “mente” e por isso eram ambivalentes quanto a sua utilização, mas não eram receptores passivos dos psicotrópicos, pois avaliavam o risco do uso, a dependência e o potencial de alienação social, em relação aos benefícios. A maioria decidiu que o psicotrópico melhorou sua qualidade de vida. Os sintomas gerados pela interrupção, experimentados ou imaginados, e o medo de recaída foram identificados como fortes barreiras para a cessação do uso. Palavras Chave: Psicotrópicos, pesquisa qualitativa, revisão sistemática.

Palavras-chave


Psicotrópicos; pesquisa qualitativa; revisão sistemática

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