Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A importância de conhecer o território em saúde na ótica do acadêmico de medicina
Vinicius Paiva Cândido dos Santos, Laysa de Souza Chaves Deininger

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


INTRODUÇÃO: O Sistema Único de Saúde (SUS) abriga como maior premissa de sua gênese proporcionar o acesso à saúde como direito constitucional para toda a população, sem discriminação nem distinção qualquer, por meio de um sistema que detém a capacidade de atender as necessidades de saúde de todos os cidadãos de forma integral, equânime e universal. Para efetivação dos princípios do SUS na atenção primária à saúde, lança-se como instrumento a territorialização, visto que é um processo de extrema importância, pois define o local de atuação dos serviços do primeiro nível de atenção à saúde e adscreve a população sob sua responsabilidade, auxiliando ainda, na compreensão dos determinantes e condicionantes do processo saúde/doença.  A atenção primária tem o dever de ser porta de entrada principal no sistema de saúde, visto que possui grande capilaridade e consequentemente maior proximidade das principais necessidades de saúde no âmbito individual e coletivo. Dessa forma, a experiência para o conhecimento a cerca do território em saúde, se fez de extrema importância para a identificação dos fundamentos essenciais de assistência do SUS, e ainda, contribuiu significativamente para a formação pessoal e profissional para o curso de medicina, haja vista, que apenas vivenciando tais verdades in loco, é possível desenvolver consciência crítica para, futuramente, prestar assistência médica de forma qualificada, humana e que entenda o sofrimento dos usuários. Assim, o estudo objetivou apresentar o conhecimento adquirido sobre o território em saúde na ótica do acadêmico de medicina. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência advindo das atividades processuais da disciplina de Atenção a Saúde I do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, realizadas no período de 25 de agosto a 01 de setembro de 2015, e teve como objetivos visitar o território, conhecer o território área, conhecer as microáreas e acompanhar a rotina do Agente Comunitário de Saúde(ACS) no território. Tudo isso na Unidade de Saúde da Família (USF) Alto do Céu III, situada no bairro Alto do Céu em João Pessoa na Paraíba. Os agentes comunitários de saúde foram acompanhados em suas atividades no território adscrito no bairro, onde foi encontrada uma área com casas, em sua maioria, feitas em alvenaria e com tijolos aparentes, energia elétrica e alguns pontos comerciais pequenos localizados em rua dita como principal. Contudo, ao adentrar mais na comunidade, foram identificadas vielas sem calçadas e esgotos a céu aberto, evidenciando a falta de projetos de aplicação efetiva do saneamento básico por parte das autoridades locais. Isso acarreta na propagação de doenças específicas pela falta de esgotamento e distribuição qualificada de água para a população. Algumas casas se encontravam em ruas de barro que frequentemente eram alagadas pelas chuvas, tendo barreiras de alvenaria feitas para impedir que a água, que se misturava com o esgoto presente na rua, entrasse em suas residências. Além disso, tal território abrigava boa quantidade de famílias que tinham a reciclagem como fonte principal de subsistência, gerando acúmulo de materiais em demasia. Isso acarreta na proliferação de agentes etiológicos como o Aedes aegypti e ratos, além de insetos e demais pragas urbanas que favorecem a disseminação de doenças nocivas à comunidade. O território também faz parte da faixa de delimitação de conflitos entre gangues organizadas que controlam o tráfico de drogas na região. Isso gera um clima de confronto diário para as famílias que residem nesse fogo cruzado de interesses marginais, bem como, dificulta o acesso de estudantes e pesquisadores para realização das atividades em favor do desenvolvimento da saúde local. Além disso, a área é formada por grande quantidade de indivíduos que possuem diabetes e hipertensão, bem como a incidência considerável de casos de tuberculose por ser um território que margeia áreas próximas ao sistema prisional do município. Tal fato gera a necessidade de um acompanhamento longitudinal que permita vinculo efetivo do usuário ao plano de cuidado que contribuirá paulatinamente para sua longevidade e qualidade de vida. Para somar aos gargalos estruturais e sociais do local apresentado, o território contava ainda com a ausência de dois ACSs para suprir a demanda total exigida.  Consequentemente, tal fato sobrecarregava alguns agentes de saúde que lutavam para possibilitar o máximo de atendimentos possíveis dentro de suas capacidades humanas, pois, apesar dos esforços, duas microáreas estavam descobertas de visitas desses profissionais, deixando diversas famílias do território adscrito da USF sem visitas domiciliares e assistência adequada. Impactos Apesar dos desafios foram encontrados ACSs atentos e com grande empatia para cuidar dos que se encontravam sob sua responsabilidade. Homens e mulheres que entendiam o lugar que estavam e promoviam o acesso qualificado, dentro do possível, à saúde que é direito constitucional de todos os brasileiros. Ainda mais, quando se trata de um território com grandes vulnerabilidades, fato que motiva um maior cuidado e assistência eficaz em vista da manutenção do bem estar daqueles usuários do SUS. Assim, com auxílio dos ACSs, foi possível observar um território com poucos recursos fundamentais para uma vida satisfatória da população local, além da notória deficiência de condições estruturais e sociais necessárias à qualidade de vida e à saúde. Tais condições tornam-se gargalos basilares de impedimento da atenção à saúde bem estruturada com base nas necessidades da população, pois o desenvolvimento da infraestrutura e de serviços básicos locais deve caminhar junto às ações do sistema único de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS:A partir da inserção no território pôde-se conhecer a realidade das iniquidades sociais existentes no local, observando de forma ampliada, o processo que influencia diretamente no adoecimento das pessoas, e ainda, instigando o acadêmico na percepção da importância dos serviços de atenção primária estarem próximos aos usuários, e para isso, atuarem diretamente no território sobre sua responsabilidade. Assim, é imperioso ressaltar que conhecer o território in loco foi imprescindível para a formação pessoal e profissional, além de contribuir para maior compreensão e abertura para o desenvolvimento de um médico mais humano e ciente das responsabilidades inerentes a profissão, visto que, todos os profissionais atuantes na saúde, devem levar atendimento com qualidade a todos que necessitam de assistência, atentando para os árduos anos de estudo de formação de um profissional “especialista em gente, em seres humanos”.

Palavras-chave


Território; Atenção Básica; Sistema Único de Saúde

Referências


BARBIANI, Rosangela; JUNGES, José Roque. Interfaces entre território, ambiente e saúde na atenção primária: uma leitura bioética. Revista bioética. v.21, n.2, São Leopoldo/RS, Brasil, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1983-80422013000200003&script=sci_arttext. Acesso em: 22 de setembro de 2015.

 

FARIA, Rivaldo Mauro de.  A territorialização da Atenção Primária à Saúde no Sistema Único de Saúde e a construção de uma perspectiva de adequação dos serviços aos perfis do território. Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde – Hygeia , v. 9, n.16, 2013. Disponível em http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia. Acesso em 22 de setembro de 2015.

 

STARFIELD, B. Primary care: na increasingly important contributor to effectiveness, equity, and efficiency of health services. Gac Sanit. v.26. 2012. p.20-6