Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Experiên(cia) de cuidado: a construção inventiva para pensar integração ensino-serviço
Breno Lincoln Diniz, Camille Valença

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


Experimentando a posição de estagiários de Psicologia no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), na equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), relataremos uma experiência da nossa prática de estágio nesse contexto. Recebemos o convite da equipe para facilitar um espaço com as profissionais da Unidade Básica de Saúde que estávamos, localizada na cidade de Natal-RN, em alusão a luta antimanicomial, para sensibilizá-los quanto a Reforma Psiquiátrica e juntos refletirmos novas e necessárias formas de cuidado no contexto da saúde mental. Por estarmos durante o período de maio no serviço, e 18 de maio celebra-se a luta “por uma sociedade sem manicômios”, a escolha do tema fora proposital. A atividade desenvolvida teve caráter vivencial, dialógico-construtivo; o vivenciar produz emoções que muitas vezes o acúmulo de leitura sobre o assunto não produz. Sendo assim, pensamos de início reproduzir as práticas de violência em um manicômio, através da oficina de dramatização. Os profissionais tiveram os olhos vendados, e foram conduzidospelosestagiários a um auditório; ao adentrar passávamos um pouco de álcool em gel e pregávamos um papel com algum diagnóstico, onde o profissional a partir de agora só poderia se reconhecer nele. Ao fundo músicas aterrorizantes para despontar sensações emotivas. O som é abaixado e em seguida dramatizamos a entrega da medicação forçada aosenvolvidos. Durante o ato foi reproduzida uma fala de desespero pela recusa da medicação. Logo após ficou só silêncio. Durante este momento, água é derramada sobre os pés dos participantes. Repetimos insistentemente a frase: “até quando você ficará com os olhos vendados diante do cuidar?” Mobilizados, foram retirando a venda e formando um círculo. Abrimos a roda para girar a palavra, para os profissionais expressarem seus sentimentos. À medida que a palavra circulava os profissionais narravam situações diárias do serviço, problematizando teoria-e-prática; fomos identificando juntos possibilidades. Com o que surgia, traçamos discussões e partilha de saberes, refletindo a importância do vínculo na construção do cuidado, o acolhimento como ferramenta indispensável nas tecnologias em saúde, a historicidade da loucura e o quanto isso reflete nos estigmas reproduzidos até hoje, inclusive, entre ospróprios profissionais. Além do mais, outras temáticas despontavam, como: medicalização da vida, a banalização do diagnóstico, dificuldade no processo de trabalho entre equipes. Finalizando o momento, provocamos os profissionais com o seguinte pensamento: “cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do outro”. Logo após, propomos a realização de práticas de cuidado que permitissem cuidar do outro. Através do toque com o outro corpo, fora permitido cuidar de outra pessoa que muitas vezes não era tão próxima, desestabilizando o lugar dos profissionais, e diante disso a possibilidade de construir novas formas de agenciamentos nas relações. Por fim, pudemos reconhecer a necessidade da inventividade no saber-fazer saúde, que não existe lógica pronta para o cuidar, apesar de estarmos amparados tecnicamente com o que aprendemos no âmbito acadêmico. Apostar na potência dos encontros enquanto mobilizador é necessário para práticas inovadoras de cuidado.