Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EXPERIENCIA DO CURSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM MOVIMENTO - UM RELATO VIVO NA VISÃO DOS TUTORES
BRUNA PEDROSO CANEVER, ELIZABETE GONÇALVES ZUZA, Jocelene Batista Pereira, MARCIA YANAGITA, Fernanda Ortega, Luciana Soares de Barros, Carolina Canola, FERNANDO DE CASTRO PERCEBO

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este trabalho foi realizado dentro de um Curso de Especialização à distância: “Educação Permanente em Saúde em Movimento (EPS EM MOVIMENTO), impulsionado pelo Departamento de Gestão da Educação na Saúde – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde/MS em convênio com a UFRGS – EducaSaúde, em 2014 e 2015. Um programa de educomunicação que envolveu a formação de mais de 4.600 formadores, tutores e profissionais do SUS em todo o país. Apresentamos a experiência realizada por um grupo composto por 1 formadora, 8 tutores e 50 participantes dos municípios do estado de São Paulo. É um programa de educação em saúde que escapa aos esquemas verticalizados de transferência de saberes e abre novas possibilidades de aprendizado em serviço. Um trabalho inscrito no campo relacional de experiências, nos encontros onde reside o núcleo cuidador do trabalho em saúde, onde profissionais e usuários a cada momento criam formas singulares de produção de saúde. Partimos do reconhecimento dessa criatividade em serviço com ferramentas que permitem ativar três ordens de ações: Olhar o dia a dia do trabalho e dar visibilidade aos acontecimentos, às singularidades das produções de cuidado: “o que vejo”.Dizer sobre o que se vê, dar palavras ao conhecimento produzido e exercitar a narrativa: “o que penso do que vejo”.Sensibilizar para os encontros e para distintas dimensões da experiência educativa: sentir em si, no próprio corpo, e perceber na experiência do outro: “que afecções estão em cena”. Estas três dimensões estão geralmente latentes, de modo que grande parte da experiência educativa demanda “radarizar” o que está parcialmente invisível, calado ou insensível. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O processo se dividiu em duas grandes fases: Na primeira, a formação dos tutores e formadores e na segunda, a formação dos participantes. No sentido de produzir um ambiente plural de participação horizontal, todos atores foram reunidos em comunidades de práticas em ambiente virtual: 8 tutores e 1 formadora constituíram uma comunidade de tutores, e, segundo a mesma metodologia, cada tutor coordenou um grupo de 6 a 8 participantes reunidos na plataforma por proximidade territorial. Essa estrutura rizomática favoreceu o acompanhamento de uma diversidade de processos simultaneamente. O número reduzido de participantes favoreceu a interação nos grupos. A experiência educativa deu-se por meio da combinação de três modalidades de interação: Atividade permanente em Ambiente Virtual de Aprendizagem na plataforma OTICS – EPS em Movimento; Realização de encontros presenciais periódicos a cada 3 a 4 meses; Trabalho educador no dia a dia dos serviços; A interação na plataforma e nos encontros presenciais favoreceu a vinculação e a produção de grupalidade. A produção de narrativas foi a principal ferramenta metodológica através da qual foi possível: a)  Ativar o olhar pessoal sobre os acontecimentos do cotidiano do trabalho b)  Reconhecer o outro e a si mesmo como “educador” nas produções desse cotidiano, as contribuições de cada um para a realização do cuidado c) O narrado permite que o outro – tutor, formador, colega participante – veja, reconheça e indague, permite um reconhecimento do papel educador do narrador. d) A partir do narrado outros podem cooperar e elaborar junto o problema que a narrativa suscita.RESULTADOS: A heterogeneidade de cada grupo com seu respectivo tutor, e as idas e vindas entre os tutores e formadora configurou um potencial legitimo durante o processo. Neste momento, trazemos alguns destaques que permearam cada grupo dando a riqueza e leveza para o crescimento em conjunto. Em um grupo um especializando que trabalhava no Serviço de Residência Terapêutica, passou a analisar formas de trabalho impróprias, algumas pessoas o apoiaram, mas ele ficou isolado, teve um confronto pessoal com a direção e foi transferido do serviço. Essa experiência discute o papel educador, em relação aos outros profissionais, em relação ao envolvimento da equipe e ao compartilhamento de posições da equipe. Atende cerca de 3000 pacientes/mês, vindos de CAPS e Ambulatórios de Saúde Mental. Em outra experiência o especializando produz um entendimento crítico das transformações no seu processo de trabalho. Uma farmacêutica trabalha em uma Farmácia de Saúde Mental onde o contato profissional-paciente é relativamente rápido, seguindo um roteiro protocolado. Com a formação em Educação Permanente em Saúde, começou a ficar mais presente nos guichês de atendimento da farmácia, acompanhando de perto os pacientes e os colaboradores. Passou a observar as dificuldades e necessidades diárias apresentadas pelos pacientes com suas condições de saúde como também dos próprios funcionários com suas dificuldades em resolver situações inesperadas. Gestores de Educador Permanente de Centros de Desenvolvimento e Qualificação para o SUS vivenciam a possibilidade de descobrir e reconhecer outras formas de ver e praticar EPS. Um grupo de participantes se autodenominou “EPS DANÇANTE” que potencializa habilidades musicais no trabalho em saúde mental. Durante o curso grupos de participantes fizeram intervenções como uma aluna que atua como tutora de ensino à distância em uma instituição de ensino. Através das discussões e utilização de algumas ferramentas experimentadas pelo grupo, fez uma proposta de revisão da grade curricular e processo de trabalho entre os docentes. Também tivemos a oportunidade de discutir a prática da psicologia em um hospital de oncologia, rever as práticas da política de humanização no cotidiano dos serviços, reconceituarmatriciamento na estratégia de Saúde da Família. Também repensar a gestão de pessoas dentro dos princípios da EPS, entrar em crise com o formato das propostas de educação permanente em andamento e buscar formas de subverter estas práticas, desenvolver formas de apoio entre os trabalhadores e pensar uma forma de continuar, após o curso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A proposta do curso EPS em movimento proporcionou uma experiência inovadora. O curso ofereceu um processo de formação sem estruturas prévias, sem conteúdos preestabelecidos. Apenas ofereceu provocações, disparadores, convites proporcionando a cada aluno percorrer de maneira única realizando um trabalho proativo, na qual pode navegar pelas ferramentas e entradas oferecidas abrindo diálogos com os textos lidos,  deixando-se afetar, colocando as implicações em análise, contextualizando seu cotidiano de trabalho e identificando avanços nos seus processos de reconhecimento e cooperação gerando movimento de conversas, encontros, interlocução, interação sobre o fazer do cotidiano em saúde se transformando em novas práticas e novas conversas. Sendo o cotidiano e os trabalhadores/alunos se tornaram os protagonistas deste movimento, dentro deste formato eles puderam ter total autonomia do processo além de operar educação permanente ao longo do próprio curso. O curso possibilitou a oportunidade de todos (formadores, tutores, especializandos) darem dizibilidade e visibilidade do movimento de educação permanente como acontecimento do cotidiano de cada território, reconhecendo que educação permanente é responsabilidade e compromisso de todos e que todos são corresponsáveis pelo processo de mudanças e transformações, tornando-se instrumentos de grande valia na sustentação do SUS.  

Palavras-chave


Educação Permanente; Educação a Distância; SUS