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EXPERIENCIA DO CURSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM MOVIMENTO - UM RELATO VIVO NA VISÃO DOS TUTORES
Última alteração: 2015-11-12
Resumo
APRESENTAÇÃO: Este trabalho foi realizado dentro de um Curso de Especialização à distância: “Educação Permanente em Saúde em Movimento (EPS EM MOVIMENTO), impulsionado pelo Departamento de Gestão da Educação na Saúde – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde/MS em convênio com a UFRGS – EducaSaúde, em 2014 e 2015. Um programa de educomunicação que envolveu a formação de mais de 4.600 formadores, tutores e profissionais do SUS em todo o país. Apresentamos a experiência realizada por um grupo composto por 1 formadora, 8 tutores e 50 participantes dos municípios do estado de São Paulo. É um programa de educação em saúde que escapa aos esquemas verticalizados de transferência de saberes e abre novas possibilidades de aprendizado em serviço. Um trabalho inscrito no campo relacional de experiências, nos encontros onde reside o núcleo cuidador do trabalho em saúde, onde profissionais e usuários a cada momento criam formas singulares de produção de saúde. Partimos do reconhecimento dessa criatividade em serviço com ferramentas que permitem ativar três ordens de ações: Olhar o dia a dia do trabalho e dar visibilidade aos acontecimentos, às singularidades das produções de cuidado: “o que vejo”.Dizer sobre o que se vê, dar palavras ao conhecimento produzido e exercitar a narrativa: “o que penso do que vejo”.Sensibilizar para os encontros e para distintas dimensões da experiência educativa: sentir em si, no próprio corpo, e perceber na experiência do outro: “que afecções estão em cena”. Estas três dimensões estão geralmente latentes, de modo que grande parte da experiência educativa demanda “radarizar” o que está parcialmente invisível, calado ou insensível. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O processo se dividiu em duas grandes fases: Na primeira, a formação dos tutores e formadores e na segunda, a formação dos participantes. No sentido de produzir um ambiente plural de participação horizontal, todos atores foram reunidos em comunidades de práticas em ambiente virtual: 8 tutores e 1 formadora constituíram uma comunidade de tutores, e, segundo a mesma metodologia, cada tutor coordenou um grupo de 6 a 8 participantes reunidos na plataforma por proximidade territorial. Essa estrutura rizomática favoreceu o acompanhamento de uma diversidade de processos simultaneamente. O número reduzido de participantes favoreceu a interação nos grupos. A experiência educativa deu-se por meio da combinação de três modalidades de interação: Atividade permanente em Ambiente Virtual de Aprendizagem na plataforma OTICS – EPS em Movimento; Realização de encontros presenciais periódicos a cada 3 a 4 meses; Trabalho educador no dia a dia dos serviços; A interação na plataforma e nos encontros presenciais favoreceu a vinculação e a produção de grupalidade. A produção de narrativas foi a principal ferramenta metodológica através da qual foi possível: a) Ativar o olhar pessoal sobre os acontecimentos do cotidiano do trabalho b) Reconhecer o outro e a si mesmo como “educador” nas produções desse cotidiano, as contribuições de cada um para a realização do cuidado c) O narrado permite que o outro – tutor, formador, colega participante – veja, reconheça e indague, permite um reconhecimento do papel educador do narrador. d) A partir do narrado outros podem cooperar e elaborar junto o problema que a narrativa suscita.RESULTADOS: A heterogeneidade de cada grupo com seu respectivo tutor, e as idas e vindas entre os tutores e formadora configurou um potencial legitimo durante o processo. Neste momento, trazemos alguns destaques que permearam cada grupo dando a riqueza e leveza para o crescimento em conjunto. Em um grupo um especializando que trabalhava no Serviço de Residência Terapêutica, passou a analisar formas de trabalho impróprias, algumas pessoas o apoiaram, mas ele ficou isolado, teve um confronto pessoal com a direção e foi transferido do serviço. Essa experiência discute o papel educador, em relação aos outros profissionais, em relação ao envolvimento da equipe e ao compartilhamento de posições da equipe. Atende cerca de 3000 pacientes/mês, vindos de CAPS e Ambulatórios de Saúde Mental. Em outra experiência o especializando produz um entendimento crítico das transformações no seu processo de trabalho. Uma farmacêutica trabalha em uma Farmácia de Saúde Mental onde o contato profissional-paciente é relativamente rápido, seguindo um roteiro protocolado. Com a formação em Educação Permanente em Saúde, começou a ficar mais presente nos guichês de atendimento da farmácia, acompanhando de perto os pacientes e os colaboradores. Passou a observar as dificuldades e necessidades diárias apresentadas pelos pacientes com suas condições de saúde como também dos próprios funcionários com suas dificuldades em resolver situações inesperadas. Gestores de Educador Permanente de Centros de Desenvolvimento e Qualificação para o SUS vivenciam a possibilidade de descobrir e reconhecer outras formas de ver e praticar EPS. Um grupo de participantes se autodenominou “EPS DANÇANTE” que potencializa habilidades musicais no trabalho em saúde mental. Durante o curso grupos de participantes fizeram intervenções como uma aluna que atua como tutora de ensino à distância em uma instituição de ensino. Através das discussões e utilização de algumas ferramentas experimentadas pelo grupo, fez uma proposta de revisão da grade curricular e processo de trabalho entre os docentes. Também tivemos a oportunidade de discutir a prática da psicologia em um hospital de oncologia, rever as práticas da política de humanização no cotidiano dos serviços, reconceituarmatriciamento na estratégia de Saúde da Família. Também repensar a gestão de pessoas dentro dos princípios da EPS, entrar em crise com o formato das propostas de educação permanente em andamento e buscar formas de subverter estas práticas, desenvolver formas de apoio entre os trabalhadores e pensar uma forma de continuar, após o curso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A proposta do curso EPS em movimento proporcionou uma experiência inovadora. O curso ofereceu um processo de formação sem estruturas prévias, sem conteúdos preestabelecidos. Apenas ofereceu provocações, disparadores, convites proporcionando a cada aluno percorrer de maneira única realizando um trabalho proativo, na qual pode navegar pelas ferramentas e entradas oferecidas abrindo diálogos com os textos lidos, deixando-se afetar, colocando as implicações em análise, contextualizando seu cotidiano de trabalho e identificando avanços nos seus processos de reconhecimento e cooperação gerando movimento de conversas, encontros, interlocução, interação sobre o fazer do cotidiano em saúde se transformando em novas práticas e novas conversas. Sendo o cotidiano e os trabalhadores/alunos se tornaram os protagonistas deste movimento, dentro deste formato eles puderam ter total autonomia do processo além de operar educação permanente ao longo do próprio curso. O curso possibilitou a oportunidade de todos (formadores, tutores, especializandos) darem dizibilidade e visibilidade do movimento de educação permanente como acontecimento do cotidiano de cada território, reconhecendo que educação permanente é responsabilidade e compromisso de todos e que todos são corresponsáveis pelo processo de mudanças e transformações, tornando-se instrumentos de grande valia na sustentação do SUS.
Palavras-chave
Educação Permanente; Educação a Distância; SUS