Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Mayara Bontempo Ferraz, Ramon Moraes Penha, Maria de Fátima Meinberg Cheade

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: O Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) como estratégia de organização dos fluxos de atendimento vem sendo amplamente disseminada no cenário da urgência e emergência no Brasil, demonstrando resultados positivos tanto na melhora da assistência prestada, relacionamento entre as equipes, quanto na proteção e garantia dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém desde a sua implantação diversos desafios permeiam a sua execução, o que torna essencial identificá-los para reflexões acerca de suas potencialidades e fragilidades. OBJETIVOS: Realizar revisão bibliográfica sobreo ACCR. MÉTODOS: Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva. Foram consultadas as bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),  realizada no período de Maio a Julho de 2015. RESULTADOS: Após a busca e seleção das publicações que atendiam ao objetivo proposto, foram realizadas leituras sistematizadas a fim de extrair os temas descritos no trabalho, que puderam ser apresentados em três núcleos distintos. DISCUSSÃO: 1) Aspectos Históricos da Classificação de Risco no Mundo: Os métodos de priorização de risco nas unidades críticas não são recentes. O termo triar vem do francês trier, tipar (escolher). A triagem existe desde a época das guerras napoleônicas, onde o exército francês fez o uso da mesma para separar os feridos que necessitavam de atendimento prioritário. Sir D'Arcy Power, um cirurgião londrino, em 1898 descreveu um hospital em Londres onde os pacientes tinham que se aglomerar nas escadas antes do início dos atendimentos e por ordem de chegada eram atendidos e questionados sobre sua queixa pela enfermeira para o devido encaminhamento. Nos Estados Unidos da América (EUA), no final da década de 50, aconteceu uma mudança na prática médica. Os médicos particulares e de família se tornaram raros e as consultas agendadas e em Prontos Socorros (PS) se tornaram a principal forma de procura pelo atendimento de saúde da população. Assim os PS tiveram um aumento de sua demanda reconhecendo a necessidade de utilizar um método de classificar os pacientes e identificar os que apresentavam necessidade imediata de cuidado. Desde então os modelos de triagem existentes apresentam grande variação, utilizando de dois a cinco níveis de gravidade, sendo que os de cinco níveis são os mais aceitos na atualidade, sendo eles Modelo Australiano; Modelo Canadense; Modelo de Manchester; Modelo Americano e Modelo de Andorra. 2) Aspectos Históricos da Classificação de Risco no Brasil: O ACCR no Brasil teve início em 1993 com discussões entre Adail Rollo (Diretor técnico administrativo do Hospital Municipal de Paulínia), Flávio de Sá (docente na UNICAMP), que havia chegado recentemente do Canadá, juntamente com o gerente do Pronto Socorro Paulo Bonilha. Juntos decidiram implementar o Protocolo Canadense adaptado a realidade local brasileira. A Classificação de risco era realizada por auxiliares de enfermagem com local exclusivo para este fim. Também foi escrito um documento com esta sistemática que serviu de base para a implantação do processo no Hospital Municipal Mário Gatti em 2001 e dessa forma vários hospitais utilizaram das experiências anteriores para implantar a classificação de risco. O Ministério da Saúde (MS) em 2001 lançou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que convocava profissionais de saúde para trabalharem em busca de melhorias na qualidade da assistência. Esta política subsidiou a construção e lançamento da Política Nacional de Humanização (PNH) em 2003, onde o ACCR é descrito em uma de suas diretrizes. Em novembro de 2002 com a Portaria Nº 2048 foi instituído o acolhimento dos pacientes seguido da triagem classificatória por risco, realizada por um profissional de nível superior, com treinamento e protocolo específico. Ainda em 2002, ao assumir o cargo de secretário executivo do MS, Gastão Wagner e outros colaboradores realizaram um redimensionamento metodológico do PNHAH e juntamente com as experiências vivenciadas pelos hospitais que já haviam iniciado a Classificação de risco, construíram-se propostas para a PNH, que agora tornava-se uma política. Em 2003, a PNH foi lançada e trás entre uma de suas diretrizes específicas por níveis de atenção - Atenção Hospitalar,  o acolhimento que trata das demandas por meio de critérios de classificação de risco, garantindo o acesso referenciado ao demais de nível de assistência, conhecida como ACCR. Nos anos subsequentes, outros hospitais em Minas Gerais, Florianópolis, Porto Alegre, Cuiabá, Rio de Janeiro, Fortaleza, João Pessoa entre outros, conheceram o ACCR como ferramenta reorganizadora dos serviços de emergências e a partir de 2007 o ACCR se espalhou pelo país organizando as portas de entrada de Urgências e Emergências e incentivando a formação de Redes de Atenção a Saúde (RAS), demonstrando ser uma importante ferramenta para a humanização da atenção e da gestão do SUS. Em Julho de 2011 ocorreu a reformulação da PNAU pela Portaria nº 1.600 que ampliou e contemplou o ACCR como base do processo de qualidade e resolutividade dos fluxos assistenciais da RAU. O ACCR nos serviços de urgências em 2012 se tornou uma atividade privativa do enfermeiro, desde que capacitado para esta atividade, através da Resolução n.426. Em 2014 através da Resolução n.2077, tornou-se obrigatório nos serviços de urgência e emergência em todo Brasil. 3) Acolhimento com Classificação de Risco: Nas últimas décadas, os serviços de urgência e emergência têm sido utilizado como a  principal porta de entrada ao sistema de saúde, tendo como consequência uma sobrelotação destes serviços. Este fato tem ocorrido pela mudança no perfil de morbimortalidade da população brasileira, ineficácia do sistema de saúde, grande fluxo de pacientes, falta de preparo das equipes para receber tal contingente e dificuldade de acesso aos recursos do SUS. Visto essa situação o governo Federal vem desenvolvendo ações, na tentativa de aperfeiçoar o atendimento às urgências e emergências, em todos os níveis de atenção, sendo uma delas o ACCR. A triagem estruturada ou ACCR é apontada como um dispositivo interessante, uma vez que permite um atendimento prioritário aos pacientes mais graves. O ACCR é uma diretriz e ferramenta de mudança nos processos de trabalho em serviços hospitalares de urgência e emergência. Sendo assim, podemos caracterizar o acolhimento pela escuta qualificada e a responsabilidade do profissional e serviço em responder as necessidades do usuário de acordo com suas capacidades, com enfoque na qualidade da assistência e à responsabilização quanto acontrarreferência. Já a classificação de risco é compreendida por agilidade de atendimento através da aplicação de um protocolo que determina o grau de risco do usuário, conforme as necessidades e não de acordo com a ordem de chegada. Dessa forma o MS vem trabalhando a implementação do acolhimento com classificação de risco nos serviços de urgência e emergência de forma que organize o serviço, no entanto entende que apenas o ACCR não garante à melhora dos serviços. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os profissionais da saúde possuem uma visão limitada acerca da  PNH e entendem o ACCR apenas como uma ferramenta de priorização do atendimento não vinculada ao acolhimento.  Dessa forma, o enfermeiro deve utilizar do seu conhecimento e papel na prática da educação permanente para realizar capacitações, criar estratégias e adequar o uso do ACCR de acordo com a realidade e rotina do seu serviço, com o intuito de fortalecer o ACCR como uma ferramenta de essencial importância para o julgamento clínico dos pacientes, fornecendo um atendimento adequado de acordo com a gravidade estabelecida.

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