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Formação pelo trabalho na saúde mental em rede: a micropolítica de um processo em movimento no território
Última alteração: 2015-11-12
Resumo
APRESENTAÇÃO: O presente trabalho tem por objetivo analisar o processo de formação pelo trabalho na saúde mental enquanto experimentação e potência que se afeta na produção do cuidado a partir dos processos de ensino-aprendizagem e do trabalho na micropolítica das unidades públicas de saúde – cenários de prática da educação na saúde. Esse é um movimento em ato, que produz acontecimentos, compartilhamentos, rupturas, capturas e (des)continuidades quando entendemos que é na rede de atenção à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), o lócus privilegiado desse processo de formação pelo trabalho na saúde mental e atenção psicossocial a partir da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). DESENVOLVIMENTO: Assim, ao produzir sentidos analíticos que emergiram desses encontros vivos, levado a cabo pela experiência de formação e pesquisa através do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (NEPS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a partir de alguns pressupostos e desafios, como a indissociabilidade entre ensino (graduação e pós-graduação, especialização e residência) – pesquisa – intervenção – extensão como princípio da universidade à formação crítica e para a sociedade e como a lógica da integração entre formação-trabalho-rede-território em saúde, imprime-se um novo significado para a integração clássica entre ensino-serviço-comunidade, (e)feito por muitos, quando tomamos os sujeitos que operam esses processos de formação-trabalho interprofissional em saúde, como docentes, estudantes (estagiárias, especializandas, residentes e pós-graduandas), trabalhadores dos serviços de saúde mental (preceptores, supervisores e tutores), usuários e familiares como produtores de rizomas formativos e de cuidado em saúde nos pontos de atenção da rede de saúde mental intra e intersetorialmente. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Esse processo, portanto, tem permitido romper com a formação baseada no modelo biomédico hegemônico, e, em particular, nos Hospitais Universitários como cenários privilegiados desse ensino-aprendizagem em saúde. Observa-se que, atualmente, o campo da formação em saúde, com a lógica da integração ensino teórico-prática, tem-se deslocado para outros campos de necessidades do SUS e isso tem implicação real e concreta com as políticas nacionais e de gestão da educação pelo trabalho na saúde e de educação permanente, em diversas modalidades e dispositivos que pactuam os gestores e seus trabalhadores nos serviços de saúde, universidades e o controle social. Tem-se afirmado nesses cenários de aprendizagem pelo trabalho para a saúde mental, que o SUS é o ordenador da formação em saúde, e, privilegiada e estrategicamente, nele ou a partir dele, opera-se essa educação em saúde, não de forma abstrata e idealizada de como ‘dever ser’ o exercício profissional das categorias profissionais que compõem o campo da saúde – as quinze profissões da saúde-, mas no cotidiano micropolítico e pedagógico que acontece o processo de trabalho em saúde mental. Portanto, toda a lógica que desenha esse cenário, aponta-se para uma assertiva, a de que no processo de trabalho em saúde opera-se um encontro vivo e intercessor entre o trabalhador e/ou trabalhador em formação (interno, estagiário, residente) e o usuário (sujeito e objeto desse processo de trabalho), mediado pela gestão do trabalho e da educação na saúde, que é onde se localiza a produção do cuidado, de forma singular, na política pública de saúde mental e sua interface com uma concepção política de universidade, de educação e de saúde marcada no nosso campo, pelos movimentos da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Desta forma, ao tomar a produção do cuidado em saúde, na formação profissional em saúde, a partir da lógica que a constitui, ou seja, como objeto da integração ensino-serviço pela via do estágio, do PET-Saúde, da residência e outras modalidades de formação, integrado a pesquisa e a extensão, é, contudo, afirmar a defesa do SUS, seus princípios e diretrizes, oriundos dos movimentos democráticos da sociedade civil em torno de mudanças na saúde. Portanto, esse cenário de aprendizagem não é neutro, ele acontece em relação aos projetos políticos, em disputas e em embates, entre os sujeitos que operam o cuidado em saúde, no território, na rede, na gestão, no controle social, na política e na formação. A produção de conhecimento e, particularmente, o que se vai pesquisar e produzir, academicamente, quem define, agora, é o SUS, é o trabalho em saúde, portanto, as questões-temas devem emergir dessa aposta, nessa perspectiva de integração, não de forma instrumental e tecnicista, mas no sentido de qualificar criticamente a formação e o trabalho em saúde a que está implicado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Nesse sentido, o ensinar ou o formar em saúde, pelo processo de trabalho em saúde, é a ruptura com a experimentação hierárquica, fracionada, de manipulação e aplicação de protocolos. Lidamos com vidas, necessidades e direitos dos usuários, esse é o objeto, portanto, se o serviço não se situa e acontece na forma de um agenciamento coletivo em saúde, ou mesmo na forma de uma integração orgânica de ensino-serviço de saúde, a partir do trabalho em saúde, em sua micropolítica, esvazia-se o sentido do dispositivo-formação. O acompanhamento no campo, o processo de supervisão, os conteúdos programáticos, as disciplinas teóricas, teórico-práticas, o treinamento, o trabalho, a pesquisa e a extensão no cotidiano dos serviços de saúde, suas reuniões, a avaliação no processo de ensino-aprendizagem no território juntos com os sujeitos integrados dessa intervenção que contribuem para a formação profissional do estudante, a perspectiva da educação permanente em saúde, etc. Tudo isso não seria possível de debruçar se não tomar ética, estética e politicamente a formação profissional em saúde para melhor qualificar o SUS que temos e transformar sua mudança para o SUS que queremos através do trabalho em saúde. Portanto, se por um lado, para uma formação em saúde não será adequada se não trabalhar pela implicação dos estudantes com seu objeto de trabalho, que também deveria ser seu objeto de ensino-pesquisa, por outro, e no mesmo sentido, os trabalhadores, incluindo os docentes, poderiam ser mais abertos a esse encontro pedagógico e educativo junto aos estudantes e residentes, a despeito da insatisfação e precarização no mundo do trabalho, pois quem ganha com isso é o projeto coletivo que opera a saúde, na perspectiva da democracia, da cidadania e dos direitos sociais de trabalhadores, usuários e familiares do SUS antimanicomial.
Palavras-chave
Formação; Saúde; Rede; Micropolítica; Território