Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO: A FORMAÇÃO CONTINUADA DE ESTUDANTES E PROFISSIONAIS DA SAÚDE NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Sheila Kocourek, Marli Matiko Anraku Campos, Rossato M.D. Vergínia, Simoni Silva da Silva, Giane Silveira

Última alteração: 2015-11-04

Resumo


APRESENTAÇÃO: A violência é um fenômeno mundial que tem um impacto negativo de grande magnitude e, no Brasil, apresenta-se hoje como um grave problema de saúde pública, impactando na qualidade de vida da população tanto pelo número de vítimas fatais que produz, quanto pelas comorbidades biopsicosociais que dela decorrem. Para a Organização Mundial da Saúde, considera-se como violência o uso intencional de força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. Este trabalho relata os desdobramentos, fomentados a partir de um projeto de pesquisa. Este projeto de pesquisa teve como objetivo identificar os conhecimentos, atitudes e práticas dos profissionais de saúde mediante pessoas que sofreram violência doméstica, que atuam nos serviços de Urgência e Emergência que atuam um município do interior do Rio Grande do Sul. Ambos os projetos foram fomentados pelo PET Redes de Atenção a Saúde. O estudo entrevistou 187 profissionais, dos quais 91% já atenderam vítimas de violência doméstica. Deste universo, 31,55% dos profissionais entrevistados relataram a necessidade de obter formação continuada para aumentar a eficácias suas práticas. Além disso, 48% apontaram o interesse por cursos que viessem a contribuir na qualificação dos profissionais e estudantes na melhoria da identificação e atendimento às vítimas de violência. Mediante tais achados de pesquisa elaborou-se um projeto de extensão intitulado “Qualificando o atendimento às vítimas de violência”, onde foram desenvolvidas ações com intuito de qualificar os estudantes da graduação da área da saúde, bem como profissionais da saúde do município.   DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Com vistas a contribuir na qualificação dos profissionais da saúde que atuam na rede de urgência e emergência, bem como junto aos estudantes de graduação da área da saúde, em uma Universidade Federal do interior do RS, realizaram-se oficinas junto aos cursos de Graduação de Enfermagem, Farmácia, Terapia Ocupacional e profissional da saúde que atuam nos serviços de Urgência e Emergência. Primeiramente realizou-se o contato com os coordenadores de cada curso e entregue um convite a estes, com as propostas do projeto de intervenção e solicitando espaço para a realização das capacitações. Para os profissionais dos serviços de Urgência e Emergência, foi enviado o convite para as coordenações dos serviços e agendada uma reunião para a realização da oficina. As oficinas foram coordenadas pelos preceptores e bolsistas, tendo sido empregado um tempo de aproximado uma hora. Concomitante a preparação das oficinas elaborou-se um “Guia da rede de atenção as vítimas de violência”, com vistas a registrar conceitos, fluxos e instituições capazes de acolher pessoas que sofreram violência. Foi impresso uma tiragem de 500 exemplares do referido Guia, os quais foram distribuídos durante as oficinas. Nas oficinas, foram abordados diversos temas relacionados ao fenômeno da violência, a saber: conceitos; natureza e tipologia de violência; fluxos de encaminhamento; importância da notificação; instrutivo de preenchimento da ficha de notificação, explicações referentes ao preenchimento detalhado da ficha de notificação de violência interpessoal/autoprovocada; esclarecimentos sobre as legislações relacionadas a temática como a Constituição Federal, Estatuto da Criança e Adolescente, Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha, Lei de Notificação Compulsória da Violência contra a Mulher, entre outras. Também foram realizadas apresentação dos fluxos de encaminhamento das vítimas de violência. Foram explanados os diversos dispositivos que podem intervir, identificar e prevenir novas situações de violência como escolas, família, comunidade, Unidades de Atenção Primária em Saúde, Centro de Referência de Assistência Social CREAS, Hospitais, Centros de Atenção Psicossocial CAPS, Conselho Tutelar, Organizações da sociedade civil – lideranças comunitárias, Igrejas, Delegacias, entre outros dispositivos que tecem essa rede de proteção. Por meio desta rede os profissionais da saúde visualizam as potencialidades do seu território, bem como observam que existem serviços com potencial identificador de situações de violência, serviços para atendimento especializado, serviços para denúncia e notificação dessas situações, além de serviços para apoio às vítimas e familiares, e que cada um dos pontos dessa rede tem seu papel e sua contribuição (ARPINI, 2008).  RESULTADOS E IMPACTOS:Ao todo foram contemplados um total de 117 estudantes e profissionais da área da saúde. Ao término de cada oficina foi entregue um instrumento de avaliação para realização do feedback. Entre os participantes 6,83% eram Residentes do Programa Multiprofissional, 11,96% estudantes do curso de graduação de Enfermagem, 30,77% da Farmácia e 38,48% da Terapia Ocupacional. Do total de participantes 11,96% eram profissionais que trabalham em serviços de urgência e emergência. Quanto aos participantes das oficinas, majoritariamente eram do sexo feminino (84,6%).  No que diz respeito a faixa etária 58,1% possuem entre 21 a 30 anos; 31,6% entre 21 anos ou menos. Considerando que o maior público foi de estudantes, verificou-se que maioria deles possuía educação superior incompleto (76%). Durante as oficinas de qualificação, percebeu-se que os profissionais que têm dificuldade de identificar corretamente os tipos de violações a que uma vítima foi submetida. Isso interfere na prevenção das múltiplas expressões da violência e no tempo de resposta às situações, que é um elemento fundamental para as ações de intervenção nos casos de violência física e sexual, por exemplo, onde há a necessidade de profilaxias e intervenções imediatas. Ainda por meio do instrumento 79% dos participantes relataram que com certeza irão utilizar com frequência os conteúdos abordados, sendo que 95% avaliaram os conteúdos de grande relevância. Com a análise da avaliação dos participantes também foi possível revelar o interesse dos estudantes e profissionais em obter conhecimento aprofundado sobre o tema, pois estes, entendendo a relevância e a necessidade de preparar-se, solicitaram mais encontros para a formação continuada no âmbito da saúde.  CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conforme já mencionado, a violência é um fenômeno que cresce expressivamente no âmbito da saúde, cujo alcance se estende ao coletivo, uma vez que atinge não apenas diretamente a vítima, mas toda a família, bem como a sociedade. O enfrentamento da violência, por tratar-se de um fenômeno complexo e multifacetado, demanda estratégias diversas. O profissional precisa ter habilidade de atuar em equipe, compartilhar responsabilidades, articular instituições e equipamentos sociais de apoio. Além de um perfil desejado, a prática humanizada e a qualificação permanente dos profissionais da saúde são fundamentais na identificação da violência doméstica, sobretudo quando exercem a prevenção e o cuidado das vítimas.   A violência doméstica é um problema evitável, mediante ações de prevenção, diminuição e erradicação da violência. Entre os fatores que determinam a ruptura do ciclo de violência, está a identificação e o correto encaminhamento à rede de serviços. Por isso é crucial qualificar os profissionais de forma a torná-los a espinha dorsal na assistência e proteção das vítimas, enfatizado a necessidade urgente de integração entre diferentes setores, como saúde, justiça, bem-estar social e educação, na perspectiva de atuação na saúde baseada em equipes multidisciplinares.        

Palavras-chave


Violência Doméstica; Educação em Saúde; Formação em Saúde