Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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FOMENTO DA REDE UNIDA À EXPERIÊNCIA NO CAMPO DO SUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O VER-SUS BAHIA 2015
Aline de Souza Santana, Ismael de Oliveira Araújo, Silvana Lima Guimarães França

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este trabalho trata-se de um relato de experiência do Estágio de Vivências (VER-SUS) – Bahia 2015 por estudantes do curso de Nutrição, na realidade do Sistema Único de Saúde (SUS) no município de Salvador, ofertado pela Escola Estadual de Saúde Pública (EESP) em parceira com a Rede Unida. O relato objetiva trazer a experiência do estágio para os estudantes e seus aspectos gerais. O estágio ocorreu no mês de março de 2015, contando com a participação de 32 acadêmicos de diversos cursos da área da saúde, como Nutrição, Enfermagem, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Serviço Social e mediadores do processo de vivência, que participaram de edições anteriores ou eram militantes de movimentos sociais. Trazendo abordagem prática, o estágio de vivência contribui complementando a formação tradicional, academicista e pouco crítica, levando o estudante a outros campos do conhecimento do fazer saúde. DESENVOLVIMENTO: O estágio de vivência ocorreu pelo período de sete dias, com a formação de subgrupos para a imersão nos distritos sanitários de Salvador, sendo eles Brotas, Cabula / Beiru, Itapagipe, Centro Histórico, São Caetano / Valéria e Barra / Rio Vermelho. Cada subgrupo imergiu em um único distrito durante o período do dia, enquanto a noite era destinada para discussões de variadas temáticas com todo o grupo de 32 estudantes. Além de conhecer o SUS de forma mais aproximada, incitava também o debate sobre os diversos determinantes impactantes. Os entraves na rede de saúde, o acesso dos usuários à rede, referência de atendimento dentro do próprio distrito sanitário e precariedade de estrutura física e de pessoal, assim como a invisibilidade dos movimentos sociais e o não atendimento de suas demandas foram os fatos mais vistos, contudo, também havia iniciativas exitosas da Universidade, como centro do conhecimento e suas ações de devolutiva à comunidade. Houve a possibilidade compreender a importância da formação reorientada no sentido de sensibilização dos profissionais para a realidade do SUS, entendendo a rede articulada necessária para o sucesso das políticas públicas de saúde. Os estagiários e monitores permaneceram em imersão durante sete dias, alocados em um hotel na cidade de Salvador, sendo tal logística pouco eficiente para maior integração e proximidade do grupo, já que os estudantes permaneciam em quartos com grupos menores. Durante o dia, a programação do estágio era voltada para atividades dentro dos distritos sanitários, dialogando com a gestão local e conhecendo a sua extensão, em atendimentos, unidades e referências. Sendo composto por estudantes de diversas instituições e cursos, o estágio propiciou a troca de experiências trazidas para o espaço, fazendo com que os debates em grupo ficassem mais ricos e havendo o aprofundamento em temáticas pouco conhecidas, para parte dos estudantes. Houve debate sobre a capitalização da educação e seu histórico no Brasil, com recortes sobre o interesse no surgimento das faculdades particulares, a formação voltada para atender os interesses de determinados grupos e com isso uma formação mais tecnicista e menos humanizada. Discutir a formação em saúde implica tematizar e problematizar o ensino, particularmente no âmbito da graduação nas profissões da área da saúde. A metodologia de ensino no âmbito da saúde tem tido pouca orientação integradora entre o ensino e prática, levanto a um não enfrentamento das reais necessidades da população e assim a perpetuação da formação de cidadãos e profissionais passivos que não entendem a saúde como prática social. O dia da mulher foi lembrado também na semana do estágio, com discussões em torno da temática feminista, saúde da mulher no atual sistema de saúde, violência obstétrica e estigmas sociais que são enfrentados diariamente pelas mulheres. E, além disso, os outros dias foram destinados a debates acerca do que era visualizado durante a imersão prática, com impressões pessoais, sentimentos,  rodas de conversa que estimulavam o estudante a refletir sobre as diversas situações vivenciadas. RESULTADOS: Grande parte dos estudantes considerou a vivência como uma relevante experiência para a vida pessoal e profissional. O território de saúde da cidade tornou-se mais compreendido, trazendo dificuldades e sucessos nas práticas diárias dos atores inseridos na realidade do SUS, dentre elas profissionais insatisfeitos, disparidade estrutural dentro do mesmo território, burocratização do sistema, dentre outras. Além disso, foi possível perceber claramente que a saúde não é concretizada somente nos espaços específicos de saúde – unidades básicas, centro de referências – e sim fora, em escolas, comunidades, centros religiosos, construída inclusive por movimentos sociais que lutam por melhores condições de vida, saúde e educação. Em alguns estudantes, entretanto, não foi possível perceber a sensibilização no período da vivência, estando alheias e indiferentes a toda experiência e situações, diferentemente do que foi percebido pela grande maioria, entusiasmo e sentimento de empoderamento, compreendendo-se como figura ativa e essencial no processo de mudança. Além da imersão nos distritos sanitários de Salvador, os subgrupos elaboraram uma devolutiva para a gestão acerca das impressões positivas e negativas do distrito. Com a metodologia do “que bom, que pena e que tal” foi possível trazer as principais dificuldades visualizadas durante aquele período da vivência, como resultado final do estágio. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A Rede Unida, ao fomentar experiências como o VER-SUS em diversas regiões do Brasil, com imersão nas capitais e interiores dos estados, tem grande importância endossando o trajeto para uma saúde de qualidade, com profissionais capacitados e conscientes da seriedade e magnitude do seu trabalho na melhoria da qualidade de vida da população. Acredita-se que vivências como a propiciada pelo VER-SUS contribuem para a formação técnica, científica e política dos estudantes, ainda inseridos na realidade acadêmica, com referência teórica da realidade do SUS, então envolvidos pela experiência multidisciplinar e intersetorial. A formação dos estudantes necessita ser endossada em todo momento por práticas que incentivem a criticidade e atitudes que contribuam para disseminação do conhecimento. O avanço do SUS depende do movimento de todos, usuários, profissionais, gestores, unidos na reforma sanitária e articulando-se juntamente com os movimentos sociais para impedir que interesses pessoais, políticos, econômicos se sobreponham a um direito à saúde eficiente, resolutivo e de qualidade. Torna-se, assim, indispensável o fortalecimento de práticas e de políticas que integrem as áreas da saúde e educação, garantindo que tais práticas sejam incentivadoras para a formação ampliada do futuro profissional de saúde, entendendo dessa forma a importância do trabalho articulado para o funcionamento do SUS. 

Palavras-chave


VER-SUS; Estágio de Vivência; Rede Unida; Integração multidisciplinar.