Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Iniciativas governamentais para atenção às condições crônicas: um estudo de revisão da literatura
Erika Rodrigues de Almeida, Ítalo Ricardo dos Santos Aleluia, Mariana Nossa Aragão, Luara Dourado Santos Cambuí, Rosana Aquino Guimarães Pereira, Ana Luiza Queiroz Vilasboas, Maria Guadalupe Medina

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: No Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem o problema de saúde pública de maior magnitude (BARROS et al., 2006; 2011; SCHMIDT et al., 2011; ISER et al., 2011; MALTA et al., 2010; MUNIZ et al., 2012; COSTA & THULER, 2012). Estas são definidas como afecções de saúde que acompanham os indivíduos por longo período de tempo, podendo apresentar episódios de piora e momentos de melhora sensível (BARROS et al., 2006). Destacam-se entre elas: acidente vascular cerebral, infarto, hipertensão arterial, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas. Embora na última década tenha sido observada uma redução de aproximadamente 20% nas taxas de mortalidade pelas DCNT, estatísticas recentes apontam que esse grupo de doenças ainda representa cerca de 70% das mortes, atingindo principalmente a população de baixa escolaridade e baixa renda (MALTA & SILVA JR, 2013). Em resposta a este desafio, o Ministério da Saúde do Brasil tem implementado importantes políticas de enfrentamento dessas doenças, com destaque para a organização da vigilância de DCNT, cujo objetivo é conhecer a distribuição, a magnitude e a tendência de doenças e agravos crônicos e seus fatores de risco; expansão da atenção primária à saúde; melhoria da assistência e políticas de combate ao consumo do tabaco, desde os anos 1990; iniciativas, que se mostraram como importantes avanços na saúde dos brasileiros, responsáveis por parte da redução observada na taxa de mortalidade por DCNT (BRASIL, 2010a). Há vários e importantes estudos que buscam caracterizar o perfil epidemiológico das DCNT no Brasil, assim como há alguns que analisam as políticas de saúde formuladas e implantadas para seu enfrentamento. O propósito deste trabalho é apresentar a sistematização do conhecimento acerca das políticas, dos programas ou dos projetos de enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: descrição da experiência ou método do estudo: Trata-se de um estudo de revisão dos planos, políticas, programas e projetos voltados às DCNT existentes no Brasil, realizado por meio de consulta exploratória em diferentes sites institucionais: (1) da Secretaria de Vigilância à Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, (2) do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério da Saúde, (3) do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e (4) o Portal de Inovação da Gestão do SUS. O levantamento dos documentos técnico-institucionais nos sites supracitados incluiu todos os documentos encontrados, independente de limite temporal. Para seleção de documentos também foi utilizada a estratégia “bola de neve”, incluindo referências citadas nos documentos identificados consideradas relevantes na relação final de textos a serem revisados. Assim, a revisão abrangeu um total de 52 documentos, sendo 41 (79%) selecionados mediante consulta a sites institucionais e onze (21%) a partir da estratégia “bola de neve”. Quanto à origem, cinco (10%) documentos foram encontrados no site da SVS, 28 (53%) no sítio do DAB, quatro (8%) no site do INCA e quatro (8%) no Portal de Inovação da Gestão do SUS. Após análise independente de dois revisores, todos os documentos selecionados foram considerados pertinentes para a sistematização, contando esta revisão, portanto, com 52 documentos técnico-institucionais. Após a seleção final dos documentos, foi construída uma ficha de cadastro, a fim de melhor organizar/catalogar as informações relativas a cada um dos planos, políticas, programas e projetos. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: os efeitos percebidos decorrentes da experiência ou resultados encontrados na pesquisa. Com base na análise dos documentos, percebeu-se a existência de iniciativas governamentais voltadas para o enfrentamento das doenças crônicas não-transmissíveis, formuladas ou implantadas no Brasil desde a década de 1980. O Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (1984) pode ser tomado como um marco inicial das proposições de enfrentamento das DCNT no Brasil. Dezenas de proposições de políticas e programas voltados para as condições crônicas foram elaboradas desde 1984. No entanto, somente em 2011, foi formulada uma proposição abrangente, centrada especificamente nas condições crônicas, sinalizando, talvez, o momento em que as doenças crônicas tornam-se um item importante na agenda da política de saúde. Trata-se do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis 2011-2022 (BRASIL, 2012b). Este plano estabeleceu três eixos estratégicos de ação: (a) vigilância, informação, avaliação e monitoramento, (b) promoção da saúde e (c) cuidado integral de DCNT. As principais ações do eixo da promoção da saúde se relacionam aos fatores de proteção para as DCNT: atividade física, alimentação saudável, controle do tabagismo e do alcoolismo e envelhecimento ativo. Podem ser citadas: reformulação de espaços urbanos, campanhas de comunicação, aumento da oferta e redução dos preços de alimentos saudáveis, aumento de impostos sobre os produtos derivados do tabaco e o álcool, implantação de programas de formação de cuidadores de idosos (BRASIL, 2011c). As políticas, os planos e os programas voltados para o enfrentamento das DCNT no Brasil destinam-se a desenvolver ações integradas de controle, tanto da incidência e da prevalência das DCTN, quanto de seus principais fatores de risco ou proteção. As intervenções mais comuns têm como objetivos a promoção da melhoria nas condições alimentares, a cessação do tabagismo e do alcoolismo, o incentivo à prática de atividade física regular e o fortalecimento do processo de trabalho em saúde, com treinamento de pessoal e introdução de protocolos (BRASIL, 1998; 2003; 2006; 2009; 2010; 2011a; 2011b; 2012a; 2012c; 2012d; 2012e; 2012f; 2013a; 2013b; INCA, 2002). Ademais, são preconizadas intervenções sobre os determinantes sociais da saúde e ações de cunho terapêutico e reabilitador, a fim de promover a saúde e prevenir, diagnosticar e tratar as principais condições crônicas, a exemplo do diabetes, do câncer, das doenças cerebrovasculares, renais, respiratórias, dentre outras. As diferentes políticas e os diversos planos e programas propõem um amplo leque de ações, que vai da promoção à reabilitação, passando pela proteção e pela recuperação da saúde. As principais ações de promoção da saúde são: (a) intervenções sobre os determinantes e condicionantes da saúde através da articulação intersetorial, (b) criação de ambientes favoráveis à adoção de hábitos saudáveis, (c) ampliação do acesso e regulação da produção, comercialização e distribuição de alimentos e de produtos derivados do tabaco e álcool, (d) comunicação social, (e) reformulação de espaços urbanos e (f) incentivo do envelhecimento ativo. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este estudo delineia um panorama que mostra que importantes iniciativas governamentais têm sido tomadas, ao longo das últimas décadas, para o aprimoramento da atenção às condições crônicas, sobretudo no âmbito dos cuidados primários. É importante ressaltar que esse panorama se limita às proposições formais, que constam de documentos oficiais. A revisão que permitiu a descrição das políticas, dos planos e dos programas não captou pesquisas avaliativas ou avaliações normativas acerca da efetiva implantação das proposições ou de seus eventuais efeitos. Nesse sentido, fica evidente a necessidade de pesquisas empíricas que possam avaliar a implantação e a efetividade das diferentes proposições, de modo a identificar não apenas experiências exitosas, mas também dificuldades e oportunidades de readequação das proposições.

Palavras-chave


condições crônicas; redes de atenção à saúde; revisão da literatura

Referências


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