Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Inserção do Sanitarista na Atenção Primária: a experiência do projeto de extensão interprofissional em Vitória de Santo Antão/PE
Palloma Emanuelle Dornelas de Melo, Daniele Félix de Melo, Maria Gabrielly da Luz, Ana Paula Lopes de Melo, Jorgiana de Oliveira Mangueira

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: A reformulação das políticas públicas de saúde no Brasil desde a década de 1980 colocam a atenção integral como conceito central e trazem a necessidade de pensar os serviços de saúde como espaços privilegiados para o desenvolvimento de ações integradas entre profissionais de diversas áreas, voltadas especialmente para a educação, atenção e cuidado em saúde. O trabalho em equipe interprofissional tem se apresentado como um desafio às reformas curriculares dos cursos de saúde e a prática sinaliza a necessidade adotar perspectivas que transcendam os fazeres individualizados de cada profissão. Tendo em vista tal contexto, a graduação em saúde coletiva da UFPE vem buscando a integração com outras formações em saúde através de atividades curriculares e extracurriculares que permitam o exercício da prática profissional e reflexões no campo teórico, sendo a atenção básica à saúde um local estratégico para a identificação de situações de desigualdades e adoecimento, onde a atuação do sanitarista juntamente com outros profissionais de saúde pode viabilizar mudanças que envolvam uma maior participação da comunidade e uma necessária articulação com os demais espaços de gestão em saúde. OBJETIVO: O presente trabalho apresenta a experiência do Projeto de Extensão Interprofissional desenvolvido no curso de Saúde Coletiva da UFPE no período de abril a outubro de 2015 que teve como objetivo inicial proporcionar a aproximação do estudante de saúde coletiva às ações da atenção básica em saúde do município a partir do desenvolvimento de atividades integradas com estagiários dos cursos de enfermagem e nutrição. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O projeto foi formulado e desenvolvido em parceria com as coordenações de estágio dos cursos de enfermagem e nutrição da UFPE - Centro Acadêmico de Vitória, buscado assim a programação de atividades conjuntas e a integração interprofissional entre diferentes áreas da saúde. As atividades integradas ocorreram nos primeiros meses do projeto e foram desenvolvidas através de visita domiciliar e discussão de casos e situações de saúde pertinentes a cada território, buscando a contribuição de cada um dos campos de saber nas percepções e intervenções propostas para os casos selecionados. Em cada uma das três unidades de saúde foram selecionadas microáreas para o desenvolvimento de ações específicas pelos estudantes de saúde coletiva vinculados ao projeto, sendo estas focadas no reconhecimento da realidade local, realização e/ou atualização de diagnóstico e monitoramento de indicadores de saúde. O diálogo com as equipes proporcionou a seleção de atividades diferentes a serem desenvolvidas em cada unidade: (1) programação e desenvolvimento de atividade educativa; (2) cadastramento e levantamento de informações do e-SUS; e (3) atualização do cadastro de microárea descoberta. Essa ultima ganhou corpo no projeto, envolvendo nove extensionistas e quatro Agentes Comunitários de Saúde que realizaram uma capacitação para os estudantes instruindo-os sobre o preenchimento correto da ficha A, do envelope da família e livro de cadastro, além das estratégias de abordagem dos usuários para o melhor levantamento dos dados a serem atualizados. O grupo foi dividido em três equipes, cada uma delas acompanhada por uma ACS que acompanhou as visitas realizadas nas três ruas da microárea. RESULTADOS: Essa primeira experiência do Projeto de Extensão Interprofissional viabilizou uma maior aproximação dos estudantes de Saúde Coletiva com as ações desenvolvidas pelas equipes de saúde da família e a vivência do trabalho coletivo interprofissional propiciando um melhor conhecimento do território para o planejamento de estratégias que possam minimizar os impactos diagnosticados durante o período de desenvolvimento do projeto. A intervenção para atualização do cadastro da microárea em uma das unidades de saúde identificou o total de 134 famílias, sendo 411 usuários em sua maioria (55%) do sexo feminino. A comunidade é atendida por um serviço de rede pública de abastecimento de água inadequada, o qual corresponde a 57,36% do serviço de água sem tratamento. Os serviços de esgotamento sanitário e coleta de lixo são precários e verificando-se a presença de esgoto a céu aberto e grande acúmulo de lixo na região. Dentre as doenças ou condições de saúde referidas, houve um destaque para a hipertensão arterial que foi citada como existente em 57% dos usuários que referiram algum tipo de problema. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A realização desta intervenção possibilitou um melhor conhecimento do território e para a identificação das condições de vida e saúde desta comunidade. O projeto reforçou a importância do diagnóstico situacional como ferramenta de gestão que possibilita o conhecimento da situação de saúde e os problemas de ordem social, econômica e epidemiológica orientando assim as ações dos profissionais da saúde e explicitando as áreas com maior demanda de articulação intersetorial, tais como educação, saneamento e habitação. A extensão interprofissional abarca sua importância no desenvolvimento de novas práticas, na atuação da equipe multiprofissional no campo da promoção da saúde e a inserção do profissional sanitarista na atenção primária, instigando-o ao trabalho em equipe e a construção compartilhada do conhecimento. A vivência no projeto possibilitou um melhor conhecimento da realidade do território, bem como contribuiu para a identificação das condições de vida e saúde, tendo como foco a comunidade. A mesma é de fundamental importância para o levantamento de problemas, que, por sua vez, fundamenta o planejamento estratégico situacional permitindo desenvolver ações de saúde mais focais e efetivas em relação aos problemas encontrados. Em virtude do que foi relatado, observa-se que a Universidade tem exercido um importante papel nesse contexto, haja vista que esta instituição é responsável pela formação profissional que auxilie aos estudantes de Saúde coletiva identificar necessidades do SUS e contemplar as peculiaridades locais e regionais dos serviços e da comunidade. O desafio de delinear perspectivas inovadoras rompe com a cultura de realização do trabalho individualizado e investe no trabalho em equipe focado na problematização da realidade. Essa prática estende-se as ações de assistência e educação em saúde e, para tal, a interdisciplinaridade se mostra fundamental e de grande importância. A graduação em saúde coletiva tem buscado a abertura de campos de atuação profissional, sendo a atenção básica à saúde um local estratégico para a identificação de situações de desigualdades e adoecimento, onde a atuação do sanitarista juntamente com outros profissionais de saúde pode viabilizar mudanças que envolvam uma maior participação da comunidade e uma necessária articulação com os espaços de gestão em saúde.  

Palavras-chave


Diagnóstico de saúde; Área descoberta; Equipe multiprofissional