Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Consulta de Enfermagem no Ambulatório de Cardiologia do Hospital Universitário Júlio Müller: Implementação do Instrumento de Coleta de Coleta de Dados baseado na Teoria de Orem
Jéssica Dias Ferreira, Daniele Merisio Raimundi, LORRANY CAMPOS DE QUEIROZ, ILMA PAULA LOTUFO, Edilene GIANELLI LOPES, TAMIRIS MARANHO ARRUDA, MARIA Auxiliadora MACIEL MORAES, Carla Gabriela Wunsch

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


O Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) é uma instituição de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) que oferece assistência médico-hospitalar, ambulatorial, de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade. Além de prestar serviços ao ensino, pesquisa, extensão, formação acadêmica de graduação em saúde, e ainda, tem avançado na formação de residências médicas e multiprofissional, com objetivo de se integrar com os serviços públicos de saúde. Com intuito de possibilitar uma formação para residência multiprofissional, do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e Idoso com Ênfase na Atenção Cardiovascular, instigou-se pensar o processo de saúde no ambiente hospitalar também como promoção e prevenção de agravos. Para isso foi implementado a consulta de Enfermagem, com base na Teoria de Orem, uma vez que se fundamenta no autocuidado, permitindo a elaboração de instrumento que contemplasse, primeiramente, o desenvolvimento de práticas educativas de saúde e a emancipação dos usuários para o autocuidado. Assim, o cuidado de enfermagem com enfoque clínico e educativo a consulta de enfermagem, foi inserido no Ambulatório de Cardiologia do HUJM, pelas enfermeiras da residência multiprofissional. A atividade de consulta de enfermagem está respaldada pela Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 358/2009 que prevê sua realização nas instituições de saúde, pública ou privada, onde houver assistência de enfermagem, inclusive no atendimento ambulatorial, possibilitando desta forma ao profissional autonomia para prestar atendimento para além do olhar biomédico. Diante disso, houve a necessidade de se implementar os instrumentos para viabilizar a consulta de enfermagem, que pode se configurar como dispositivo para sistematização da prática, pautada nas necessidades do usuário, de forma a não priorizar unicamente os aspectos clínicos, patológicos e biológicos, mas que proporcionasse a autonomia dos usuários em seu processo de autocuidado referente aos agravos cardiológicos. Nessa linha de pensamento, após muitas discussões e pesquisas bibliográficas sobre o tema, o instrumento de coleta de dados foi elaborado na Teoria do Autocuidado de Orem, por ser um modelo que proporciona a inserção do usuário na corresponsabilidade para o autocuidado. Desta forma, objetiva-se relatar a experiência vivenciada pelas residentes de enfermagem na implementação da consulta de Enfermagem aos usuários do SUS, atendidos no ambulatório de cardiologia do HUJM, em Cuiabá/MT.  Trata-se de relato de experiência sobre a elaboração do instrumento para consulta de enfermagem, a partir da necessidade de organização, sistematização e implementação do serviço de enfermagem a nível ambulatorial. A implantação da consulta de enfermagem teve como finalidade geral implementar cuidados específicos de enfermagem a usuários com agravos cardiovasculares em acompanhamento ambulatorial. A ação pauta-se, sobretudo, na orientação sobre o tratamento não farmacológico e farmacológico, através de educações em saúde individuais e coletivas, estimulando a promoção do autocuidado e a adesão ao tratamento, melhorando assim a qualidade de vida e diminuindo o índice de hospitalização. A teoria foi escolhida para direcionar as consultas, pois, proporciona formas de desenvolver condições de atendimento, fugindo do modelo clínico biomédico centrado em sinais e sintomas, permitindo ao usuário falar livremente sobre sua vida, cuja escuta pelas residentes redireciona para a descoberta de sua potencialidade como agente autônomo no autocuidado, em relação ao processo saúde doença. Além disso, desmistifica o espaço ambulatorial a ideia de abordagem unicamente da doença, permitindo, assim, a construção de saberes sem a clássica dicotomia entre cura e prevenção, pois em qualquer lugar é espaço para se desenvolver potencialidades e de se aprender sobre saúde. Essa discussão teórica foi conduzida pelas tutoras ao longo dos encontros tanto in loco, nas salas do ambulatório, como em reuniões semanais de tutoria. Posteriormente a escolha da teoria, elaboramos o primeiro instrumento de consulta que continha: histórico de enfermagem, exame físico, diagnóstico de enfermagem (baseado na taxonomia NANDA) e o plano de cuidados. Após a realização das primeiras consultas, percebeu-se a necessidade de modificar o instrumento, pois ainda predominava os aspectos do modelo clínico biomédico, para então adequá-lo de fato aos termos da teoria escolhida. Foram realizadas três reuniões com duração aproximada de duas horas, com todas as residentes que já haviam passado pelo campo de prática no ambulatório, junto com a enfermeira preceptora, para adequação do instrumento. Assim este novo instrumento foi organizado em três partes, sendo a primeira, o levantamento de dados, contemplando os fatores condicionantes do autocuidado, fatores do sistema de atendimento de saúde e orientação sociocultural. A segunda, requisitos universais para o autocuidado, em que se faz uma avaliação do usuário (padrões de sinais vitais e exame físico).  A última parte, considerando os aspectos dos requisitos para o autocuidado, as demandas terapêuticas do autocuidado, os dificultadores e os facilitadores do autocuidado, diagnósticos de enfermagem com seu respectivo sistema de apoio e o plano de ação onde o enfermeiro orientará os cuidados de acordo com os achados iniciais, considerando a premissa de educação em saúde para potencialidade do autocuidado nos agravos cardiológicos. No transcorrer dos atendimentos realizados, observou-se a relevância desse instrumento no momento da consulta, visto que subsidia o profissional de enfermagem a coletar e registrar as informações, e propicia análise direcionada referente ao quadro de saúde do usuário, facilitando a integração dos achados para melhor direcionar as orientações e plano de ação de enfermagem. Com as informações sistematizadas e registradas, a equipe multiprofissional de saúde consegue compreender o que é de fato uma consulta de enfermagem, pois para muitos essa prática é desconhecida e, portanto, desvalorizada, principalmente no nível terciário de atenção, em que predomina exclusivamente o modelo de atenção curativista. Esta realidade não é muito diferente na percepção dos usuários que alegaram nunca ter recebido este tipo de atendimento de enfermagem. Contudo, os que participaram das consultas expressaram sentimentos de satisfação e contentamento, pois se sentiram bem acolhidos, mostraram-se ativos e comunicativos, propiciando elaboração conjunta do plano assistencial de cuidados de enfermagem, bem como do processo educativo para o autocuidado. Até o momento, foram realizadas 48 primeiras consultas, sendo 21 homens e 27 mulheres. Outro fator relevante do atendimento singular, é que há uma efetivação dessas consultas demonstradas pelo retorno dos usuários para continuidade do acompanhamento pela enfermagem, somando-se um total de 20 retornos exclusivamente para a consulta de enfermagem. Constata-se, assim, por meio desses dados a efetividade e a aceitabilidade do atendimento de enfermagem. As fragilidades encontradas e que dificultam o andamento das consultas, são de estrutura física, em virtude da grande quantidade de profissionais e acadêmicos que atuam na mesma ala ambulatorial, favorecendo a não disponibilidade de salas para a realização dos atendimentos. A instituição por estar em processo de mudança e adaptação tem acolhido as consultas de enfermagem com intuito de propiciar maior visibilidade e divulgação do serviço para melhor andamento dos atendimentos, que ainda são restritos devido às limitações estruturais. A implementação da consulta de enfermagem e construção do instrumento baseada na Teoria de Autocuidado de Orem proporciona uma melhora na assistência ao usuário e auxilia o entendimento das respostas dos mesmos, pois possibilita traçar os requisitos de autocuidado necessários aos usuários com agravos cardiovasculares para, posteriormente, listar as demandas terapêuticas de autocuidado, ou seja, delimitar problemas de saúde reais e potenciais, para guiar as ações educativas. Além do fato de que os dados gerados pelo instrumento de consulta fomentam novas intervenções como os encaminhamentos para outros profissionais como nutricionistas, psicólogos, bem como possibilita a orientação quanto a referência e contrarreferência do sistema de saúde. 

Palavras-chave


Consulta de enfermagem; Autocuidado; Cardiologia

Referências


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