Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Material de educação ambiental como estratégia de prevenção da leptospirose para uma comunidade urbana reassentada no Município de Porto Alegre, RS, Brasil
Graziella Chaves Trevilato, Marilise Oliveira Mesquita, Luiza de Holleben Saraiva, Michelle da Silva Schons, Márcia Monks Jantzen, Maria Isabel Ferreira Garcia, Michele Paula Pretto

Última alteração: 2015-10-29

Resumo


APRESENTAÇÃO: A contaminação ambiental produzida por assentamentos irregulares e sem saneamento básico tem importante impacto na saúde dos moradores. Acúmulos de resíduos sólidos em torno das residências e das ruas atraem animais sinantrópicos, como os ratos, e com eles doenças para a população, como a leptospirose. A leptospirose consiste em uma doença infecto-contagiosa aguda, que acomete animais e homens e é causada por uma bactéria do gênero Leptospira, que tem sido amplamente divulgada como causa de adoecimento em comunidades pobres, produzindo incapacidade temporária, internação hospitalar e maior incidência de morte em crianças e idosos. O rato é o portador universal da leptospirose, porém os animais domésticos, assim como o homem, são portadores acidentais, que adoecerão ao contrair a enfermidade. Os cães podem ser reservatórios e fontes da bactéria, sendo um potencial transmissor da doença para os humanos. A resistência da bactéria Leptospira em ambientes úmidos deve ser considerada como fator de risco. A remoção dos restos de água e de alimentos do ambiente, a canalização de cursos de água e a drenagem de esgotos, são procedimentos determinantes para o controle das vias de transmissão da leptospirose. Os moradores do reassentamento alvo deste estudo eram provenientes de área irregular sem saneamento básico. Teve-se por objetivo conhecer a percepção ambiental e os riscos à saúde dos moradores de um reassentamento urbano em Porto Alegre/RS, identificando problemas e construindo possíveis soluções, materializadas em um material de educação ambiental com as demandas específicas desta comunidade. DESENVOLVIMENTO: Foram realizadas 89 entrevistas domiciliares para aplicação de um questionário com perguntas estruturadas e semiestruturadas, sobre os hábitos e costumes da comunidade com relação ao ambiente, cuidados com os animais de estimação, presença de animais sinantrópicos e manejo dos resíduos sólidos domésticos. As visitas nos domicílios foram realizadas semanalmente e tiveram início em novembro de 2011, finalizando em dezembro de 2012. A participação dos moradores da comunidade através das entrevistas deu-se de forma voluntária e sigilosa através do uso do termo de consentimento livre e esclarecido. O critério de inclusão para a entrevista foi o domicílio apresentar pelo menos um cão, o entrevistado ter acima de 16 anos. Também foram efetuadas 142 coletas de amostras de sangue nos cães dos domicílios para identificar a prevalência de Leptospirose canina na comunidade. As amostras foram enviadas para o Laboratório de Leptospirose do Instituto Desiderio Finamor (IPVDF-FEPAGRO Saúde Animal), localizado em Eldorado do Sul, região Metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, e testadas para sorologia anti-leptospira. A técnica utilizada pelo laboratório de Leptospirose do IPVDF é a Soroaglutinação Microscópica (SAM), sendo utilizados no diagnóstico 18 sorovares de leptospira: L. australis (Ballico), L. autumnalis (Akiyami A), L. ballum (Mus 127), L. canicola (Hondutrecht), L. copenhageni (M 20), L. celledoni (Celledoni), L. cynopteri (3522 C), L. hardjo (Hardjoprajitno), L. icteroahemorrhagiae (RGA), L. javanica (Veldratbataviae  46), L. panama (CZ 214), L. pyrogenes (Salinem), L. pomona (Pomona), L. tarassovi (Perepelitsin), L. wolffi (3705), L. castelonis (Castellon 3), L. bataviae (Van tienen) e L. saxkoebing (Mus 24). Esta técnica permite determinar de forma quantitativa o título dos anticorpos para cada uma das sorovariedades presentes da bactéria, considerando positivos os animais que apresentem títulos iguais ou superiores à 1:100, conforme proposto pela Organização Internacional para Saúde Animal (OIE), Organização Pan-americana de Saúde (OPS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram avaliadas as frequências de animais soropositivos e as frequências das sorovariedades encontradas. A última etapa do trabalho foi elaborar um material de educação ambiental a partir dos dados coletados nas entrevistas domiciliares. As ilustrações deste material foram feitas com imagens de autoria de uma das alunas, e com fotos de moradores, devidamente autorizadas, mediante termo de autorização de uso de imagem para fins didático-pedagógicos e acadêmicos. Para ilustrar de uma forma original e atrativa, parte das ilustrações foram fotos de pessoas e animais da própria comunidade, e o restante foram gravuras inéditas elaboradas por uma integrante do grupo de pesquisa. Para o material foram selecionados temas que implicavam na prevenção de doenças e promoção da saúde desta comunidade. A editoração gráfica e a impressão foram realizadas pela Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O projeto foi submetido e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da instituição envolvida sob o número 20648. A cada entrevista realizada era lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, colhida a assinatura e deixada uma via do termo com o entrevistado. RESULTADOS: Das 142 amostras de sangue canino analisadas, 19,7% (26 cães) foram soropositivas para leptospirose. As sorovariedades mais frequentes foram Icterohaemorrhagiae (46%) e Canicola (27%). Apenas 29% das pessoas entrevistadas afirmaram saber que o cão pode transmitir leptospirose. Com relação à presença de animais sinantrópicos, 100% dos domicílios, no novo reassentamento, apresentavam pelo menos um tipo destes animais, e a maioria deles mais de um, como: ratos, carrapatos, pulgas e pombos Quanto à segregação dos resíduos sólidos em recicláveis e não recicláveis, 60% dos entrevistados disseram que faziam a separação do lixo, e o motivo principal para a segregação, em 68% das respostas, foi à geração de renda. A linguagem do material educativo necessitou ser acessível a um público com baixa escolaridade, pois esta foi uma característica observada nas entrevistas. Das pessoas entrevistadas, 57% delas apresentavam apenas o ensino fundamental incompleto. De 89 entrevistados, uma pessoa apresentava o ensino superior incompleto e nenhum entrevistado possuía graduação em ensino superior. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O material produzido foi uma sistematização dos dados coletados sobre a percepção ambiental dos moradores do reassentamento urbano, para auxiliar na promoção da saúde e prevenção de doenças, em especial a leptospirose, por se tratar de uma doença muito comum em locais sem saneamento e com forte presença de ratos. A comunidade foi reassentada em uma localidade diferente do local de origem, com saneamento básico, infraestrutura e equipamentos urbanos. Contudo, antigos costumes ainda permanecem, como a prática de acumular materiais recicláveis em torno da residência, o que torna o ambiente propício à atração de ratos, trazendo riscos à saúde dos vizinhos e da própria família. Estas questões ambientais observadas devem ser tratadas com prioridade, para que o viver neste novo local seja um espaço de promoção de saúde para toda a comunidade. Deve-se destacar a importância do trabalho de educação e conscientização ambiental como um concreto instrumento de prevenção de zoonoses, sendo essas ações parte da promoção e vigilância em saúde.  

Palavras-chave


educação em saúde; reassentamento urbano; leptospirose.