Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RELATO DE EXPERIÊNCIA: VIVENCIANDO A PRÁTICA DA TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Danillo de Menezes Araujo, Carlos Galberto Franca Alves, Maria Luisa Simão Borba

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa acerca da experiência da intervenção da Terapia Ocupacional no estágio curricular em saúde mental da Universidade Federal de Sergipe realizado no Centro de Atenção Psicossocial David Capistrano Filho, na cidade de Aracaju-SE. O objetivo deste estudo é relatar a vivência de estágio no desenvolvimento de ações em saúde e resultados obtidos. A partir do ano de 2000 Aracaju se destaca por reorganizar a rede de saúde fazendo uma reforma gerencial e administrativa, seguindo as diretrizes do SUS, dentro desta perspectiva reorganiza sua Rede de Atenção Psicossocial (REAPS). Resgatando o processo de implantação de CAPS em Aracaju em setembro de 2002 é inaugurado o primeiro CAPS municipalizado: CAPS III David Capistrano Filho. O modelo de cuidado em saúde mental implementado pelo município de Aracaju tem se estruturado a partir do trabalho coletivo dos seguintes setores: dos Centros de Atenção Psicossocial, dos Centros de Referência Ambulatoriais, das Unidades Básicas de Saúde, da Rede de Urgência/Emergência Psiquiátrica e o SAMU. O CAPS é um serviço de equipe multiprofissional que tem como intuito oferecer cuidado para a pessoa com sofrimento psíquico sem que ela seja excluída do convívio com a sociedade. Atualmente a REAPS de Aracaju dispõe dos seguintes serviços: 01 Urgência de Saúde Mental no Hospital São José; 03 CAPS do Tipo III; 01 CAPS ad III; 01 CAPS infanto-juvenil ad; 01 CAPS infanto-juvenil de transtorno mental; 09 ambulatórios de referência em saúde mental; 04 serviços residenciais terapêuticos; Projeto de Redução de Danos. Diferentes estratégias foram usadas ao longo do estágio em Terapia Ocupacional para intervenção na saúde mental no CAPS. Realizamos atividades como: grupo de terapia ocupacional, oficina de praia, passeios terapêuticos, estudo de caso, construção de portfólio, participação em seminários, visitas a uma clínica psiquiátrica e duas residências terapêuticas. O grupo de atividades é o mais aplicado pela Terapia Ocupacional, de acordo com Cunha e Santos (2009), o grupo de atividade em Terapia Ocupacional é defino como aquele em que na presença de um terapeuta ocupacional, participantes se reúnem para vivenciar experiências relacionadas ao fazer (Ex: passear, pintar, desenhar, modelar, dançar, fazer compras, relaxar, jogar, costurar). Onde o grupo funciona como uma caixa de ressonância, assumindo uma função de espaço potencial para a exploração do mundo. Azevedo (2011) destaca o desenvolvimento das oficinas terapêuticas nos CAPS que permitem a possibilidade de projeção de conflitos interno-externos por meio de atividades artísticas, com a valorização do potencial criativo, imaginativo e expressivo do usuário, além do fortalecimento da autoestima e da autoconfiança, a miscigenação de saberes e a expressão da subjetividade. As oficinas em Saúde Mental podem ser consideradas terapêuticas quando possibilitarem aos usuários dos serviços um lugar de fala, expressão e acolhimento. Além disso, avançam no caminho da reabilitação, pois exercem o papel de um dispositivo construtor do paradigma psicossocial. RESULTADOS: No grupo de terapia ocupacional, por meio de atividades lúdico-expressivas, a proposta era que cada usuário pudesse se expressar através de palavras, desenhos, pinturas e colagens. Estas estratégias tinham como objetivo favorecer um espaço de relacionamentos interpessoais, além de favorecer trocas de experiências e habilidades motoras e cognitivas. Também dentro do grupo de terapia ocupacional, foi proposto um projeto “CAPS: Que Lugar é esse?”, que foi a criação de um curta-metragem, objetivando apresentação do CAPS à sociedade, e nada melhor que os usuários para realizar esta tarefa. As filmagens tiveram duração de duas semanas e os usuários eram livres para trazer tudo que representava o universo do CAPS, tendo sempre como base a pergunta: “Que lugar é esse?”. Um dos principais objetivos desde curta foi motivar os usuários a terem voz ativa e, além disso, mostrar a comunidade o que o CAPS representa para os usuários e o universo da doença mental. A oficina de praia que aconteceu uma vez por semana na praia da Atalaia, um dos principais pontos turísticos da cidade de Aracaju. O CAPS citado neste trabalho é beneficiado pela boa localização, sendo estes uns dos principais fatores que contribuem com a realização da oficina. Inicialmente a oficina era restrita apenas aos usuários que frequentavam o CAPS em acolhimento diurno e que não estivessem em crise, porém logo após o inicio, os usuários que estavam em crise ou em acolhimento noturno passaram a participar da oficina. Durante a oficina os usuários tiveram experiências de socialização, entre eles e com a comunidade, tinham total autonomia para usufruir de tudo que a praia oferece, desde a relação entre a compra de picolé ou água de coco até as atividades de lazer. Ao passar do tempo era visível a eficácia daquela oficina que ultrapassava os muros do CAPS e que trazia eficácia no tratamento dos usuários que sofrem de transtorno mental, sendo a única oficina externa que tinha a participação de usuários de acolhimento noturno, estes, que participavam das atividades propostas durante a oficina, respeitando as regras e limites, pactuados na dinâmica da mesma. Como proposta de fechamento do estágio e como devolutiva para a equipe do CAPS, foi apresentada um estudo de caso, de um usuário diagnosticado com esquizofrenia, surdo de nascença, que atualmente encontrava-se em estado estável, mas pela dificuldade de comunicação entre usuário-equipe e equipe-usuário era um desafio para a equipe. Visando nos comprometimentos na comunicação e que consequentemente afetam nas várias áreas de seu desempenho ocupacional, foi utilizada como estratégia a elaboração de uma prancha de comunicação, com o intuito de viabilizar o processo de comunicação com a equipe do CAPS. Assim como também foi realizada a apresentação do vídeo para os usuários no dia da assembleia do CAPS. Durante o estágio curricular concluímos que a atenção e cuidado às pessoas em sofrimento psíquico, incluindo os usuários de álcool e outras drogas, propiciam o tratamento humanizado, exigindo ações além daquelas restritas ao setor saúde. Faz-se necessário também auxiliar as pessoas que sofrem de transtornos mentais na construção de projetos de vida saudáveis, que contribuam com o exercício da cidadania e respeito à sua singularidade. Desenvolvendo atividades intersetoriais na interface saúde, educação, cultura e lazer, que promovam a inclusão e reabilitação psicossocial dos usuários dos serviços de Saúde Mental.