Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE EPS EM MOVIMENTO: O RECONHECIMENTO DE SI COMO EDUCADOR E A PRODUÇÃO DO COMUM EM COMUNIDADE DE PRÁTICAS
Eduardo Caron, Elisabete Gonçalves Zuza

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


APRESENTAÇÃO: Esse trabalho encontra-se na intersecção de questões prioritárias no eixo da educação em saúde, apresentando uma prática inovadora na formação para os SUS em ambiente virtual. O SUS é uma escola de formação e possui diretrizes para instaurar processos de Educação Permanente no cotidiano dos serviços, porém inúmeros fatores dificultam a implementação de processos horizontais participativos, que tenham como protagonistas trabalhadores, usuários e gestores nos processos de produção do cuidado. Cada vez mais os processos formativos ocorrem em ambiente virtual, que oferece extrema capilaridade, facilidade de acesso e de operação. O ensino realizado à distância está preponderantemente associado ao processo individualizado de aprendizagem, que transpõe a sala de aula para as plataformas, com roteiros estruturados de conteúdo, habilidades e uso de materiais. Escapar desta modelagem para contemplar a produção coletiva de saberes e vínculos entre os sujeitos, favorecendo a produção do comum, foram grandes desafios para os protagonistas da EPS em Movimento. Apresentamos neste trabalho alguns dispositivos desta proposta de educomunicação em saúde que abriu novas possibilidades para a educação em serviço. Somos uma comunidade de 10 pessoas formada por apoiadora, formadora e 8 tutores de 60 alunos no Estado de São Paulo, onde ao todo foram formadas 60 comunidades, parte de um grande rizoma composto por aproximadamente 500 comunidades em todas as regiões do Brasil. A EPS em Movimento foi impulsionada pelo Departamento de Gestão da Educação na Saúde – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde/MS em convenio com a UFRGS – EducaSaúde, em 2014 e 2015. Contou com parceiros de universidades e serviços para a elaboração do material educativo e estratégias de ensino/aprendizagem.  Um programa de especialização que formou em torno de 4.600 profissionais do SUS em todo o país. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O trabalho envolveu uma atividade permanente em ambiente virtual na plataforma OTICS-EPS em Movimento e encontros presenciais periódicos a cada 3 a 4 meses. Ocorreu em duas fases, na primeira houve a formação dos 8 tutores e 1 formadora que se constituíram em uma comunidade virtual. Na segunda, cada tutor coordenou 1 grupo virtual de participantes segundo a mesma metodologia. O modelo de plataforma que abriga a Comunidade de Práticas permitiu uma interconexão entre as diferentes comunidades através dos tutores, formadores e apoiadores. A estrutura em rizoma permitiu que tutores formador e apoiador compartilhassem os processos de trabalho realizados em seus grupos. O Trabalho na Comunidade Virtual: Adotamos o modelo de Comunidade de Práticas para ordenar o território virtual de produção coletiva de conhecimento. Cada comunidade compôs um coletivo multidisciplinar, multiprofissional e multiterritorial. Esta intensa heterogeneidade de formações, posições de trabalho e localidades de ação produziu uma constante tensão de saberes, olhares, identidades e poderes. Abordagem cartográfica: O participante é sempre sujeito de perspectivas que vão sendo criadas através das postagens. Sejam imagens ou textos, as postagens são subjetivas e objetivas, olham para o mundo – do trabalho, da saúde, do SUS, dos acontecimentos – e constituem produções pessoais. Uma metodologia que promove a VISIBILIDADE da produção do cuidado e saberes em serviço, a NARRATIVA e a SENSIBILIDADE para os encontros e afecções envolvidas, muitas vezes desconsideradas nas rotinas de controle, protocolares e prescritivas. As 4 principais Ferramentas da Plataforma: DIÁRIO CARTOGRÁFICO: de caráter individual e privado é um bloco de notações da experiência no mundo do trabalho, espaço central de exercício narrativo. A privacidade garante a liberdade de expressão nos diários. O tutor ou formador tem acesso aos diários, e através da narrativa acompanha as experiências do aluno. Através do diálogos sobre o ocorrido ambos vão produzindo um reconhecimento dos movimentos permanentes, intencionais ou não, realizados enquanto educadores no mundo do trabalho, favorecendo a abertura de diferentes linhas de ação no cotidiano. CAIXA DE AFECÇÕES: é um espaço de expressão pessoal em ambiente coletivo, permite interação afetiva, ativa, diversas formas de linguagem e novas formas de ver, sentir. FÓRUM: é um espaço de produção, decisão, conflito e elaboração. Aqui se opera o direcionamento do processo de forma coletiva. Qualquer participante dispara temas, propõe problemas, e é onde o tutor ou formador se relaciona com o grupo para tratar de aspectos formativos e organizativos. ENTRADAS: reúnem materiais disponibilizados - textos exclusivos, artigos, ensaios, vídeos e links - cujo uso é direcionado pela motivação do usuário que compõe seu próprio acervo segundo suas necessidades, e muitas vezes compartilhada com o grupo. O tutor recorre a esses materiais em encontros presenciais, sugere consultas associadas às narrativas cartográficas e fóruns. ENCONTROS PRESENCIAIS: São encontros vivenciais realizados para o fortalecimento dos vínculos e produção do comum. Despertando visões, dizeres e sensibilidades. Oficinas de narrativa oral e escrita, produção de imagens, comunicação pessoal, elaborações de temas apoiados em materiais ofertados na plataforma, avaliação de processo e autoavaliação. RESULTADOS E NARRATIVAS: De modo geral foi a primeira vez que os participantes experimentaram a narrativa como processo educativo. Vencidas as dificuldades iniciais ou resistências relacionadas à produção escrita, auto exposição e desconfianças, nos deparamos com uma produção inédita nos Diários Cartográficos de novas conexões com o mundo do trabalho a partir dessa prática. Nas narrativas um mundo aparece e sobre esse mundo narrado é possível indagar, ver, desver, rever, ampliar visibilidades sobre as ações de cuidado e produções de saberes no cotidiano do trabalho. Há um reconhecimento do processo educativo nestas produções e o estabelecimento de cooperação entre tutor-participante. COMUNIDADES: Nossas comunidades, de fato aconteceram como praças, espaços de produção de encontro, estabelecendo vínculo, relações cooperativas, conflitos e compartilhamento. O comum foi produzido nesse território, espaço de diversidade, de composição e arranjo de diferenças. Uma combinação de trabalho comum e singularidades, sem a pretensão de uma homogeneização nem unicidades de aprendizado de conteúdo ou de pontos de vista, essa foi à maior riqueza da proposta. PRODUÇÃO HORIZONTAL: A combinação da composição plural dos grupos, das diferenças entre os participantes, das produções narrativas singulares e do trabalho num ambiente virtual de produção do comum, resulta num processo que só se sustenta pela participação e pela oferta de saberes em roda. Os participantes se reconhecem como educadores e esse reconhecimento é fundante para a EPS. Evasão: Durante o processo houveram evasões de alguns alunos em nossos grupos, basicamente motivadas pela dificuldade destes com processos de ensino aprendizagem menos lineares. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A proposta de formação EPS em Movimento em território virtual, valorizando o encontro como método, foi potente por se sustentar nas experiências de cada participante garantindo a horizontalidade do processo pedagógico. O processo foi exigente, as pessoas envolvidas precisaram se dispor a navegar munidas de bússolas, as ofertadas e as que traziam consigo, sem mapas, produzindo suas próprias cartografias, o que desmontou ao longo do processo as expectativas de receitas prontas, rendimento e obtenção de resultados próprias do modelo de educação bancária. A proposta mobiliza, conflita, produz expectativas e frustrações nos coletivos, porém garante o espaço para a interlocução entre os membros em relação às diversidades e alegrias do cotidiano do trabalho em saúde. O compartilhamento das dificuldades motiva a cooperação e sustenta a permanência no processo.

Palavras-chave


Educação Permanente; Educomunicação; cartografia