Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Histórico da descentralização da técnica de Ogawa-Kudoh para diagnóstico da tuberculose em Mato Grosso do Sul
Eunice Atsuko Totumi Cunha, Marli Marques, Leila Lempke, Aleuyr Oliveira Lima, Odenir Amorim, Juliana Zarate Fernandes, Alexsandro Heirishi

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


INTRODUÇÃO: A tuberculose pulmonar (TBP) representa um importante problema de saúde pública em Mato Grosso do Sul com taxas de incidência e mortalidade entre 2007-2010 de 31,5/100.000 e 2,3/100.000 hab. Sua distribuição heterogênea destaca superioridade entre municípios fronteiriços com Paraguai e Bolívia: 49,1/100.000 hab. e 4,0/100.000 hab. respectivamente, representando 1,6 vezes e 1,8 vezes acima dos registros fora dela; na população indígena foram 184,9/100.000 e 11,1/100.000 hab. respectivamente, superiores a 6,4 e 3,2 vezes que entre não indígenas e, atingindo 871,4/100.000 entre detentos. Estas populações (carcerária, indígena e fronteiriça) apresentam maior risco de adoecimento e morte por TBP em nosso Estado. Até 1994 a pesquisa de BAAR era realizada pelo Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN/MS), porém a partir de 1995 implanta a cultura do M. tuberculosis utilizando meio sólidos de Löwenstein–Jensen e, a partir de 2003, meio líquido (sistema Bactec MGIT 960/BD). Com esta nova rotina, o LACEN/MS delega a pesquisa de BAAR aos laboratórios municipais. As amostras para cultura que adentravam ao LACEN/MS nem sempre provinham de localidades e grupos de maior vulnerabilidade, o que motivou a descentralização da semeadura para ampliar a investigação da TB nestas populações. A técnica de Ogawa-Kudoh (O-K) mostrou-se viável, por não exigir estrutura laboratorial complexa, dispensar centrífuga, estufa e cabine de segurança biológica como requerido por outras técnicas, exigindo a mesma estrutura para realização da baciloscopia. Assim, este trabalho descreve o histórico da implantação da técnica de Ogawa-Kudoh nos laboratórios municipais de Mato Grosso do Sul, com vistas a implementar o diagnóstico e controle da TB. Materiais e métodosA técnica de O-K eram reconhecidos pela OMS e desde final de 1990 era utilizada por alguns laboratórios de São Paulo e do Rio Grande do Sul, a despeito do Ministério da Saúde não concordar e/ou recomendar sua implantação. Esta técnica foi reconhecida em 2008 e incluída no “Manual Nacional de Vigilância Laboratorial da Tuberculose e Outras Micobactérias”. Os técnicos do LACEN/MS receberam treinamento à distância pelos profissionais do Instituto Adolfo Lutz de Ribeirão Preto e decidiram pela implantação. A técnica de O-K revelava-se simples, prática e de baixo custo (estimado em $1,00 dolar por cultura) e ser factível em localidades onde a cultura tradicional mostra-se inviável. Também por apresentar um risco biológico reduzido para quem a manuseia e baixo risco de contaminação cruzada. Os tubos com meios de cultura podem ficar mantidos em temperatura ambiente, e, quando disponível, refrigerador doméstico. O material semeado pode permanecer entre 7 a 10 dias em temperatura ambiente. Os técnicos locais foram capacitados, receberam os insumos e passaram a realizar a técnica e quando necessário solicitavam apoio do LACEN/MS para adequação do espaço físico e ajustes da técnica. Em 1999, em caráter experimental ocorreu aimplantação da técnica no laboratório do Hospital Porta da Esperança (HPE) em Dourados. Este hospital atendia indígena com TB, em regime de internação, onde o diagnóstico limitava-se a pesquisa de BAAR. Em Dourados, na atualidade, esta rotina ocorre no laboratório do Hospital Universitário e contempla toda a população (não indígena/prisional), em parceria com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), além de outro laboratório na unidade de saúde da Aldeia Jaguapirú, cuja rotina está sob a responsabilidade de um indígena, técnico de enfermagem. Em 2006 descentralizou-se para o laboratório municipal de Amambai, a fim de atender a mudança na política de assistência aos indígenas com TB para a rede básica, incentivada a partir de 2001. Com isto houve uma redução substancial na demanda do HPE e os suspeitos TB passaram a ser atendidos pelas Equipes de Saúde Indígenas, nas próprias aldeias. Com isto, houve redução do envio de escarro ao LACEN/MS para realização da cultura, visto a distância e custos com transporte. Este laboratório atendia também a demanda de indígenas de Aral Moreira e Coronel Sapucaia, e na atualidade, disponível para população não indígena. Em 2007 implantou-se a técnica nos laboratórios municipais de Corumbá, Ponta Porã e Três Lagoas, visto apresentarem populações de risco (fronteira e população prisional). Em 2013, ampliou-se a implantação em dois laboratórios do Pólo Indígena de Iguatemi para atender três municípios com população indígena e no laboratório da Casa do Índio em Tacuru, além do laboratório municipal de Bonito (pólo turístico) e, no ano de 2014, no laboratório municipal de Nova Andradina. Em 2015 implantou-se no Laboratório Central/LABCEM/Campo Grande e no laboratório do Hospital São Julião (referência estadual no tratamento de resistência às drogas). Os dados gerados pelo LACEN/MS passaram a ser avaliados e disponibilizados para os técnicos do serviço, para alunos de graduação e pós-graduação e pesquisadores, possibilitando estudos, avaliações, monografias, dissertações e teses de mestrado e doutorado, além de publicações em revistas conceituadas e prêmios de reconhecimento técnico. RESULTADOS/IMPACTO: Entre 1999-2008 foram analisadas 9.982amostras de suspeitos entre indígenas e não indígenas, com resultado positivo em 795 (8,0%); Entre2009-2013foram analisadas 7.969 amostras de suspeitos entre indígenas e não indígenas, com resultado positivo em919(11,5%); Na atualidade esta técnica está implantada em 12 municípios onde residem 1.518.592 hab. (58,0%) dos 2.619.657 hab. do estado. A utilização da cultura pelo método de O-K aumentou o número de casos confirmados entre 1999-2001 em 34,1%. Após a implementação do diagnóstico com a técnica de O-K observou-se: a) Declínio nas taxas de incidência na população indígena nos respectivos anos avaliados: 1999 – 700,0/100.000 hab. 2007 – 223,6/100 mil hab. 2010 - 199,8/100 000 hab.b) Possibilidade de diagnóstico e monitoramento da resistência às drogas entre indígenas: Entre 1999-2008 foram realizados 569 testes de sensibilidadeàs drogas, onde 545 (95,8%) eram sensíveis às quatro drogas testadas e 31 pacientes apresentaram resistência (5,7%), sendo 3 casos com MDR (taxa de 0,9%), casos que foram adequadamente acompanhados e tratados. c) Repasse de recursos pelo Ministério da Saúde para supervisões e assessorias aos municípios que realizavam tal rotina. Em 2010 foi disponibilizado R$160.000,00 para o projeto “Avaliação genética do M. tuberculosis em pacientes de TB em área de fronteira”. d) Disponibilidade de banco de dados do LACEN/MS para servidores da saúde, acadêmicos (graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado) e pesquisadores, resultando em avaliações e publicações disponíveis nas bibliotecas e revistas de elevado impacto. e) Parceria com instituições de ensino e pesquisa: (UFMS/UFGD/UNESP, FIOCRUZ/Pantanal e FIOCRUZ/RJ) possibilitou a realização de estudos e investimentos nas ações do PCT em populações vulneráveis. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A técnica de O-K mostra-se factível de ser implantada em qualquer localidade onde exista um laboratório de baixa complexidade e pessoal treinado. A experiência na capacitação de técnicos de nível médio, indígenas e não indígenas, em localidades onde não havia disponibilidade de profissionais de nível superior da área, para esta rotina, não apresentou evidências de comprometimento da qualidade do serviço, suprida pelas supervisões tanto pelo profissional do município, como do LACEN/MS. A implantação desta técnica contribuiu sobremaneira no diagnóstico da TB no Estado, permitindo aos técnicos e gestores,  novas abordagens frente às populações e grupos vulneráveis. Sua implantação nos demais municípios do estado busca atender as recomendação atuais do Ministério da Saúde (2013) para oferta da cultura universal. Também foi adotada por um serviço no Paraguai (fronteira com Ponta Porã) que buscou orientações junto ao LACEN/MS. Ressalta-se que apesar da técnica estar em uso nos Estados do Piaui, Paraíba, Espírito Santo, Roraima, Acre e Amazonas, Mato Grosso do Sul foi pioneiro na implantação para atender prioritariamente população indígena.

Palavras-chave


Micobacterium tuberculosis;cultura Ogawa-Kudoh;descentralização

Referências


Resultados/impacto

Entre 1999-2008 foram analisadas 9.982amostras de suspeitos entre indígenas e não indígenas, com resultado positivo em 795 (8,0%);

Entre2009-2013foram analisadas 7.969 amostras de suspeitos entre indígenas e não indígenas, com resultado positivo em919(11,5%);

Na atualidade esta técnica está implantada em 12 municípios onde residem 1.518.592 hab. (58,0%) dos 2.619.657 hab. do estado.A utilização da cultura pelo método de O-K aumentou o número de casos confirmados entre 1999-2001 em 34,1%.

Após a implementação do diagnóstico com a técnica de O-K observou-se:

a)Declínio nas taxas de incidência na população indígena nos respectivos anos avaliados:

1999 – 700,0/100.000 hab. 2007 – 223,6/100 mil hab. 2010 - 199,8/100 000 hab.

b)Possibilidade de diagnóstico e monitoramento da resistênciaàs drogas entre indígenas

Entre 1999-2008 foram realizados 569 testes de sensibilidadeàs drogas, onde 545 (95,8%) eram sensíveis às 4 drogas testadas e 31 pacientes apresentaramresistência (5,7%), sendo 3 casos com  MDR (taxa de 0,9%), casos que foram adequadamente acompanhados e tratados.

c)Repasse de recursos pelo Ministério da Saúde para supervisões e assessorias aos municípios que realizavam tal rotina. Em 2010 foi disponibilizadoR$160.000,00 para o projeto intitulado“Avaliação genética do M. tuberculosis em pacientes de TB em área de fronteira” .

d)Disponibilidade de banco de dados do LACEN/MS servindo como fonte de pesquisa para acadêmicos, servidores da saúde (graduação, pós graduação, mestrado e doutorado) e pesquisadores, nos respectivos anos, resultando em avaliações e publicações disponíveis nas bibliotecas e revistas de elevado impacto, utilizando dados da rotina dos serviços, abaixo listado:

e)Parceria com instituições de ensino e pesquisa

 

A parceria com as instituições de ensino e pesquisa (UFMS/UFGD/UNESP, FIOCRUZ/Pantanal e FIOCRUZ/RJ) possibilitoua realização de estudos e recursos para as ações do PCT em populações vulneráveis.

Considerações finais

A técnica de O-K mostra-se factível de ser implantada em qualquer localidade onde exista um laboratório de baixa complexidade e pessoal treinado. A experiência na capacitação de técnicos de nível médio, indígenas e não indígenas, em localidades onde os profissionais disponíveis não tinham formação superior na área, mostrou ser factível e contando sempre com supervisão do profissional do município e do LACEN/MS,sem evidências de comprometimento da qualidade técnica.A implantação desta técnica contribuiusobremaneira no diagnóstico da TB no Estado, permitindo aos técnicos e gestores,  novas abordagens frente às populações e grupos vulneráveis. Sua implantação nos demais municípios do estado busca atender as recomendação atuais do Ministério da Saúde (2013) para oferta da cultura universal.

Ressalta-se que esta técnica foi também aceita por outros Estados (Piaui, Paraiba, Espírito Santo, Roraima, Acre e Amazonas) e por técnicos do Paraguai, que buscaram orientações junto ao LACEN/MS para implantação em laboratórios de fronteira, porém nosso estado foi pioneiro na implantação desta técnica para atender prioritariamente população indígena.