Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Projeto A Cor da Rua: Ensino, Pesquisa e Extensão na interface da saúde e direitos humanos
Ana Alice Freire, Thiago Brunelli Silva, Carmen Santana de Albuquerque, Magali Baptista, Anderson Da Silva Rosa, Luciana De Carvalho, Erika Vovchenco, Fernanda Campello, Erina Izumi

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


INTRODUÇÃO: Pessoas vivendo nas ruas, não apenas sem-teto e sem pátria, mas sem horizontes, é uma situação para qual não há uma resposta efetiva. Problemas sociais complexos exigem trabalho intersetorial com ações dialogadas e participação ativa das pessoas envolvidas. A formação na área da saúde não contempla as especificidades para o cuidado a esta população, trabalhadores adoecem e as pessoas atendidas muitas vezes sofrem ainda mais pela violência nos equipamentos públicos. O trabalho intersetorial carece de experiências e estudos quanto à sua implantação no âmbito da organização de serviços: é preciso enfocar a lacuna existente entre as políticas públicas, o conhecimento e a sua aplicação na prática. Faltam espaços de formação envolvendo vários setores da sociedade no desenvolvimento de técnicas com bases científicas para melhorar a aplicação dos recursos disponíveis. OBJETIVOS: O Projeto de Extensão A Cor da Rua, integra o Programa Com-Unidade da Universidade Federal de São Paulo. Tem como objetivos: Desenvolver atividades de educação popular, visando potencializar a habilidade dos graduandos e demais participantes para desenvolver ações, atitudes e práticas coletivas que promovam os direitos humanos, sobretudo em relação às pessoas em situação de rua, imigrantes e refugiados; Estimular o estudante a analisar criticamente o atual cenário das políticas públicas voltadas às pessoas em situação de vulnerabilidade social, sobretudo perante o seu papel social e suas responsabilidades como cidadão brasileiro e futuro profissional da área da saúde; Contribuir com a formação de graduandos e pós-graduandos da Unifesp integrando teoria e prática, por meio da vivência extensionista; Desenvolver estratégias que garantam o acesso da população em situação de vulnerabilidade social à rede pública de Saúde; Qualificar o cuidado e integrar a rede de saúde e assistência social para a população em situação de vulnerabilidade social. METODOLOGIA: O projeto A Cor da Rua é estruturado na formação de profissionais da rede pública, na participação da comunidade usuária dos serviços e na produção de conhecimento, promovendo o diálogo entre a universidade e a comunidade. Com ações de aprendizagem participativa que integram saúde, assistência social e participação popular, o projeto promove encontros e convivências para desenvolver novas formas de cuidado para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Considerando vulnerabilidade como uma “noção multidimensional, na medida em que afeta indivíduos, grupos e comunidades em planos distintos de seu bem-estar, de diferentes formas e intensidade” (SEADE, 2001) Inspirado na pedagogia de Paulo Freire, o projeto utiliza a metodologia participativa da pesquisa-ação (método psicossocial) para conduzir suas ações. Inicialmente trabalha com o diagnóstico participativo da situação – problema, a partir do qual todos os participantes desenvolvem estratégias para melhorar as práticas sociais e humanas, conforme a necessidade do contexto onde a ação será implementada. O projeto conta com a colaboração da comunidade envolvida, graduandos, pós-graduandos e profissionais de diferentes áreas, relacionadas à assistência social, saúde e ciências humanas e suas atividades permitem que todos os envolvidos participem, aprendam e ajam de modo cooperativo e democrático para atingir objetivos comuns. As ações acontecem em equipamentos sociais no centro de São Paulo, onde está situado um grande número de sujeitos em situação de vulnerabilidade social: moradores de cortiço, ocupações, pessoas em situação de rua. Ações específicas para imigrantes e refugiados acontecem no Centro de Referência para Refugiados (Convênio da Caritas Arquidiocesana de São Paulo com Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados- ACNUR).  RESULTADOS: Desde o ano de 2010, o projeto A Cor da Rua proporciona espaços de formação intersetorial para promover diálogo e participação ativa das pessoas envolvidas no cuidado às pessoas em situação de rua. No transcorrer desse período realizou-se: 1) Análise do cenário das necessidades da população em situação de rua no centro da cidade de São Paulo; 2) Oficina para construção da rede de apoio à população em situação de rua; 3) Ação de Capacitação em Saúde Mental para trabalhadores da assistência social; 4) Curso de Extensão de Arteterapia Comunitária, que foi o piloto do atual modelo de formação/integração das redes saúde/ assistência social proposto pelo projeto; 5) Grupo educativo sobre saúde de travestis em situação de rua; 6) Seminários para promoção de direitos humanos das pessoas em situação de rua; 7) Mapeamento dos equipamentos públicos responsáveis pelo atendimento desta população na região central de São Paulo, com a finalidade de promover um primeiro contato e aproximação dos graduandos participantes do projeto à temática. Todas as atividades extensionistas são realizadas de maneira participativa. Muitas das ações são concretizadas por meio de práticas culturais, como: atividades artísticas e expressivas, ateliês terapêuticos, oficinas e exposições de trabalhos produzidos. Na avaliação dos estudantes de graduação, as vivências no projeto A Cor da Rua têm permitido ações de grande significado pessoal, contribuindo para uma formação humanizada, dando a oportunidade de contato com grupos vulneráveis. Além disso, a prática da pesquisa-ação permite retribuir à sociedade durante o processo de graduação e pós-graduação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A escolha da metodologia de trabalho da pesquisa-ação em nosso programa de extensão permite a grupos vulneráveis participar do processo de produção do conhecimento e das ações de promoção e cuidado à saúde. Para os estudantes permite que a transformação da realidade aconteça à medida que o próprio graduando esteja se formando. As desigualdades sociais e a complexidade das interações entre os diversos setores (formais e informais) constituem desafios para a formulação e, principalmente, para a implementação de políticas públicas de atenção à população em situação de vulnerabilidade social no centro de São Paulo. O poder público tem desenvolvido diversos programas para inclusão das pessoas em situação de vulnerabilidade social. Reconhecemos o enorme valor destes programas, entretanto, a maior dificuldade não é criar a política, mas viabilizar sua implementação. O cenário atual é composto de trabalhos pouco articulados entre si, gerando sofrimento aos seus trabalhadores, duplicidade de funções e pouca resolutividade de ações. Estudos demonstram que o sucesso desses programas depende de ações intersetoriais e interinstitucionais, institucionalizadas e duradouras. Assim, para os serviços de saúde e os de assistência social esses grupos populacionais trazem a necessidade de formular novas abordagens capazes de superar os limites tecnológicos atuais. O Projeto A Cor da Rua tem como principal motivação desenvolver e ampliar a compreensão destas práticas intersetoriais. Desta forma pretende promover ações inovadoras para promoção dos direitos humanos da população em situação de vulnerabilidade social, especialmente população em situação de rua, imigrantes e refugiados que convivem no centro de São Paulo.

Palavras-chave


Extensão Universitária, Educação Popular, Moradores de Rua

Referências


SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. http://www.seade.gov.br/produtos/ipvs/apresentacao.php