Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
ATENÇÃO DOMICILIAR AO IDOSO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: A PERSPECTIVA DOS PROFISSIONAIS SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO
Emanoel Avelar Muniz, Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas, Maria Ribeiro Lacerda, Eliany Nazaré Oliveira

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Atenção Domiciliar (AD) ao idoso na Estratégia Saúde da Família (ESF) é uma possibilidade de ampliação da integralidade na atenção à saúde e vem provocando mudanças na prática dos profissionais devido ao grande número de idosos e familiares/cuidadores que necessitam de atendimento no domicílio e não se sentem amparados pelo sistema/equipe de saúde.  O cuidado domiciliar pode ser uma alternativa para que a autonomia do indivíduo e família se concretize e o suporte aos cuidadores representa um novo desafio para o sistema de saúde brasileiro. O espaço domiciliar é potente para promover a reflexão das relações usuários/trabalhadores de saúde no cenário de saúde intradomiciliar. Assim, decorre a necessidade de refletir sobre como está organizado o cuidado às famílias na AD de idosos com comprometimento funcional no contexto da ESF de Sobral, Ceará a partir da perspectiva dos profissionais. MÉTODO: Esta pesquisa é de abordagem qualitativa do tipo exploratória, o campo de pesquisa foi quatro Centros de Saúde da Família (CSF) da macroárea II na sede do município de Sobral, principal cidade da região Norte do Ceará. Foi escolhida a macroárea com o maior número de idosos de acordo com os dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) de 2013. A coleta de informações foi desenvolvida no período de setembro de 2014 a março de 2015. Os sujeitos do estudo foram vinte e oito profissionais da equipe mínima da ESF, sendo quatro enfermeiras, uma auxiliar de enfermagem e vinte e três Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Para a coleta de informações foram realizados quatro grupos focais, um em cada CSF envolvendo de seis a nove profissionais de diferentes categorias. A proposta de análise do material escolhida foi à codificação temática segundo Uwe Flick (2009). Adotaram-se as recomendações éticas para pesquisa envolvendo seres humanos obtendo a aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). RESULTADOS: A partir do discurso dos profissionais buscou-se descrever a organização e operacionalização da AD no âmbito da ESF. Foi identificado que o primeiro contato se dá com a família trazendo a demanda para o serviço, no qual a equipe procura se organizar para realização de uma visita domiciliar. Através dela avalia o estado de saúde do idoso e suas necessidades, elabora um plano de cuidados, Projeto Terapêutico Singular (PTS) ou realiza encaminhamentos para outros profissionais da Rede de Atenção à Saúde (RAS) procurando manter um acompanhamento do idoso e família. Esse primeiro contato também pode se dar com a procura da família pelo ACS, por conta de sua proximidade com o território, para levar a demanda de AD para a equipe, gerando a informação, o qual comunica ao enfermeiro responsável por aquele território que busca conhecer o caso e dependendo da necessidade aciona o médico, na tentativa de resolver o problema de saúde do idoso, se a equipe mínima não obtiver um resultado satisfatório, cria-se um plano de cuidados para levar ao domicílio a categoria profissional que poderá contribuir nas necessidades do idoso e família. Foi destacado que a procura maior é pelo profissional médico, seguido do fisioterapeuta, assistente social e nutricionista e a importância destes profissionais no acompanhamento de idosos no domicílio, pois são pacientes portadores de agravos na saúde. A equipe reconhece que esses pacientes necessitam não apenas de uma Visita Domiciliar (VD) esporádica, mas de uma AD sistemática de acordo com as necessidades do paciente e capacidade da equipe. Nesse sentido, as VD são realizadas mensalmente pelo ACS e de acordo com o estado de saúde do paciente, podendo se tornar constantes. Em algumas unidades de saúde existe a rotina da visita semanal ou mensal do auxiliar ou técnico de enfermagem para realizar a verificação de sinais vitais dos idosos e caso identifique alguma alteração comunica o enfermeiro responsável que também realiza uma VD para avaliar o estado de saúde do idoso e elaborar um plano de cuidados. Relatou-se também a transferência do caso do paciente pelo enfermeiro para outro profissional da equipe multidisciplinar sem sua prévia avaliação, simplesmente repassando as informações obtidas do ACS ou do auxiliar ou técnico de enfermagem. Sendo assim, os idosos domiciliados são avaliados pelo enfermeiro em média a cada três ou quatro meses, embora a equipe desejasse que essa avaliação fosse mensal. O enfermeiro realiza atendimentos no domicílio através do Programa de Hiperdia, prescrevendo medicações conforme estabelecido para pacientes portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e Diabetes Mellitus (DM), além de solicitar exames laboratoriais quando necessário. Por conta da necessidade de renovação das receitas médicas a cada seis meses de acordo com o programa, as visitas médicas são realizadas semestralmente ou no caso de intercorrências. Em relação ao processo de trabalho da equipe no contexto da AD foi reforçada a questão das orientações a cuidadores e idosos buscando a qualificação do cuidado através do esclarecimento; a construção da multiprofissionalidade de acordo com a necessidade do idoso; a importância dos retornos; feedbacks entre as categorias profissionais para a continuidade da assistência e a realização das VD sem aviso prévio as famílias; buscando observar o cotidiano da estrutura familiar e o cuidado prestado ao idoso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do exposto é necessário compreender as especificidades do cuidado domiciliar no qual o domicílio se insere como espaço de atenção à saúde e local privado das pessoas, onde o profissional tem que pedir licença para entrar. Além da complexidade da execução da AD na ESF por conta da diversidade de ações programáticas, grande demanda de usuários, ausência de estrutura física e transporte dos serviços, profissionais despreparados para atender no domicílio, mas que possuem essa responsabilidade. É necessário refletir também sobre as ações intituladas de visita domiciliar, pois ela deve ter uma construção, para determinar uma AD o profissional precisa compreender e intervir na dinamicidade da estrutura familiar. Assim, é necessário que as equipes de ESF realizem um acompanhamento sistemático do cuidado ao idoso e família, com supervisão, pactuação de objetivos, metas e atribuições entre os envolvidos para que a família retome o seu papel como provedora de cuidados contando com a ajuda do sistema de saúde.    

Palavras-chave


Estratégia Saúde da Família; Assistência domiciliar; Saúde do idoso.