Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VERSUS: Uma imersão multiprofissional na realidade do SUS
Raphael Moraes da Rosa, Talitha Demenjour Silva, Talita Demenjour Silva, Renata Andrade Santos, Renato Miguel Resende, Giovane Oliveira Vieira

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


INTRODUÇÃO: O VER-SUS é um programa de Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde proposto pelo Ministério da Saúde em parceria com a Rede Unida, com a Rede Governo Colaborativo em Saúde/UFRGS, com a União Nacional dos Estudantes (UNE), com o Conselho Nacional das Secretarias de Saúde (CONASS) e com o Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS). Iniciou-se no ano de 2002 no Rio Grande do Sul e no ano de 2004 foi expandido para outros estados do Brasil. No Rio de Janeiro, ele ocorre uma vez por ano desde 2011, com a duração de doze dias. O objetivo do projeto é valorizar e potencializar o compromisso ético-político dos participantes no processo de implantação do SUS, permitindo que os mesmos tenham um maior contato com os seus princípios e contribuindo na ampliação do conceito de saúde e no amadurecimento da prática multiprofissional e interdisciplinar, assim como para a integração ensino-serviço-gestão-controle social. Entende-se que ele é uma ferramenta para fomentar a discussão e luta por um sistema de saúde amplo e que entenda e cuide dos seus usuários de forma holística. O trabalho tem como objetivos relatar e analisar a experiência ocorrida no município do Rio de Janeiro no período de 26 de junho a 6 de agosto de 2015 e destacar a importância dos modelos de estágios de imersão na formação de futuros profissionais de saúde e atores sociais. DESENVOLVIMENTO: Um grupo de quarenta e quatro viventes foi subdividido em quatro áreas programáticas (AP), tais quais AP 2.1 que faz cobertura dos bairros de Botafogo, Catete, Copacabana, Cosme Velho, Flamengo, Gávea, Glória, Humaitá, Ipanema, Jardim Botânico, Lagoa, Laranjeiras, Leblon, Leme, Rocinha, São Conrado, Urca e Vidigal; AP 2.2 que faz cobertura dos bairros do Alto da Boa Vista, Andaraí, Grajaú, Maracanã, Praça da Bandeira, Tijuca e Vila Isabel; AP 3.2 que faz cobertura dos bairros de Abolição, Água Santa, Cachambi, Del Castilho, Encantado, Engenho da Rainha, Engenho de Dentro, Engenho Novo, Higienópolis, Inhaúma, Jacaré, Jacarezinho, Lins de Vasconcelos, Maria da Graça, Méier, Piedade, Pilares, Riachuelo, Rocha, Sampaio, São Francisco Xavier, Todos os Santos e Tomás Coelho; e AP 5.3 que faz cobertura dos bairros de Santa Cruz, Paciência e Sepetiba cada qual com dez viventes, um facilitador, que era um vivente de edições anteriores responsável por orientar os demais e um apoiador, que era um membro do Centro de Estudo da respectiva área e atuava como uma ponte entre os viventes e a unidade. Todos, exceto os apoiadores, ficaram alocados num mesmo hotel, onde tinham a oportunidade de compartilhar as experiências vividas em cada uma das áreas programáticas. O grupo foi formado por discentes das mais variadas áreas de conhecimento tais como direito, gestão pública, design de interiores além dos da área de saúde (medicina, enfermagem, terapia ocupacional e psicologia), seguindo assim, a lógica da formação de equipe multidisciplinar em saúde. Ao longo dos dias foram visitados diversos cenários inseridos nos diferentes níveis de complexidade, desde a atenção básica a gestão. O roteiro de visitas foi construído de forma que primeiro víssemos como funciona a gestão central e o contexto histórico da cidade do Rio de Janeiro e depois passássemos por unidades dos diversos níveis de complexidade em saúde, iniciando na atenção primária e terminando na alta complexidade, incluindo também os serviços de atenção psicossocial. Todas as noites, o retornar ao hotel, realizava-se discussões e debates a cerca da vivencia do dia. A dinâmica das discussões envolvia pequenos grupos e depois a plenária com todos os participantes. E em seguida, cada participante elaborava um relato no qual expressavam suas reflexões acerca do que vivenciaram naquele dia enviando o mesmo no formato de portfólio para a plataforma do programa (OTICS). Um dos mais importantes momentos de socialização do grupo ocorria durante as refeições. As refeições matutinas eram realizadas no próprio hotel, as vespertinas em restaurantes próximos dos locais de vivência e as noturnas em um restaurante próximo ao alojamento, sendo estes espaços utilizados para trocas informais de experiências e também, para estreitamento de vínculos entre os estudantes. O programa inseriu os viventes em atividades culturais e esportivas como visitas ao Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), caminhada pelo forte de Copacabana, atividades físicas socioeducativas, visitas ao Museu da Vida e Bibliotecas na Fiocruz colocando em pauta a visão de saúde ampliada fundamental para a concepção do SUS. No último dia, os grupos realizaram uma apresentação, em formato livre, aos representantes da secretaria municipal de saúde e da comissão estadual do projeto, mostrando criticamente o que aprenderam durante a vivência. RESULTADOS: A participação de estudantes de diversas graduações desde a área da saúde e outros cursos tais quais direito, design de interiores e gestão pública proporcionou uma rica troca de experiência assim como quebras de paradigmas interprofissionais. Em cada debate e visita, muitas visões equivocadas sobre assistência e funcionamento do sistema único de saúde foram desconstruídas. Foi nítida a percepção da necessidade dos profissionais trabalharem intersetorialmente a fim de que se possa construir um SUS mais forte e unido, sendo este um dos maiores legados que o VER-SUS nos deixou. Foi possível a cada indivíduo uma autorreflexão sobre o seu papel como agente transformador da sociedade estimulando assim sua pró-atividade política social não antes percebida ou experimentada pelos viventes. Ao final do estágio cada equipe realizou um relatório multidisciplinar acerca de sua experiência e que foi enviado ao Ministério da Saúde e seus demais parceiros. Esse relatório objetiva trazer os aspectos importantes da vivência e propor melhorias para o município visitado. CONCLUSÃO: Acreditamos que o programa tem uma contribuição importante na formação do indivíduo enquanto agente social, e principalmente, para o sistema de saúde que carece de profissionais com visão ampliada de saúde, cientes que a integralidade do cuidado, a universalidade e a equidade são princípios que estão intimamente associados à qualidade do atendimento oferecido e a capacitação profissional. Baseado nesses pressupostos propõe-se que o Ver-SUS tenha uma maior divulgação com a finalidade de acessar um maior número de profissionais em formação e incitar reflexão e inserção do sujeito no sistema único de saúde. É importante também que haja uma ampliação do projeto, estendendo para municípios do interior, principalmente aqueles que abrangem as diversidades populacionais tais como quilombolas, ciganos, indígenas dentre outros grupos, evidenciando que a população brasileira possui uma formação populacional diversificada e heterogênea, e a inserção de acadêmicos nesses cenários viabiliza uma vivencia diferenciada e única. Faz-se necessário também a inclusão de indivíduos que ainda não adentraram na universidade, mas que já nutrem interesse em conhecer nosso sistema de saúde, colocando em prática uma das diretrizes do SUS que é a participação e controle social.

Palavras-chave


Ver-SUS1; Sistema único de Saúde2; multidisciplinaridade3