Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VER-SUS: A descoberta do olhar, do sentir e do existir no outro
Anna Karla Rodrigues Dino

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


O trabalho aqui apresentado trás como proposta o compartilhamento de experiências vivenciadas no VER-SUS (Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde), na edição de 2015.2, na cidade de Sobral, no Ceará. Tem como foco relatar a percepção sobre a construção dos processos de cuidado e de vinculação dos sujeitos dentro dos serviços de saúde e problematizar sobre a coisificação das relações. Para isso, será utilizado o relato de uma visita feita, no período de imersão, à UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Durante a visita, diferentes situações incomodaram e emocionaram. Neste serviço pude conhecer o espaço da UTI Pediátrica, onde os bebês prematuros ficam internados até poderem ir para o berçário. O tempo que estive naquele ambiente, entrando nos quartos, abrindo e fechando portas, saindo e entrando nos lugares. Poder olhar o que tinha ou o que se fazia ali, foi possível ver quem o ocupava e por que ocupava. Porém, olhar nos olhos de várias mães e não poder falar com elas, ou não perguntar a elas se poderia entrar e ver seus bebês, ou se elas queriam que entrássemos, foi provocador de grandes incômodos e angústias. Perceber os olhares aflitos e assustados de algumas mães dentro daqueles espaços foi desestruturador. A partir disso, comecei a questionar sobre minha relação com as pessoas que estão naquele ambiente e nos possíveis ambientes que poderei me encontrar enquanto profissional. Percebendo que se deve chegar com cuidado e atenção nesses espaços que não possuo vínculo. Levando em consideração que aquela situação pode ser um momento intrigante para as pessoas daquele lugar, e que naquele lugar eu é sou a estranha, a não pertencente. E que por isso, se faz importante a aproximação e a vinculação. Porém, a sensação ao estar naquele lugar, daquela forma, foi de invasão. Percebi que estar ali, junto a um grupo de estudante, estava invadindo a privacidade e o limite de outros e que estes outros não foram avisados. Percebi, então, o quanto estamos nos locais como invasores e o quanto estamos objetificando os sujeitos que nos rodeiam. Utilizando as pessoas como coisas ou como objetos, seja de pesquisa ou de intervenção, mas esquecendo de que ali também existe humano, existe dor, amor e sabor. Diante disso, percebo que a forma como nos colocamos nos espaços deve ser sempre pensada e repensada. Buscando uma forma de respeitar quem está ali, sem romper o limite do que nos é permitido, tanto o limite da fala, quanto o do corpo ou o do olhar. Parece-me que um olhar atento e sensível para essas ações é o disparador para a construção de um vínculo. Assim como dar atenção ao olhar dos sujeitos é também dar atenção à fala do mesmo e ao que para ele é importante.  Percebendo com isto, que tudo o que ele diz de peito aberto e tudo que estou ouvindo é o que, de fato, ele está vivendo.