Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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FISIOTERAPIA OBSTETRICA NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EBSERH DOURADOS – MS
ANGELA A N RIOS, Amanda Jorge Stefanello, Renata Vidigal Guimarães, Adriana Tresso, Sandra Juliana Soares Santos, Maria de Fátima Brito, Aline Decari Marchi

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: No ciclo gravídico-puerperal, a percepção do corpo se altera em períodos delimitados pelas diferentes funções exigidas no processo. A assistência da gestante no parto abrange a incorporação de um conjunto de cuidados, medidas e atividades que têm como objetivo oferecer à mulher a possibilidade de vivenciar a experiência do trabalho de parto e parto como processos fisiológicos, sentindo-se protagonista deste processo. O corpo no trabalho de parto precisa ser passivo, receptivo e ativo. Passivo para aceitar a manifestação fisiológica das contrações e da dilatação e não lutar contra ela; receptivo para vivenciar as sensações novas que emergem do processo de trazer um bebê ao mundo sem fugir delas; ativo para usar habilidades motoras e posturais que facilitam a flexibilidade e a adaptação do corpo, a elasticidade do períneo, o parto normal e a ampliação da consciência. A inserção do profissional fisioterapeuta na assistência ao trabalho de parto, parto e puerpério constitui-se como um avanço na qualidade do atendimento multiprofissional e atende às recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde de que sejam disponibilizados métodos não-farmacológicos de alívio da dor para gestantes em trabalho de parto. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Desde a inauguração, a maternidade do HU-UFGD tem a inserção do fisioterapeuta na equipe multiprofissional. O trabalho do fisioterapeuta neste cenário é o de promoção da saúde, no sentido de aliviar as dores do trabalho de parto favorecer o aleitamento materno e apoiar a família. Fisioterapia no acompanhamento ao parto vaginal: Na admissão da parturiente, após a avaliação médica e internação no pré-parto, inicia-se o acompanhamento com a fisioterapeuta como rotina de atendimento padrão. A função do fisioterapeuta é dar assistência ao período funcional do trabalho de parto: dilatação cervical e descida fetal no canal de parto. As condutas prescritas objetivam otimizar a dinâmica da atividade uterina; ampliar os diâmetros do estreito superior, médio e inferior da pelve na descida fetal; reduzir a duração da fase ativa do trabalho de parto e aliviar a dor das contrações uterinas. Os recursos terapêuticos utilizados são: orientação e apoio na deambulação; orientação na realização dos movimentos pélvicos; orientação da postura materna durante a contração uterina e no período expulsivo; exercício respiratório; aplicação de recursos não-farmacológicos de alívio da dor como termoterapia, massoterapia e terapia manual; orientação do acompanhante quanto à massagem de alívio e apoio à parturiente. Fisioterapia no acompanhamento à cesariana: Após a cesariana, a paciente pode ser atendida pela fisioterapia. São condutas do fisioterapeuta no pós-operatório imediato de cesárea: posicionamento de membros inferiores com uso de coxins, exercícios passivos de membros inferiores e posicionamento e auxílio ao aleitamento materno. Fisioterapia na internação prolongada de gestantes de alto risco: Em caso de internação prolongada por gestação de risco, a paciente pode ser atendida pela fisioterapia mediante solicitação da equipe médica. São condutas da fisioterapia na internação de gestantes de alto-risco: orientação de deambulação e exercícios específicos; exercícios no leito para pacientes com restrição de movimento; drenagem linfática manual em caso de edema; massagem de alívio em caso de dores musculoesqueléticas; Fisioterapia no alojamento conjunto: O suporte clínico ao aleitamento materno no puerpério imediato é uma das condutas de maior relevância para o sucesso na amamentação. A fisioterapeuta no alojamento conjunto trabalha com orientações de posicionamento e pega adequados a fim de se evitar complicações mamárias e algias em região cervical e membros superiores devido ao posicionamento inadequado, técnicas de massagem e ordenha do leite materno se necessários para alívio de complicações mamárias, além do aconselhamento sobre os benefícios da amamentação e como superar as possíveis dificuldades. EFEITOS DECORRENTES DA EXPERIÊNCIA: Orientações de visualização e relaxamento promovem a diminuição do tônus dos músculos esqueléticos, evitando que a tensão interfira no aumento da dor durante as contrações uterinas no trabalho de parto. Quando associados à terapia manual permite que as mulheres reconheçam as partes do corpo e suas sensações, principalmente as diferenças entre relaxamento e contração, assim como as melhores posições para relaxar e utilizar durante o trabalho de parto. A liberdade de posicionamento e movimento é de grande relevância durante o trabalho de parto. No momento da contração, a fisioterapeuta orienta adotar posturas específicas para aumentar os diâmetros pélvicos, considerando a evolução da descida do bebê, respeitando a posição que lhe seja mais confortável permitindo um relaxamento maior para os músculos dorsais e assoalho pélvico. A bola suíça estimula movimentos espontâneos e não habituais, permite que a mulher movimente a pelve em toda a sua amplitude, o que ajuda na rotação e na descida fetal podendo ser adotada em qualquer estágio do trabalho de parto. A cadeira de balanço (cavalinho) permite uma posição de descanso para o tronco, com o sacro em posição de nutação favorecendo assim a descida do bebê a partir do estreito pélvico médio. A postura de cócoras posiciona o sacro em contra-nutação, aumentando o diâmetro pélvico inferior, sendo indicada no período expulsivo. Os exercícios respiratórios têm por objetivo auxiliar as mulheres no controle das sensações das contrações durante o trabalho de parto. O foco na respiração promove o relaxamento, a concentração, diminui os riscos de trauma perineal no momento expulsivo e melhora a oxigenação sanguínea da mãe e do feto. A massagem, a hidroterapia pode ser utilizada através de banhos terapêuticos com água em temperatura de morna a quente. Com o relaxamento induzido pela água, a parturiente experimenta menores níveis de dor, o que resulta em redução da ansiedade e maior liberação de ocitocina e endorfina, sendo este um dos recursos preferidos pelas parturientes, especialmente em estágios mais avançados do trabalho de parto. A avaliação pós-natal é realizada dentro das primeiras 24 horas, o fisioterapeuta avalia a mãe para determinar as suas necessidades prioritárias no manejo do aleitamento materno. Com as ações desenvolvidas no alojamento conjunto, observou-se menor índice de uso de leite artificial no período de internação, maior aceitação da mulher para manter a lactação, participação ativa do acompanhante no apoio à puérpera e menores índices de complicações e traumas na mama puerperal. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As relações interpessoais positivas aliadas aos conhecimentos específicos do fisioterapeuta como da anatomia, fisiologia, cinesiologia, bem como da constituição familiar qualifica este profissional para a atenção às gestantes e nutrizes. Todos os procedimentos utilizados mostram-se na prática clínica que contribuem para evolução do trabalho de parto e estímulo ao aleitamento materno, porém não foram avaliadas cientificamente as interferências nos desfechos perinatais para esta população. São necessários estudos randomizados para esclarecer e fortalecer o papel do fisioterapeuta na obstetrícia. A satisfação com a experiência do parto é um construto complexo e multidimensional, que pode variar de acordo com a população atendida, suas expectativas e orientações recebidas ao longo do pré-natal. Porém, a qualidade da relação cuidador-paciente e o suporte oferecido para a mulher e seu acompanhante, respeitando sua individualidade e envolvendo-a na tomada de decisões tem se mostrado como fatores preponderantes na satisfação da mulher com seu parto.

Palavras-chave


obstetrícia; parto humanizado; fisioterapia

Referências


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