Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A SAGA PELA SAÚDE PÚBLICA: mobilização comunitária para a XV Conferência Nacional de Saúde
Vanessa Calixto Veras Sanca, Pedro Alves de Araújo Filho, Maria José Melo Ramos Lima, Larissa Alves Alexandre Moliterno, Lucimar Bóh Barbosa, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Lucia Conde de Oliveira, Luciana Mickaelli King

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


INTRODUÇÃO: A edificação do Sistema Único de Saúde (SUS) reconfigurou a política de saúde no país e trouxe mudanças significativas na estruturação dos serviços, além de instaurar uma proposta de democracia participativa como fundamento para a gestão, a partir da criação de mecanismos de participação e controle social, instituídos na Constituição Federal de 1988 e regulamentados na Lei 8142/90. As conquistas acumuladas são acompanhadas de grandes desafios com vistas a efetivar a integralidade da atenção. As conferências temáticas se inserem nesse contexto como possibilidade de problematização da consolidação dessa proposta de saúde pública. O objetivo do presente trabalho consiste em relatar uma parceria ensino-comunidade para a mobilização e debate em torno da XV Conferência Nacional de Saúde. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A experiência foi estruturada a partir do processo de articulação, mobilização e parceria do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPSAC) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e uma rede de movimentos sociais (Rede DLIS) situada na periferia do município de Fortaleza-CE, no denominado Grande Bom Jardim. O Grande Bom Jardim está situado na área administrativa da Regional V, no sudoeste do Município, composto por 5 bairros, com uma população de 204.281 mil habitantes (Censo 2010 IBGE). Os bairros que integram a região estão entre os mais pobres e com a mais baixa renda per capita da capital, o IDH é baixo não passando de 0,5 considerando todos os bairros. A cobertura e o acesso aos serviços e políticas públicas são insuficientes e difíceis que, somados ao perfil epidemiológico, elevado grau de vulnerabilidades e preocupantes determinantes sociais, tornam mais complexa a situação de saúde local. Produzir vida e saúde, em sua concepção ampliada, nesse lugar significa atravessar à luta por direitos de cidadania e condições dignas de viver. A Rede de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim – Rede DLIS é uma instância de articulações de lutas, que congrega organizações da sociedade civil, envolve 61 entidades e movimentos, que demandam questões específicas de cada bairro e consensuam atuações no que diz respeito ao território e à cidade. Essa atuação comunitária em rede teve início em 2003 e vem atuando até hoje no processo de diagnóstico, planejamento e monitoramento de políticas públicas de efetivação de direitos humanos nos cinco bairros do Grande Bom Jardim. Como parte dessa rede, em 2013 deu-se início a ações de monitoramento dos serviços de saúde, com a posterior constituição de uma comissão de saúde composta por moradores, conselheiros e profissionais de saúde que integram a Rede DLIS. Esta atua no monitoramento dos postos de saúde instalados, de equipamentos de saúde em construção, do funcionamento dos conselhos locais e acolhendo demandas no campo da saúde na região. METODOLOGIA: A oficina foi realizada em abril de 2015 na sede da Rede e contou com a participação de moradores e conselheiros locais de saúde da região do Grande Bom Jardim. A atividade consistiu em quatro momentos: 1. Teve início com a acolhida através da dinâmica dos cumprimentos para uma apresentação coletiva dos participantes. 2. O momento posterior foi destinado aos informes e repasses da agenda de luta pelo direito à saúde, desenvolvida pela Rede DLIS; 3. A terceira etapa destinou-se a uma roda de conversa sobre a XV Conferência Nacional de Saúde, cujo tema será: Saúde Pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: “Direito do povo brasileiro”. Assim como, os informes sobre as Pré-Conferências Regionais de Saúde como preparatórias para a 7ª Conferência Municipal de Saúde de Fortaleza; finalizando essa etapa com a elaboração de um plano de ações; 4. Ao final, foi realizada avaliação da oficina. RESULTADOS: Em relação aos eixos temáticos propostos para a conferência, o tema de maior interesse foi “participação e controle social”. As problemáticas citadas que envolveram esse tema foram agrupadas em três situações-problema: 1. desarticulação dos conselhos locais e regional de saúde; 2. gestores que não respeitam as deliberações dos conselhos; e 3. desmotivação para a participação social. Apontaram o descomprometimento de alguns conselheiros e a falta de formação como possíveis causas para essa desmotivação. A partir disso, foi construído um plano de ações para o enfrentamento das situações-problema elencadas. Para a primeira foi apontado como ações: revitalização dos Conselhos Locais; capacitação dos conselheiros; tensionamento do Conselho Regional sobre o funcionamento dos Conselhos Locais, oficializado através de uma carta de reivindicação. No que se refere a segunda situação-problema, foi proposto: mobilização da comunidade e manifestação sobre os problemas de saúde, um ato público para dar visibilidade aos problemas; participação do encontro das Comissões de Direitos Humanos e da Saúde da Câmara Municipal de Vereadores com representantes da comunidade. Para a resolução da terceira e última situação: momentos formativos sobre o papel dos conselhos de saúde e o ser conselheiro nas unidades de saúde e espaços comunitários, como forma de empoderamento da comunidade e profissionais de saúde sobre a importância do controle social; realização de salas de espera nas unidades de saúde sobre a temática participação e controle social para mobilização da comunidade; propor a realização de reuniões dos conselhos locais de saúde em horários e locais que garantam e facilitem a participação da comunidade; e realização da articulação com outras redes comunitárias, conselhos inter-regional e ou movimentos sociais que defendam o direito à saúde. Para finalização da oficina, foi realizada avaliação do processo vivenciado e como essa atividade os afetou. Foram distribuídas tarjetas de papel para que cada um escrevesse uma palavra ou frase que consideraram relevantes para encerrar o momento. Posteriormente, o material foi organizado em painéis para melhor visualização. O produto dessa experiência foi sistematizado em um relatório entregue a comissão organizadora da Conferência Municipal de Saúde de Fortaleza e foi apresentado no formato de cordel na disciplina Seminário Temático I – Saúde Coletiva e SUS do PPSAC da UECE. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Foi possível inferir que apesar das dificuldades instauradas há ânimo para continuar a luta pelo direito à saúde pública, os participantes acreditam na importância de revitalizar os conselhos locais de saúde e a articulação com outros movimentos sociais mostrou-se necessária para esse processo. Para a defesa do SUS não basta à formalidade administrativa da participação. Mas, foi ressaltado que os conselhos exercem ainda tensionamento que contribuem para a melhoria das ações e serviços de saúde. A referida experiência oportunizou o encontro entre atores sociais e estabeleceu diálogos importantes para o fomento à participação nas conferências de saúde e instâncias deliberativas do setor. Além disso, representaram a possibilidade de se estimular a criação de espaços coletivos de debate, capazes de propiciar análise do contexto de saúde local e dos serviços ofertados, para efetivar e qualificar o exercício do controle social.  

Palavras-chave


Participação Social; Controle Social; Redes Comunitárias