Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O OLHAR DA TERAPIA OCUPACIONAL AO ADOLESCENTE NA AMBIÊNCIA ESCOLAR
Alessandra Pacheco Braga, ANGELA MARIA BITTENCOURT FERNANDES DA SILVA, NOELLE PEDROZA SILVA, SAMARA CRISTINA ROSA DE LIMA

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


INTRODUÇÃO: A adolescência é um período do desenvolvimento humano, de transição de criança para fase adulta. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) define a faixa etária adolescente entre as idades de 12 anos completos aos 18 anos. Nesta fase do desenvolvimento o adolescente passa por várias mudanças inerentes a sua vontade, de ordem biológica, física e psíquica. São transformações no corpo, na fala, no comportamento. Essas mudanças são gradativas e muito singulares a cada ser humano. Ações e reações comportamentais que diferem a cada grupo que este adolescente está inserido, podendo ter comportamento afetuoso no grupo familiar e agressivo no ambiente escolar ou vice-versa. O primeiro por se tratar do coletivo, o adolescente sofre influência de seus pares na escola, na família e comunidade, requer atenção redobrada a este ser humano em fase de transição adolescente/jovem/adulto (a), pois, é no ambiente escolar que este adolescente está livre no seu pensar com seus pares. Muito se fala dos jovens que queremos para sociedade na perspectiva do adulto que se deseja para o futuro do país, cabe um olhar cuidadoso às problematizações das temáticas de gênero, sexualidade, étnico-racial, religião, violência, drogas. Nesse sentido a Terapia Ocupacional é uma profissão de nível superior que tem como meta estudar e cuidar pelo fazer humano, respeitando e explorando sua práxis, ela cuida pelo fazer, encontra o ser e favorece o bem estar do seu cliente, sendo a ciência que estuda e analisa a atividade humana. No campo do saber é conhecedor do comportamento natural desta faixa etária, sendo agregadora de valores a equipe escolar, estimulando o pensar em crescimento para o conhecimento, norteando a curiosidade típica desta faixa etária, ao identificar, ele interferiu em qualquer alteração nas ocupações da criança e auxilia no processo de aquisição ou de recuperação de atividades que são necessárias para o seu bem estar. OBJETIVO: Compreender a história de vida de seus colegas a partir da sua; respeitar as diferenças (gênero, etnia e costumes) das famílias, grupos e povos; Desenvolver habilidades sociais; favorecer e conscientizar o aluno de sua cidadania e a conscientização da valorização de si. METODOLOGIA: Pesquisa de cunho qualitativo por ser um meio de produção de conhecimento que não busca mensurar, medir, mas sim, compreender e buscar explicações a valores e significados num meio social. Neste tipo de pesquisa, centra-se em levantar todos os elementos que possam contribuir para a compreensão e explicação do que se está investigando e, neste processo, “as subjetividades do pesquisador e daqueles que estão sendo estudados são parte do processo de pesquisa” (FLICK, 2004, p. 22). Assim ao se entrar na escola com a proposta de elaborar um projeto terapêutico ocupacional que atendesse as particularidades do público da adolescência, intervimos. Portanto procurou-se responder a seguinte questão: Como desenvolver um projeto de mediação sociocultural para a adolescência de forma compartilhada entre profissionais da escola, alunos e terapia ocupacional, cujo foco é identificar os conceitos de violência, homofobia, gênero a partir da Terapia Ocupacional? Nesse sentido, utilizou-se para coleta de dados, oficinas de estímulo sócio afetivas, as quais tinham como meta promover o desenvolvimento cognitivo, discutir valores étnicos culturais. Os dados foram obtidos em rodas de conversa, e pela técnica de grupo focal que se caracteriza pela coleta de dados originalmente proposta pelo sociólogo Robert King Merton (1910 - 2003) com a finalidade de obter respostas de grupos, a textos, filmes e questões. A escuta cautelosa em grupo ou individual, realizando recortes positivos para o desenvolvimento psicossocial dos adolescentes como vista a compreender a visão dos alunos quanto a homofobias, violência física e psíquica. Desta maneira, conforme estudo de Gomes (2005, p. 179) o grupo focal favoreceu, aos alunos, externarem seus sentimentos, opiniões e reações que resultariam em novo conhecimento. Para análise dos dados optou-se pela a de conteúdo de Bardin (1977), onde a autora se aprofunda na questão do método e das técnicas, respectivamente, esclarecendo que esta se divide em: a organização; codificação de resultados; categorizações; inferências; e, por fim, a informatização da análise. Ocorreu a preocupação e o compromisso ético sobre a participação e envolvimento dos sujeitos da pesquisa, bem como, na produção do documento (TCLE) para que os pais e os alunos pudessem entender a intervenção e autorizá-la. RESULTADOS: Trata-se de resultado preliminar da pesquisa, cujo foco é compreender como os alunos enfrentam as diferenças dentro da sala de aula. Participam dessa pesquisa alunos de 6 ª a 9ª série do ensino fundamental de uma escola na zona oeste do Rio de Janeiro. Foram atendidas 8 turmas com média de 28 alunos por turma, havendo pouca repetição de turma. As oficinas ocorrem uma vez por semana, com duração de 45 minutos, onde são abordados assuntos ligados a sentimentos e a comportamentos dos alunos frente ao seu viver. Os dados coletados são obtidos por escrito, verbais e pela linguagem corporal. Já participaram desse projeto alguns professores que não interferiram nas dinâmicas, enquanto outros se retiraram do projeto. O que demonstrou no segundo grupo que alunos se fecham e não verbalizam o que realmente querem expor em relação a seu modo de ver e sentir as coisas. Questões referentes à escola, não são veiculadas nas oficinas, pois sua meta é identificar as histórias e as experiências de vida, de cada aluno. Com o material obtido na roda de conversa e no grupo focal, optou-se por criar uma única categoria o medo, pois foi o sentimento mais expresso em todas as salas. O medo mais verbalizado entre os alunos foi o de perder a genitora, que segundo Winnicott (1983) o mesmo o vincula ao profundo sentimento de amparo, frente às adversidades sofridas ou percebidas pelos alunos em seu ambiente familiar e do seu entorno. Para esse pesquisador o medo tem percorrido um caminho de apropriações de sentido antes de chegar ao campo da saúde, mas como fenômeno social. Palavras como “ficar sem minha mãe é a ideia que mais me atemoriza”, ou “Já perdi muitas coisas, mas acho que nada se compara a perder uma mãe” ou “Se perder minha mãe eu morro”. Ao serem questionados sobre esse sentimento, os alunos traduziram nas seguintes palavras: segurança, amparo, cuidado, carinho. Portanto as oficinas de Terapia Ocupacional têm oportunizado aos alunos verbalizarem e analisarem seus sentimentos, porém para alguns ainda é muito difícil entender o que é sentimento. CONCLUSÃO: Faz-se necessário dar continuidade a essas oficinas para que os alunos consigam interpretar as avalanches de sentimentos e comportamentos que desabrocham nesses momentos.

Palavras-chave


terapia ocupacional, adolescente, emoções, medo

Referências


BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Portugal, Lisboa, Presença, 1977.

GOMES, A. A. Apontamentos sobre a pesquisa em educação: usos e possibilidades do grupo focal. Ecos – Revista Científica. São Paulo, 2005.

FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004.

SATO, Leny. Pesquisar e Intervir: encontrando o caminho do meio. In: CASTRO, L. R de e BESSET, V. L. (Orgs.) Pesquisa-intervenção na infância e juventude. NAU: Rio de Janeiro, 2008

WINNICOTT, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artmed (Trabalho original publicado em 1964; respeitando-se a classificação Huljmand, temos 1965b)