Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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De jovem para jovem: SPE no currículo médico, relato de uma experiência de sucesso
Socorro Andrade de lima Pompilio, Iane Franceschet de Sousa, Lígia Monteiro Albertini Ayach, Sônia Mara Alexandria Ferreira, Suellem Luzia Costa Borges

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


No intuito de minimizar as vulnerabilidades sociais entre adolescentes e jovens, foi lançado em 2003, o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas, cujos objetivos são: contribuir para a proteção e promoção dos direitos sexuais e direitos reprodutivos de adolescentes e jovens; contribuir para o enfrentamento da epidemia de HIV/AIDS entre adolescentes e jovens escolares; fomentar a participação e o protagonismo de adolescentes e jovens; ampliar o debate sobre promoção da saúde, gênero, diversidade sexual, relações étnico-raciais, drogas, entre outros temas, por meio de ações integradas entre os setores de saúde e educação. O SPE se constitui como uma iniciativa integrada dos Ministérios da Saúde e da Educação, com apoio do Unicef, Unesco e UNFPA. Sua gestão é descentralizada e define responsabilidades para as três esferas de governo (federal, estadual e municipal) com a constituição de grupos de trabalho intersetoriais. Participam desses grupos representantes das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e de Educação, jovens, organizações da sociedade civil, universidades e outros parceiros locais. Em 2007, o SPE passa a integrar o Componente II do Programa Saúde na Escola (PSE). Em relação à forma de abordar os escolares, respeitar os saberes e partir da realidade deles é apontado como caminho, uma postura a ser adotada por todos os atores envolvidos, educandos, professores, funcionários. É preciso interpretar o modo de viver, refletir sobre práticas que melhoram a vida, para atingir essa reflexão é necessário problematizar, democratizar, empoderar os sujeitos a partir de si mesmos para a realidade. A abrangência do Programa SPE revela em suas propostas de intervenção uma coerência política pedagógica do processo de educação emancipatória. A metodologia usada no desenvolvimento da proposta do Programa SPE cunha uma trajetória de participação construída a partir da autonomia do sujeito, reflexão da sua própria realidade no que se refere à promoção de cidadania. Frente à necessidade de desenvolver a proposta, o acadêmico se vê imerso a um grupo de escolares multiplicadores e depende dele a condução como facilitador do processo, requisitando habilidades como: saber ouvir e se fazer ouvir, promover a articulação de ideias, conviver com as diferenças, respeitar opiniões, saber conviver, ser capaz de estabelecer vínculo, ser aberto para o diálogo e algumas outras habilidades burocráticas em relação à organização dos encontros. Dessa forma, o presente trabalho relata a experiência vivenciada por estudantes do curso de Medicina da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP) durante a aplicação da metodologia do Programa SPE para adolescentes e jovens de escolas públicas do município de Campo Grande/MS. Descrição da experiência A UNIDERP oferece um curso de graduação em Medicina com um currículo inovador, capaz de responder a essa exigência e aos desafios contemporâneos. Um aspecto central do curso é a sua vinculação com a Estratégia Saúde da Família, onde os acadêmicos desenvolvem o módulo longitudinal do PINESC (Programa Interinstitucional de Interação Ensino-Serviço-Comunidade). Assim, desde o princípio de sua vida acadêmica até o término, tem a oportunidade de conhecer o cotidiano dos serviços de saúde, em especial o da atenção primária. Em 2015, o SPE foi executado pelos segundanistas do Curso de Medicina, incorporado como componente curricular do PINESC para cumprir os objetivos relacionados à saúde do escolar/adolescente. As atividades do SPE foram planejadas em duas etapas: (1) capacitação dos acadêmicos de Medicina na metodologia do SPE e (2) multiplicação do SPE para o público escolar. Conforme as recomendações do Ministério da Saúde para o planejamento das ações, as capacitações dos acadêmicos foram executadas nos temas de maior relevância local. Para a segunda etapa, já no processo de multiplicação entre os escolares, foi realizado o levantamento da demanda local sobre os temas a serem trabalhados. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Na primeira etapa foram capacitados cento e vinte três acadêmicos segundanistas de Medicina, com um curso de carga-horária de 12 horas, que ocorreu durante os meses de março até maio de 2015. Durante a capacitação, os acadêmicos tiveram oportunidade de vivenciar a metodologia proposta pelo SPE, participando das oficinas ministradas por uma equipe de cinco docentes da Uniderp, os quais já haviam participado de um processo de formação prévio. A segunda etapa ocorreu de agosto a novembro de 2015, onde os acadêmicos efetuaram as capacitações do SPE para os escolares, em quatorze escolas públicas do município de Campo Grande, sendo cinco estaduais e nove municipais. Foram capacitados aproximadamente quatrocentos escolares do ensino fundamental II e ensino médio da rede pública de Campo Grande, nos seguintes temas: Álcool e outras drogas; Gêneros; Prevenção de DST, HIV e Aids; Diversidades sexuais; Sexualidade e Saúde Reprodutiva. A escolha do tema foi feita em parceria com a direção da escola, conforme as necessidades existentes. As oficinas foram realizadas a partir da série de fascículos do Ministério da Saúde Adolescentes e Jovens para a Educação entre Pares, do Projeto SPE, publicada em 2011. O trabalho com os temas desenvolvidos foi realizado através de uma abordagem pedagógica que incluiu informação, reflexão, emoção, sentimento e afetividade. Ao final da primeira etapa foi oportunizada uma avaliação das oficinas desenvolvidas onde não era preciso a identificação do acadêmico. Os mesmos avaliaram em sua maioria cerca de 90% como muito positiva as oficinas, respondendo afirmativamente que adquiriram conhecimento e que os mesmos serão incorporados na vida profissional e pessoal. Em relação às questões abertas (Identifique aspectos importantes em sua opinião sobre a proposta SPE; Deixe sua sugestão para o aprimoramento do processo) para avaliar qualitativamente as oficinas apontaram o SPE como estratégia que favorece a quebra de preconceito, importante atividades para lidar com os adolescentes, etc. Em relação às sugestões, uma parte dos que responderam sinalizam desejo de maior objetividade das atividades: “A capacitação para o curso de medicina precisa ser mais objetiva. É importante conhecer o programa, saber lidar com adolescentes, mas para um curso da área da saúde não há necessidade de se focar tanto em atividades pedagógicas” (acadêmico 2). Envolver os acadêmicos com atividades diferenciadas ainda consiste em um desafio para os docentes, embora o número de acadêmicos que expressasse descontentamento fosse reduzido é importante oferecer atenção para esses dados. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A educação médica vem passando por muitas reformulações no que tange à humanização do cuidado e uma formação mais holística. Inserir projetos dessa natureza como o SPE vem ao encontro das DCNs no intuito de fomentar profissionais mais ativos e resolutivos, capazes de promover o diálogo e autonomia das pessoas, princípios norteadores do SPE. Os facilitadores dessa mediação entre as necessidades acadêmicas e o desejo da população e do serviço em saúde, são os docentes da Instituição de Ensino Superior. Acreditar no papel transformador da educação, sensibilizar os acadêmicos para que se corresponsabilizem com a população do território onde estão inseridos faz parte da tarefa docente. O jovem aprendiz está tanto do lado de quem propõe a atividade, bem como do lado de quem aceita a proposta, ambos caminhando rumo a novas experiências e na busca de conhecimentos que promovam a saúde, a diversidade e a cultura da paz.

Palavras-chave


Educação Médica; Programas Nacionais de Saúde; Humanização da Assistência  

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