Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Diário de Campo do PNASS: A vivência e experiência em um hospital para população indígena em Dourados/MS
Ana Cecilia Demarqui Machado, Débora Dupas Gonçalves do Nascimento

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


Durante a experiência como avaliadora do Programa Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde (PNASS), foi possível evidenciar diversas práticas de humanização que chamam atenção pela simplicidade, eficiência e singularidade. Em um hospital conveniado com o Sistema Único de Saúde (SUS) no município de Dourados/MS, a expediente do hospital era direcionada para o atendimento da população indígena local (Kaiuás, Guaranis, Xavantes e Kadwéus). Neste contexto, e como forma de preservar a sua cultura e estabelecer laços de confiança com esta população, alguns costumes (como um espaço destinado a ascender uma fogueira no sol nascente e o acesso livre dos pacientes e familiares a todas as dependências do hospital) foram incorporados na rotina e funcionamento do hospital. Foi possível observar o quão distante a avaliação prescrita estava da realidade deste serviço de saúde, uma vez que as questões contidas no formulário do PNASS não contemplavam as especificidades do local. Devido à carência de recursos locais e inexistência de outros órgãos, este hospital também abriga crianças, em decorrência do abandono familiar após o nascimento, e oferece refeição para todos os membros de família dos pacientes hospitalizados. Boa parte dos funcionários utiliza a língua Guarani nos atendimentos a fim de melhor compreender as necessidades e estreitar o vínculo. A atenção centrada no paciente e em seus costumes e crenças ficam refletidas na dinâmica do serviço que mantém a todo tempo as portas dos apartamentos abertas, uma vez que os pacientes não precisam aguardar a alta médica para interromper a internação. Meu diário de campo como avaliadora do PNASS neste local ganhou um novo sentido e especificidade, pois pude incorporar ricos detalhes, sentimentos e sensações a partir do que eu vi e ouvi. A avaliação tornou-se um momento de aprendizagem significativa do fazer saúde em consonância com as necessidades e singularidades daquele contexto. As contagiantes estórias, contadas pelos funcionários como relatos simples do cotidiano, marcaram esta experiência, e mostraram outro lado que nem sempre uma avaliação estruturada é capaz de captar e mensurar - o coeficiente humano e as práticas humanistas não estavam descritas nos manuais, atas e Protocolo Operacional Padrão (POP).

Palavras-chave


Assistência à Saúde; Cuidado; Vivência.