Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CRENÇAS E PRÁTICAS DE EDUCADORES NA SAÚDE INFANTIL: UM ESTADO DA ARTE
Andréa Leite de Alencar, Ana Cely Sousa Coelho, Brenda dos Santos Coutinho, Andreza Dantas Ribeiro, Iani Dias Lauer-Leite, Wanessa Hellen Serrão Moura

Última alteração: 2016-03-22

Resumo


APRESENTAÇÃO: O plano nacional de educação (PNE) estabeleceu objetivos para a garantia do direito a educação básica com qualidade. Segundo dados do Observatório do PNE, de 2012, o Brasil possui 23,5% de crianças de 0 a 3 anos e 82,2% de 4 a 5 anos na escola, despontando o que antes era de responsabilidade exclusiva das famílias agora é comum e parte significativa das funções dos professores. Para que as crianças disponham de seus direitos na educação infantil é valido que os educadores, além do compromisso com o desenvolvimento e aprendizagem, gere o diálogo com a saúde, sendo necessária a reflexão crítica sobre as informações que possuem sobre o processo saúde-doença das crianças brasileiras, para isso, a qualidade na formação desse profissional é indispensável. Deste modo, este estudo objetiva analisar as crenças e práticas dos profissionais da educação infantil na creche e pré-escola referente à promoção e prevenção em saúde a partir de publicações científicas das diversas áreas que abrangem o tema, pertencentes à literatura nacional para a identificação do pensar dos educadores brasileiros acerca desta questão. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, com o emprego do método da revisão integrativa, que possibilita agrupar as temáticas e os resultados obtidos nos estudos que trabalham o assunto. A revisão integrativa pressupõe fases que devem ser obedecidas para a elaboração da mesma, o estudo adotou essas etapas para a sua construção. O questionamento de base do trabalho foi: Quais as crenças e práticas docentes na educação infantil sobre a promoção e prevenção em saúde no ambiente escolar? Para o levantamento dos artigos na literatura, procedeu-se com a busca na Biblioteca virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Bases de Dados de Enfermagem (BDENF). Foram utilizados, para a seleção dos artigos, os seguintes descritores: “crenças e práticas”, “saúde escolar”, “educadores infantis”, “educação nutricional”, “saúde na creche”, “ações educativas” e “higiene na escola”. Os critérios de inclusão definidos para a escolha dos artigos foram: artigos publicados em português na íntegra, que retratassem o assunto referente à revisão integrativa, publicados nas bases de dados selecionadas, que contivessem em seus títulos e/ou resumos os descritores supracitados e disponibilizassem o acesso completo online, entre os anos 2000 e 2015. A partir da escolha dos critérios de pesquisa, foram eleitos 23 artigos que se enquadravam no estudo, atentando para as duplicações nas bases de dados, porém após a leitura minuciosa, 14 artigos compuseram a amostra final. A análise compreendeu a leitura e releitura dos artigos, e posterior preenchimento do instrumento de coleta dos dados. Em seguida, as produções foram organizadas pela similaridade de conteúdo com conformação empírica, estabelecendo-se duas categorias. RESULTADOS: A partir da definição dos critérios de inclusão, a estrutura de análise foi composta por dados inteiramente nacionais, com a seleção de 14 artigos, sendo 12 indexados exclusivamente na base de dados LILACS e 2 encontrados em ambas, LILACS e BDENF. Os anos de 2008 e 2013 foram os de maior contribuição para o estudo, correspondendo a 21,43% cada. Os periódicos de maior aporte, satisfazendo 57,14% do total foram: A Revista de Ciência e Saúde Coletiva, Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, Revista de Nutrição e a Revista Mineira de Enfermagem, cada uma concebendo 14,28% da amostra. Em relação à formação profissional dos autores, a enfermagem teve a maior representatividade com seis (42,86%) estudos. A partir da leitura das pesquisas foram estabelecidas duas categorias empíricas: Os Educadores e a saúde infantil e a capacitação do profissional da educação infantil em saúde. A maioria dos estudos abordados revela que as professoras de educação infantil não atribuem a promoção à saúde das crianças como uma responsabilidade, muitas vezes, conferindo à totalidade do encargo, somente aos pais, em especial as mães, ou não consideram a instituição de ensino como o principal meio de obtenção de informações sobre a saúde, aferindo o adoecimento das crianças a causas exteriores a creche ou pré-escola, resistindo em relação à avaliação do seu trabalho. Outras adotam uma atitude de aceitação ou conformismo em relação a alguns acometimentos na infância, admitindo que estes sejam decorrentes das fases de crescimento e desenvolvimento, assinaladas por descobertas. Porém, alguns estudos mostram que as educadoras consideram as atividades que vislumbrem a saúde da criança importante, como por exemplo, estarem vigilantes para a prevenção de acidentes domésticos, inserir na dieta das crianças uma alimentação saudável diversificada, com o consumo de frutas, legumes, verduras, atuar como um modelo social (teachermodeling) para as crianças durante as refeições e lanches. Entretanto, alguns confiam esta ação aos profissionais de saúde ou, então não cogitam realizar atividades educativas por relatarem a falta de condição do ambiente de trabalho. Alguns estudos mostram que os profissionais da educação, também expõem a seriedade de orientar e educar as crianças, seja no dia-a-dia ou através do lúdico, utilizando recursos como fantoches, desenhos e peças teatrais para promover saúde. Considerando o exposto, esses profissionais devem ser “conscientizados” do papel que desempenham como sujeitos ativos desse processo, pois é observada uma maior aderência dos educadores quanto à função de professor e da escola na promoção de hábitos saudáveis, quando alertados sobre a sua estima. Nos artigos analisados, também foi levantado que os profissionais carecem da orientação básica para melhor desenvolverem os trabalhos que fazem com a criança e, são conscientes de que, somente a vivência com os seus próprios filhos ou no cotidiano com o grupo infantil é que lhes dá um pouco mais de conhecimento, nesse caso, o empírico e senso comum. Sendo observada a deficiência no conhecimento das profissionais de educação infantil nas pesquisas é relevante a capacitação, para atingir um grau plausível de atenção à criança usuária de creche e pré-escola. Devendo ser incluído no currículo desses profissionais, tanto na formação, quanto na educação continuada, às múltiplas especificidades que possam interferir na saúde da criança, tendo os profissionais da saúde uma meta de oferecer uma parceria coadunada em princípios e ações com os do setor da educação, compartilhando a sua prática de cuidado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A maioria dos artigos que compuseram essa revisão foi de natureza qualitativa, nos anos de 2008 e 2013, com a maior participação da enfermagem. As categorias empíricas levantadas são complementares e mostra a principal abordagem dos estudos, a primeira reflete a crença da ausência de responsabilidade quanto à promoção da saúde infantil pelos profissionais e a resistência relacionada à avaliação do seu trabalho. A segunda mostra a prevalência do conhecimento empírico ou do senso comum na tomada de decisões por estes profissionais, ressaltando a necessidade do trabalho entre a saúde e a educação e a capacitação do professor na promoção e prevenção em saúde infantil.

Palavras-chave


crenças-e-práticas; saúde-escolar;educação-infantil

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