Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O NEGRO E O INDÍGENA: RESGATE CULTURAL E SUAS CONTRIBUIÇÔES PARA A SAÚDE
Sirlei Bortolini, Raquel Margarete de Avila, Juliano Paines Martins

Última alteração: 2015-12-14

Resumo


O Brasil é considerado o país com a formação populacional mais miscigenada e isto se deve as contribuições que os povos colonizadores nos deixaram. Podemos destacar duas etnias que desempenharam papel relevante na formação da cultura brasileira: os indígenas e os negros africanos. Sabe-se que os indígenas já habitavam nosso território bem antes da chegada dos portugueses e espanhóis enquanto que os negros africanos foram trazidos de seus países de origem para servirem como escravos. Ambos tiveram suas crenças e liberdades violadas a partir do movimento colonizador. Índios e negros sofreram a anulação de suas culturas para atuarem na colonização brasileira. Por décadas, estas duas etnias não foram consideradas humanas e tão pouco respeitadas pelas suas crenças, cultura e saber, eram somente utilizados nos trabalhos escravos e de grandes esforços. Nessa época as mulheres negras sofriam muito pelos maus tratos ou pela violência dos senhores, sendo usadas para o deleite dos mesmos e forçadas a se deitar com eles satisfazendo as suas volúpias sexuais. Com isso, muitas ficavam grávidas sem vontade própria e para solucionar o problema provocavam abortos por estarem grávidas dos patrões; outras eram obrigadas a forçar o aborto de seu filho querido para servirem como amas de leite para os filhos de seus opressores ou até optavam pelo aborto com o propósito de oferecer aos seus filhos uma vida digna, diferente daquela em que se encontrava. Com essa prática, muitas mulheres morriam ou enfrentavam muitos problemas de saúde. Essa realidade não está muito distante da situação atual, pois as mulheres negras da atualidade por enfrentarem muitos preconceitos possuem dificuldades em ter um emprego digno e rentável, e se estiverem grávidas essa situação se agrava ainda mais, por isso recorrem ao aborto para permanecer nas atividades produtivas. Em uma recente pesquisa do IBGE (2013) mostra que, o índice de aborto provocado pelas mulheres negras (3,5% das mulheres) é o dobro daquele verificado entre as mulheres brancas (1,7% das mulheres). Percebe-se que essa prática atinge seu maior número entre as populações negras, causado pelo enfrentamento de uma sociedade discriminatória. No Censo de 1980, os dados referentes à saúde indicavam que filhos de mães negras tem maior risco de adoecer e morrer. A expectativa de vida da população negra é de sete anos menor do que a da população branca, ou seja, a vida média do brasileiro branco é de 72 anos, enquanto a de negros é de 65 anos, mantendo esta estimativa desde 1940. Essa realidade é encontrada também no homem negro que devido aos preconceitos ocupa posições sociais de menos valia, devendo executar serviços braçais e insalubres, agravando seu estado de saúde e sua capacidade produtiva. Também verificamos esses perfis entre as tribos indígenas que foram sendo dizimadas por questões religiosas, de posses e por doenças infecciosas, mesmo sabendo que o índio não se deixou escravizar por muito tempo e devido a sua luta pela liberdade, foram considerados ”selvagens” e “não sociáveis”, porém ficaram sequelas sociais que perpetuam até hoje. Estimou-se que a população indígena do Brasil, no século XVI, era de 5 milhões de pessoas e segundo dados do IBGE 2015, atualmente restam em torno de 800 mil pessoas somente. Esse impacto foi proporcionado pelas mudanças de seus hábitos, pela imposição do cristianismo ou da colonização que fazia com que esse povo trabalhasse como escravos em serviços pesados. Muitos deles vieram a falecer pela perda da autoestima causada pela desestruturação social, econômica e dos valores coletivos ou por terem adquirido doenças que não tinham como ser tratadas pelas suas práticas curativas. A medicina indígena compreende que a doença e as patologias encontram-se no corpo, na mente e no espírito, mas é no corpo que se dão as manifestações dos espíritos. Os indígenas possuem especialistas na área da saúde que podem ser chamados de pajés, xamãs, benzedores, curadores, curandeiros. Atualmente, a medicina indígena é um recurso para a cura de enfermidades graves, quando foram esgotados os recursos científicos, porque lida, principalmente, com a fé. Da mesma forma, os negros através de sua cultura trouxeram benefícios para a saúde brasileira. Somos o segundo país do mundo mais povoado por africanos, estes, apesar de não terem conseguido preservar originalmente a sua cultura devido à repressão do escravismo, influenciaram fortemente na formação da cultura brasileira por meio da culinária, musicalidade, no teatro e na religião. Nas questões de saúde o povo africano teve uma menor contribuição, porém sabe-se que também utilizavam curandeiros, quimbandeiros, feiticeiros que eram chamados na ausência dos médicos itinerantes, que só percorriam de tempos em tempos as fazendas. “Os negros servem-se, em geral, de remédios baseados nas crendices que trouxeram da pátria, atravessando o mar, e que conservam zelosamente”, escreve o médico Johann Emmanuel Pohl, em 1818. Com o propósito de levar esse conhecimento para as classes educacional e da saúde, buscou-se dados que evidenciam os costumes do povo negro e indígena relacionando as expertises utilizadas e as práticas culturais aplicadas na cura, os quais geraram resultados positivos, para serem divulgados em âmbito educacional e da saúde. O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – NEABI do Instituto Federal do RS – campus Bento Gonçalves vem trabalhando esse tema junto aos alunos do instituto e com as demais escolas da região. Com isso, o presente trabalho objetiva demostrar uma pesquisa realizada pelos integrantes do NEABI do IFRS Campus Bento Gonçalves- RS em conjunto com o Programa das Plantas Medicinais do IFRS- Bento Gonçalves, na busca pelo reconhecimento étnico-botânico das plantas medicinais utilizadas pelos indígenas e afrodescendentes no cuidado à saúde. Em vista disso foi realizada uma pesquisa bibliográfica obtendo-se maior embasamento teórico, resgatando o uso e costumes desses povos na utilização dos meios naturais e das ervas fitoterápicas para a produção e manutenção da saúde levando para o meio escolar a contribuição que essas etnias proporcionaram para a formação de nossa sociedade. Por muito tempo a educação brasileira foi orientada a suprimir estas influências até chegar ao ponto da indubitável aceitação. A lei 10.639 foi sancionada em 2003 e institui o ensino da cultura e história afro-brasileiras e africanas e a lei 11.645 como lei complementar a lei 10.639, acrescenta o ensino da cultura e histórias indígenas estabelece o ensino da cultura africana e indígena não apenas como orientação para o combate a discriminação racial, mas como reconhecimento e valorização das matrizes na formação da cultura do povo brasileiro. Para nortear o cumprimento da legislação, o Conselho Nacional de Educação aprovou em 2004 e o Ministério da Educação (MEC) homologou as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para educação das relações étnico-raciais. Pelas diretrizes, o ensino deve ter três princípios: consciência política e histórica da diversidade; fortalecimento de identidades e de direitos; ações educativas de combate ao racismo e às discriminações. Buscando integrar a comunidade escolar e levar os conhecimentos práticos e da vivência usual procura-se com esse trabalho provocar reflexões sobre as multi influências, em especial as dos afrodescendentes e indígenas, que agregam conhecimentos culturais aos nossos costumes e junto com a comunidade científica traçar metas para haver uma sociabilidade de saberes a serem praticados para melhoria da saúde da população em geral, pois pensar em saúde é pensar em equidade e a diminuição de desigualdades.

Palavras-chave


negros, indígenas, culturas e saúde.

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