Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Panorama dos dados perinatais da população indígena da região de Dourados, MS
ANGELA A N RIOS, Liliane Ferreira da Silva, Márcia Cristina Pereira da Silva

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: A reserva indígena de Dourados é a mais populosa entre todas do Estado e possui três grupos étnicos diferentes que dividem as aldeias: guarani-kaiowá (denominados kaiowá), guarani-nhandéva (denominados guarani) e os terena, com uma população estimada de 14.680 habitantes. O serviço prestado à população indígena é de responsabilidade da SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena), executado pelo DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), através da sua unidade descentralizada denominado Polo Base de Saúde. A atenção básica está inserida no Subsistema de Atenção a Saúde Indígena ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS) com a responsabilidade formal e de toda estrutura ligada ao Ministério da Saúde. As ações de controle do pré-natal, parto e puerpério têm como principal objetivo acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem estar materno e neonatal. No modelo assistencial desenvolvido pelo Polo Base de Dourados, a condução do pré-natal é realizada principalmente pelas enfermeiras, por uma questão de identificação de gênero, levando em consideração os aspectos sociais e o respeito às questões de gênero e especificidades das etnias. A Rede Cegonha, instituída no SUS pela Portaria 1.459 de 24/06/2011 e fundamentada nos princípios da humanização, prevê as mulheres, recém-nascidos e crianças o direito ao acesso, acolhimento e melhoria da qualidade do pré-natal, transporte e vinculação da gestante à unidade de referência e assistência ao parto e nascimento. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O Grupo Condutor Municipal da Rede Cegonha (GCM-RC) de Dourados, que vem trabalhando desde 2011 para a qualificação da assistência materna e perinatal, em uma política de cogestão incluindo gestores, trabalhadores e usuários, concluiu que é urgente e necessária a implantação de um Centro de Parto Normal, nos moldes da Rede Cegonha, conforme a portaria n° 11 GM/MS, de 07/01/2015 para atendimento às parturientes de baixo risco, para efetiva melhoria na qualidade da assistência e redução da morbimortalidade materno-infantil, inclusive considerando as especificidades culturais da população indígena residente na microrregião de Dourados. Os objetivos da Rede Cegonha, segundo o Art. 3° da portaria 1.459, de 24 de junho de 2011 são: I - fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança de zero aos vinte e quatro meses; II - organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil para que esta garanta acesso, acolhimento e resolutividade. RESULTADOS E IMPACTOS - EFEITOS PERCEBIDOS DECORRENTES: Atualmente a população de mulheres indígenas em idade fértil (faixa etária de 10 a 49 anos) é de 4775 pessoas. De acordo com os aspectos culturais, após a primeira menstruação, a “menina mulher”, já está apta para o casamento e gerar filhos, ou seja, a gravidez na adolescência é tratada de forma natural e não é vista como um fator de risco (Gráfico 1). O nascimento é um evento natural. Porém o que se verifica ao longo do tempo é uma excessiva “medicalização” deste processo, sem que se verifiquem ganhos na qualidade da assistência e tampouco significativos redução dos índices de mortalidade materna e perinatal (Fonte: SESAI - DSEI Dourados). Apesar dos esforços empenhados para redução das taxas de cesariana na população em geral, temos acompanhado um aumento expressivo destas taxas dentre a população de mulheres indígenas (Gráfico 2). Segundo dados fornecidos pela SESAI desde 1963 a população indígena tem assistência obstétrica realizada em um hospital de pequeno porte situado na região da aldeia, com encaminhamento das complicações para o hospital de referência municipal.  (Fonte: SESAI - DSEI Dourados). A partir de 2011, com o início do serviço de atenção obstétrica no Hospital Universitário, houve um declínio no número de partos atendidos no antigo hospital, conforme apresentado no Gráfico 2, o que é justificado por uma questão multifatorial, que passa pela falta de profissionais dispostos e capacitados para o atendimento ao parto, inadequações na estrutura física e falta de equipamentos, bem como, conforme relatos obtidos nos diálogos com trabalhadores e usuários indígenas, a preferência por uma estrutura com disponibilidade de recursos tecnológicos na assistência ao parto, que é associado à segurança e acolhimento (Fonte: SESAI – DSEI Dourados). Os diálogos e os dados apresentados apontam para a necessidade de qualificar a equipe e a estrutura de assistência em um hospital de pequeno porte próximo à aldeia com perfil assistencial voltado para a população indígena. Há necessidade de reforma e de aquisição de equipamentos para ambiência, bem como de qualificação dos recursos humanos, com assistência conduzida por enfermeiras obstetras treinadas para o atendimento ao parto de baixo risco. A este modelo de assistência é dado o nome, segundo o Ministério da Saúde, de Centro de Parto Normal (CPN), onde é priorizado o atendimento humanizado e de qualidade para os partos de risco habitual e privilegiam a privacidade, a dignidade e a autonomia da mulher ao parir em um ambiente mais acolhedor e confortável e contar com a presença de acompanhante de sua livre escolha, no intuito de melhorar a assistência prestada ao parto das mulheres indígenas e consequentemente os indicadores de partos neste local. Os serviços de atenção obstétrica hospitalar (Casa de Parto e Hospital Universitário) devem estabelecer um protocolo de referência e contra-referência e compromisso para o aprimoramento dos processos de trabalho interinstitucionais para que a assistência seja fundamentada na qualificação, na humanização da atenção e da gestão, na redução de risco e respeito aos aspectos sócio culturais da população indígena. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar de ser um fenômeno natural e um evento fisiológico, o processo do trabalho de parto pode sofrer influências multifatoriais que o tornam passível de intervenções. É preciso considerar que o parto por cesárea é uma laparotomia que exige uma série de cuidados clínicos, técnicos e anestésicos e que se associa também a algumas complicações que devem sempre ser ponderadas antes da indicação, deve, portanto, ser decidido por critérios estritamente clínicos e obstétricos. A Organização Mundial de Saúde considera-se ideal a taxa de cesárea em torno de 15 a 20% para o total da população. A série histórica de partos na população aqui apresentada merece especial atenção dos gestores da saúde e dos produtores de material científico voltado para a saúde pública materno-infantil, haja vista a elevação expressiva da taxa de cesarianas com a mudança do local onde acontecem os partos. Mais do que identificar os fatores que motivaram as indicações de cesariana, é preciso buscar compreender qual o impacto e a percepção da assistência ao parto, seja ele natural ou cirúrgico, do ponto de vista dos diversos atores envolvidos: mulheres grávidas e puérperas, parteiras e rezadeiras tradicionais da aldeia, gestores e profissionais de saúde. Portanto precisamos desenvolver habilidades e sensibilidade, ouvindo o que o povo indígena fala sobre sua condição de saúde x doença, colocando-se como sujeito que aprende com o outro e, sobretudo respeitando suas diferenças culturais e garantindo ambiente favorável para um nascimento livre de riscos para a mãe e o filho.

Palavras-chave


saúde indigena; saúde da mulher; parto; obstetrícia

Referências


BRASIL, Portaria 371, de 07 de maio de 2014. Institui diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido  (RN) no Sistema Único de Saúde(SUS).

BRASIL, Portaria n° 1459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha.

BRASIL, Portaria Nº 11, de 07 de janeiro de 2015. Redefine as diretrizes para implantação e habilitação de Centro de Parto Normal (CPN), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), para o atendimento à mulher e ao recém-nascido no momento do parto e do nascimento, em conformidade com o Componente PARTO E NASCIMENTO da Rede Cegonha, e dispõe sobre os respectivos incentivos financeiros de investimento, custeio e custeio mensal.

DOURADOS, MS, Decreto Nº 1.981, de 18 de setembro de 2015. “Institui o Grupo Condutor Municipal da Rede Cegonha em Dourados”.

DOURADOS, MS. Parecer técnico do grupo condutor municipal da rede cegonha. Reestruturação do Hospital da Missão para atendimento de partos de risco habitual e habilitação como Centro de Parto Normal. 01 de abril de 2015.

MATO GROSSO DO SUL, Resolução N.º 066/SES/MS Campo Grande, 29 de agosto de 2014. Aprova as decisoes da Comissao Intergestores Bipartite Estadual. ANEXO I Plano de Ação Regional da Rede Cegonha de Mato Grosso do Sul. Atualização em agosto de 2014